A construção do PT se deu num ambiente único, onde forças únicas coexistiam cada qual com seus valores e, ao se juntarem, produziram o mais espetacular movimento de transformação de baixo para cima já visto no Brasil. Do PT saiu a CUT, que também revolucionou o sindicalismo. Um novo tipo de fazer política, rompendo com as tradições do estalinismo, unindo desde militantes religiosos a ultra-esquerdistas num só partido democrático, ético, esse foi o grande avanço político brasileiro da década de 80 e início dos anos 90.
Milhões de pessoas filiaram-se ou simplesmente acreditaram no PT como a esperança do novo, do socialismo para acabar com as injustiças, e foram às ruas pagando para fazer campanhas, enfrentando o debate com os inimigos dos trabalhadores, trazendo para o movimento os alienados. O PT deu sentido à militância como exercício cotidiano, incansável, de propagar a mudança, a esperança, e de combater o medo de lutar.
Esse sonho de milhões de idealistas não foi compartilhado por todos que estavam no partido. Havia quem pensasse em chegar ao poder por vias mais rápidas que as necessárias para construir uma revolução, através de táticas pragmáticas, cedendo terreno ideológico, aliando-se a quem se pretendia derrotar, renegando princípios. A partir dos anos 90 a militância ficava perplexa a cada ato desse grupo que se tornou hegemônico no partido, mas insistia no PT como o melhor instrumento de combate às injustiças.
A cada tentativa de eleição de Lula, uma nova rebaixada no programa do partido, um arco maior de alianças, mais descaracterização. A desconfiança começou a superar a esperança e a criar o medo de estarmos criando um monstro que iria nos devorar depois. O Lula que venceu a eleição de 2002 não carregava mais na sua bagagem as mesmas idéias de 1989. O PT também não.
A militância ainda resistiu frente às tentativas golpistas da direita no início do governo Lula. Os que o cercavam, entretanto, não quiseram empolgar os milhões que votaram e apoiaram para ir às ruas e avançar nas conquistas com apoio popular. Preferiram usar o instrumental dos que combatiam. Buscaram a construção de uma base aliada sem ética, corrupta, através da cooptação por benesses. Assumiram o controle dos movimentos sociais pelo fisiologismo. Dissolveram o conteúdo de classe do partido.
Onde foi parar essa militância original, que encarou a ditadura, que fez as greves, que construiu o PT com suor e sangue? Certamente não está mais no PT, mesmo que muitos ainda estejam filiados e não participem mais das suas instâncias internas. Algumas correntes internas viraram partidos ou grupamentos independentes, exacerbando suas próprias características ideológicas, como o PSTU e o PCO.
O expurgo do grupo de Heloísa Helena também jogou para fora muitos insatisfeitos, que acabaram fazendo do PSOL um bote salva-vidas enquando o PT afundava nas suas práticas equivocadas. O grupo da ex-ministra Marina Silva, que era mais próxima da corrente majoritária, engoliu sapos o quanto pode, até debandar também numa aventura para o PV, anexo tucano.
A imensa maioria dos anônimos militantes, entretanto, ficou órfã. Continuam identificando o inimigo de classe, defendem Lula e Dilma dos seus ataques para não haver recuo ao passado, mas não se articulam mais. Cada um luta com o que tem. Incluo-me entre estes fazendo o combate e a conscientização pelo blog, por discussões em redes sociais.
Ainda há no PT alguns focos de resistência isolados em correntes e, particularmente, em Fortaleza. Tenho recebido informes de um campanha mobilizada, animada, com as pessoas se atirando em defesa do candidato do partido, Elmano de Freitas, apoiado pela prefeita Luiziane Lins.
Embora não esteja mais entre os quadros do partido em Fortaleza (mudei de domicílio eleitoral) e tenha restrições a algumas questões pontuais do governo na capital cearense, sinto um gostinho, uma certa felicidade, por ter feito algo que produziu esse resultado, com a campanha de resistência de 1992, da qual falarei em outro post, comemorando seus 20 anos. No Rio, essa militância viva, de ex-petistas e petistas, está na campanha de Marcelo Freixo, do PSOL. Apoio as campanhas desses dois candidatos pelo aspecto "militância" acima do que venham a propor. A cultura militante por causas justas precisa ser animada e preservada.
