sábado, 16 de julho de 2011

Lucro Brasil encarece veículos e outros bens

Virou um mantra : "os carros brasileiros são dos mais caros do mundo por causa da carga tributária, o tal do Custo Brasil". Não é essa a verdade. Nos últimos anos, houve redução da incidência de impostos sobre os veículos comercializados no Brasil, e mesmo assim pagamos o dobro do preço aqui por um veículo que exportamos para o México. Quem é mesmo o vilão?

Não é a escala de produção. Somos hoje o 4° produtor mundial de automóveis. Não é o salário : temos um dos menores para o setor, no mundo. Não é o imposto, que é alto mas não explica tudo. Sobra para a margem de lucro das montadoras, excessivo em relação ao praticado no resto do mundo. É o tal Lucro Brasil. Um executivo de montadora chegou a questionar : "por que baixar o preço se o brasileiro paga?".

O troco vem da pior maneira possível: os carros chineses estão chegando com boa qualidade, com acessórios e preço baixo. O resultado já é visível: os preços dos automóveis fabricados aqui começaram a cair. No início do ano procurava um carro com air bag, ar condicionado, direção hidráulica, e os preços mais razoáveis apontavam para R$ 40 mil. Hoje já vejo ofertas por R$ 36 mil.

Aí começa a política patronal a fazer os trabalhadores de instrumento para barrar as importações com o discurso da desnacionalização da indústria. Até passeata os operários fizeram noutro dia fechando a via Anchieta, em São Paulo, com o aval dos patrões, que usam como trunfo a ameaça de cortes de empregos e arrocho salarial para garantir seus privilégios. É terrível para o país a compra de veículos, mesmo fabricando similares por aqui e exportando, mas também não se pode fazer reserva de mercado para garantir os lucros escorchantes dos fabricantes, nem manipular trabalhadores para isso.

Um comentário:

  1. Pois é! As mídias todas despejam o custo nas relações dos governo com as empresas, na questão burocrático-tributária, mas não falam nos lucros dos empresários como fator encarecedor dos produtos. Claro que precisamos de melhor (mais inteligente) tributação, mas, segundo teu texto, o problema central da questão não é esse mesmo.

    A propósito (outro assunto): a "Ley de Médios" para o Brasil é uma questão sufocada na imprensa. Simultaneamente, políticos e lideranças do mundo do trabalho e estudantis também não ligam muito. O PHA (Conversa Afiada) toca bastante no assunto. Será que conseguiremos algum dia?

    Abraços!

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