A memória do oportunismo da esculhambação política do passado, somado à cultura de domínio do público por agentes privados (traficantes, drogados, milicianos), além da covardia que impede os "donos da verdade" de enfrentarem os problemas de frente e recorrerem a outras pessoas que consideram mais humildes para humilhar, como válvula de escape da própria incompetência, dá na situação abaixo.
Sábado, 10h. Entro num auto-atendimento bancário no Rio. Discussão entre um senhor e o vigilante que trabalha no local. Assunto: cobrança por uma pessoa de "tarifa" para parar o veículo no "estacionamento exclusivo" do banco. Nível de discussão chegando quase às vias de fato. Platéia na fila assistindo à cena sem se envolver. No final, o vigilante recomenda ao cliente que busque o gerente na segunda-feira para reclamar, pois ele não pode fazer nada. Exaltado, o cliente sai bufando, vai até o carro, dá um trocado ao "guardador" e vai embora.
Conversei com o vigilante sobre o ocorrido. Ele tinha perfeita noção do problema: as tais "vagas exclusivas" são, na realidade, o recuo no meio-fio para estacionamento de carro-forte, onde há placa "área de segurança bancária", que fica indisponibilizado ao público através de cavaletes permanentemente colocados. Logo em seguida começa a área de Zona Azul, estacionamento rotativo, que tem um guardador caracterizado regularmente com colete, bloco de talões, etc.
O que era o problema do cliente: um aproveitador qualquer, em busca de trocados, "presta o serviço" de remover o cavalete que isola a vaga, abrido-a para os carros pararem a 45% em relação ao meio-fio, deixando a traseira fora do alinhamento das demais, com riscos maiores de acidentes por se projetarem sobre a faixa de trânsito. Pelo "serviço", o "profissional de organização urbana" pedia um trocado aos clientes, interessados no seu "trabalho".
Moral da estória: Não existem as tais vagas, que também não seriam exclusivas de clientes, porque seriam públicas, se abertas. O "serviço" de remoção irregular dos cavaletes concorre com o ordenamento de vagas do Zona Azul, e o "profissional" não pode achacar ninguém, o que na prática acontece. O vigilante do banco não é autoridade competente para resolver o problema de natureza pública, já que as vagas não são da instituição, nem ele é da Secretaria de Ordem Pública para dar jeito na situação. O cliente não pode ser arrogante de cobrar do vigilante por uma irregularidade da qual está sendo cúmplice. Enfim, uma sucessão de erros onde falta razão e sobra estresse. É nessas que o sujeito leva um tiro, uma facada, por motivo fútil.
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