O julgamento do "Mensalão do PT" é político, e pretende ser um marco no combate à corrupção, que vai além das provas jurídicas. Se o mesmo rigor for aplicado ao "Mensalão do PSDB", poderemos começar um novo patamar ético na política. No PT haverá repercussões que poderão abalar sua atual direção, identificada com os que degeneraram o partido nos últimos 20 anos. Os condenados não contarão com a unanimidade do partido para defendê-los publicamente, e alguém certamente proporá um tribunal interno, que não houve desde que surgiram os escândalos. A direção do PT poderá mudar, mas nada que realimente a esperança do que foi feito no passado.
Dilma é neófita no PT. Mais técnica que política. Graças a ela Lula teve alguma realização concreta para exibir e ganhar sua reeleição, pois Dilma rompeu a inércia e incompetência de José Dirceu na Casa Civil e botou o país para andar. Dilma pegou o bonde do PT andando, filiando-se já no governo Lula, e nunca participou ativamente das suas discussões internas.
Vem governando à margem do partido, e não se envolve na defesa pública de nenhum dos envolvidos em escândalos. Ela encarna, de certa forma, um pouco do legado do PT pré-degeneração, aquela coisa do Modo Petista de Governar, de fazer reformas positivas para os mais pobres, de promover a inclusão, o combate aos preconceitos, etc. Conquistou o respeito de setores que antes eram oposição ao PT da degeneração por questões éticas, e a simpatia de parte do "limbo militante", que lhe dá apoio crítico.
O julgamento do Mensalão não será o fim do PT, como quer a direita. Poderá despertar um novo renascer no partido que tantas mudanças já fez. Ou, o mais provável, longe de uma refundação do PT, a construção de uma nova alternativa que aproveite o legado positivo construído coletivamente pelo partido e dê um novo alento à luta por transformações, reagrupando a militância que rejeita a corrupção, o hegemonismo e a arrogância dos porcos que se sentaram à mesa, como em "A Revolução dos Bichos", de George Orwell. Uma coisa certamente unirá a todos: o desejo de nunca mais voltarmos aos anos pré-2002. É daqui prá melhor.
Nesse sentido está também o texto do filósofo e teólogo Leonardo Boff, que nunca foi filiado ao partido, e, por razões outras, vai no mesmo sentido do que escrevi acima. Ele fala em preservar "a causa do PT". Eu falo em "pós-PT, entendendo que o atual partido continuará sob controle da mesma direção que o levou à degeneração, virando uma espécie de partido de centro, tipo PMDB, com grande máquina eleitoral, conchavos, armações, etc. Não acredito em virada de mesa interna nem em expurgo da turma do Mensalão, mas na construção de um novo partido. Segue o link do seu texto "Manter viva a causa do PT : Para além do "Mensalão" ".
Milhões de pessoas filiaram-se ou simplesmente acreditaram no PT como a esperança do novo, do socialismo para acabar com as injustiças, e foram às ruas pagando para fazer campanhas, enfrentando o debate com os inimigos dos trabalhadores, trazendo para o movimento os alienados. O PT deu sentido à militância como exercício cotidiano, incansável, de propagar a mudança, a esperança, e de combater o medo de lutar.
Esse sonho de milhões de idealistas não foi compartilhado por todos que estavam no partido. Havia quem pensasse em chegar ao poder por vias mais rápidas que as necessárias para construir uma revolução, através de táticas pragmáticas, cedendo terreno ideológico, aliando-se a quem se pretendia derrotar, renegando princípios. A partir dos anos 90 a militância ficava perplexa a cada ato desse grupo que se tornou hegemônico no partido, mas insistia no PT como o melhor instrumento de combate às injustiças.
A cada tentativa de eleição de Lula, uma nova rebaixada no programa do partido, um arco maior de alianças, mais descaracterização. A desconfiança começou a superar a esperança e a criar o medo de estarmos criando um monstro que iria nos devorar depois. O Lula que venceu a eleição de 2002 não carregava mais na sua bagagem as mesmas idéias de 1989. O PT também não.
A militância ainda resistiu frente às tentativas golpistas da direita no início do governo Lula. Os que o cercavam, entretanto, não quiseram empolgar os milhões que votaram e apoiaram para ir às ruas e avançar nas conquistas com apoio popular. Preferiram usar o instrumental dos que combatiam. Buscaram a construção de uma base aliada sem ética, corrupta, através da cooptação por benesses. Assumiram o controle dos movimentos sociais pelo fisiologismo. Dissolveram o conteúdo de classe do partido.
Onde foi parar essa militância original, que encarou a ditadura, que fez as greves, que construiu o PT com suor e sangue? Certamente não está mais no PT, mesmo que muitos ainda estejam filiados e não participem mais das suas instâncias internas. Algumas correntes internas viraram partidos ou grupamentos independentes, exacerbando suas próprias características ideológicas, como o PSTU e o PCO.
