terça-feira, 22 de março de 2011

Rio : quem estava no comando da repressão?


A prisão de militantes num protesto contra Obama não pode ser esquecida sob risco de um retrocesso democrático. O contexto de armação, com o lançamento de uma bomba incendiária atribuída aos militantes, que não foi captada por nenhuma câmera, mesmo tendo a embaixada americana dezenas delas, é sintomático.
A retirada dos direitos civis como fiança e habeas-corpus, arbitrariamente pelas autoridades cariocas, deixa no ar a submissão às autoridades americanas, num flagrande desrespeito à cidadania. Por fim o tratamento dispensado aos militantes presos, como o encarceramento em penitenciária, com raspagem de cabelos, traz a imagem dos maus tratos praticados pelos americanos tanto em Guantânamo ou Abu Graib, no Iraque, contra seus prisioneiros.

Não se tratou de tirar de circulação alguns suspeitos de um ato de agressão: as circunstâncias das prisões assumem ar de chantagem, de intimidação aos grupos que protestavam contra Obama. Pareceu um recado claro: quem está no comando não é o governo brasileiro, e se vocês vierem bater de frente, vão encarar gente que tem muita experiência em torturas no Afeganistão e no Iraque. E que não tem nenhum compromisso com a saúde de brasileiros.

O fato é que a passeata de protesto no domingo chegou a 200 m da Cinelândia e se dispersou sem que sequer fosse ouvida em frente ao Theatro Muncipal, e nenhum
dos manifestantes foi até o local mesmo com os acessos abertos. Houve protestos, mesmo pequenos, em frente ao teatro, mas as forças políticas que fizeram a manifestação reprimida na sexta não tentaram chegar ao local, possivelmente temendo novas armações ou represálias contra os militantes tomados como reféns presos em penitenciárias.

Ontem fiquei preocupado com a continuidade da postura desproporcionalmente agressiva da polícia no ato de lavagem das escadarias do Theatro Municipal para apagar os vestígios de Obama. Ostensivamente a PM ocupou a calçada do teatro, colocou seus veículos sobre a praça e o Batalhão de Choque tinha alguns de seus soldados com fuzis. O que pensavam que ia acontecer ali? Invasão do teatro? Até nas UPPs a polícia tem tratamento mais cordial com os cidadãos.

Afinal, quem estava no comando da repressão? Autoridades brasileiras se submeteram ao comando estrangeiro para atingir seus próprios cidadãos? Por que os militantes foram submetidos a tratos incomuns? Por que houve resistência à libertação dos presos, que tinham mandado de soltura desde ontem pela manhã e só saíram à noite? Cabe uma CPI na Assembléia Legislativa do Rio, para saber o que aconteceu, para que nunca mais se repita. O Rio precisa ter a sua Comissão da Verdade para mostrar que é livre o direito de manifestação, e que polícia é para defender os cidadãos, não para coagi-los.

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