quarta-feira, 16 de maio de 2012

Dilma : O bonde sem freio que atropela a política

Ouvi falar de Dilma Roussef pela primeira vez em 2004, quando era ministra de Minas e Energia no governo Lula. Na época participava de um grupo de trabalho que estudou cadeias produtivas no ramo de biocombustíveis, e o biodiesel era a grande novidade cujo marco regulatório estava travado na burocracia do Congresso. Tudo indicava que levaria anos para a aprovação de legislação, mas em poucos meses o que se viu foi uma pressão poderosa de Dilma sobre os políticos e o projeto saiu. Gostei do estilo dela, do foco no objetivo, passando por cima da politicagem.

Agora presidenta, Dilma parece já ter tomado as rédeas do cargo e começa a atropelar as firulas políticas como um bonde sem freio. Nos últimos meses comprou brigas poderosas com a base aliada, demitiu ministros corruptos, retomou o poder sobre o Banco Central e forçou a redução da SELIC, enquadrou o BB e a CEF para reduzirem juros e quebrar o cartel dos banqueiros, bancou a CPI do Cachoeira e nomeou os membros da Comissão da Verdade. Dilma também vetará a anistia aos desmatadores no código florestal, comprando briga com criminosos ambientais poderosos.

O mesmo estilo vale para a Petrobrás, cuja presidente falou em aumentar os preços dos combustíveis e o ministro Mantega ontem disse que por ora não há nada previsto.  E não nos esqueçamos da mexida na poupança, que aconteceu corajosamente em meio a temores espalhados pelos banqueiros na mídia, de um possível preço político que pagaria em ano eleitoral. A sensação de termos uma direção forte é uma das causas dos 80% de aceitação de Dilma.

A mídia hoje estampa com prazer : "Dilma vaiada por prefeitos". Numa reunião com a Frente Nacional de Prefeitos, perguntada sobre a distribuição de royalties do petróleo aos municípios, Dilma foi curta e grossa : não vai discutir nada sobre os contratos já feitos, e disse aos prefeitos para lutarem pelo que se fizer daqui para a frente. Quem estava ávido para receber dinheiro atrasado sobre algo que ainda nem está na lei vaiou, tanto da oposição como da base aliada.

Se fosse Lula nesse episódio, falaria uma gracinha, daria uns tapinhas nas costas, não diria nem que sim nem que não, e depois vetaria, como fez com uma proposta anterior que prejudicava principalmente os estados produtores de petróleo, como o Rio de Janeiro, onde os royalties são boa parte da arrecadação. Com o bonde sem freio de Dilma a sinceridade pesa e dói nos políticos, e o papo é reto, direto. Resta saber qual represália farão agora na Câmara dos Deputados, já que o novo projeto, que prevê repasses de royalties de contratos futuros,  já passou no Senado.

O que a mídia esconde com seu partidarismo explícito é que Dilma tinha sido muito aplaudida até que essa questão dos royalties foi levantada. Os participantes da XV Marcha a Brasilia em Defesa dos Municípios ouviram dela e aplaudiram, entre outras coisas, as seguintes promessas do PAC-2:
- distribuição de 3.591 retroescavadeiras, uma para cada município com até 50 mil habitantes;
- 1.330 motoniveladoras para municípios selecionados;
- R$ 5 bilhões de financiamento para obras de pavimentação com rede de água e esgoto;

2 comentários:

  1. Cara, você está escrevendo cada vez melhor. Blog do Branquinho, bombando cada vez mais!

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  2. Branquinho, confesso a você que sou aversso ao partidarismo, nunca simpatizei com o PT nem mesmo com o Lula. Quando a Dilma se canidatou eu fiquei até meio triste, pois não conseguia enxergar nela uma mulher de carisma e inteligência política. Mas, com o passar do tempo, meus preconceitos foram se desfazendo aos poucos em vista da fibra que essa mulher tem. Acredito, vendo os números (e não os telejornais) e os índices macroeconômicos (apesar de não ser economista, e sim curioso) que se estamos vivendo um período de calmaria econômica e sendo alvo de tantos olhares pelo mundo, e por esse prisma, tenho que dar crédito principalmente a eles. Gostei muito do discursso da Dilma, agradecendo os ex-presidentes, inclusive o Collor (quem diria) pelos esforços em busca da "verdade".

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