O expurgo do grupo de Heloísa Helena também jogou para fora muitos insatisfeitos, que acabaram fazendo do PSOL um bote salva-vidas enquando o PT afundava nas suas práticas equivocadas. O grupo da ex-ministra Marina Silva, que era mais próxima da corrente majoritária, engoliu sapos o quanto pode, até debandar também numa aventura para o PV, anexo tucano.
A imensa maioria dos anônimos militantes, entretanto, ficou órfã. Continuam identificando o inimigo de classe, defendem Lula e Dilma dos seus ataques para não haver recuo ao passado, mas não se articulam mais. Cada um luta com o que tem. Incluo-me entre estes fazendo o combate e a conscientização pelo blog, por discussões em redes sociais.
Ainda há no PT alguns focos de resistência isolados em correntes e, particularmente, em Fortaleza. Tenho recebido informes de um campanha mobilizada, animada, com as pessoas se atirando em defesa do candidato do partido, Elmano de Freitas, apoiado pela prefeita Luiziane Lins.
Embora não esteja mais entre os quadros do partido em Fortaleza (mudei de domicílio eleitoral) e tenha restrições a algumas questões pontuais do governo na capital cearense, sinto um gostinho, uma certa felicidade, por ter feito algo que produziu esse resultado, com a campanha de resistência de 1992, da qual falarei em outro post, comemorando seus 20 anos. No Rio, essa militância viva, de ex-petistas e petistas, está na campanha de Marcelo Freixo, do PSOL. Apoio as campanhas desses dois candidatos pelo aspecto "militância" acima do que venham a propor. A cultura militante por causas justas precisa ser animada e preservada.
O julgamento do "Mensalão do PT" é político, e pretende ser um marco no combate à corrupção, que vai além das provas jurídicas. Se o mesmo rigor for aplicado ao "Mensalão do PSDB", poderemos começar um novo patamar ético na política. No PT haverá repercussões que poderão abalar sua atual direção, identificada com os que degeneraram o partido nos últimos 20 anos. Os condenados não contarão com a unanimidade do partido para defendê-los publicamente, e alguém certamente proporá um tribunal interno, que não houve desde que surgiram os escândalos. A direção do PT poderá mudar, mas nada que realimente a esperança do que foi feito no passado.
Dilma é neófita no PT. Mais técnica que política. Graças a ela Lula teve alguma realização concreta para exibir e ganhar sua reeleição, pois Dilma rompeu a inércia e incompetência de José Dirceu na Casa Civil e botou o país para andar. Dilma pegou o bonde do PT andando, filiando-se já no governo Lula, e nunca participou ativamente das suas discussões internas.
Vem governando à margem do partido, e não se envolve na defesa pública de nenhum dos envolvidos em escândalos. Ela encarna, de certa forma, um pouco do legado do PT pré-degeneração, aquela coisa do Modo Petista de Governar, de fazer reformas positivas para os mais pobres, de promover a inclusão, o combate aos preconceitos, etc. Conquistou o respeito de setores que antes eram oposição ao PT da degeneração por questões éticas, e a simpatia de parte do "limbo militante", que lhe dá apoio crítico.
O julgamento do Mensalão não será o fim do PT, como quer a direita. Poderá despertar um novo renascer no partido que tantas mudanças já fez. Ou, o mais provável, longe de uma refundação do PT, a construção de uma nova alternativa que aproveite o legado positivo construído coletivamente pelo partido e dê um novo alento à luta por transformações, reagrupando a militância que rejeita a corrupção, o hegemonismo e a arrogância dos porcos que se sentaram à mesa, como em "A Revolução dos Bichos", de George Orwell. Uma coisa certamente unirá a todos: o desejo de nunca mais voltarmos aos anos pré-2002. É daqui prá melhor.
Nesse sentido está também o texto do filósofo e teólogo Leonardo Boff, que nunca foi filiado ao partido, e, por razões outras, vai no mesmo sentido do que escrevi acima. Ele fala em preservar "a causa do PT". Eu falo em "pós-PT, entendendo que o atual partido continuará sob controle da mesma direção que o levou à degeneração, virando uma espécie de partido de centro, tipo PMDB, com grande máquina eleitoral, conchavos, armações, etc. Não acredito em virada de mesa interna nem em expurgo da turma do Mensalão, mas na construção de um novo partido. Segue o link do seu texto "Manter viva a causa do PT : Para além do "Mensalão" ".
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