Ainda não está explicado o que houve no Brasil há duas semanas em termos de mobilização social nas ruas. Há 3 semanas o Movimento Passe Livre, da cidade de São Paulo, organizou uma manifestação contra o reajuste das passagens de ônibus urbanos. Há anos o MPL faz isso. O surpreendente foi a adesão superior e mais ainda o desdobramento em violência policial e vandalismo. Dois dias depois uma outra manifestação, maior, chegou aos destaques na mídia mundial pela violência assimétrica da polícia. Isso não chega a ser novidade no Brasil e em especial em São Paulo, onde essa truculência foi vista na greve dos professores, desocupação da reitoria da USP, marcha da maconha, etc. Em seguida houve os primeiros protestos contra os gastos da Copa do Mundo, juntando poucos milhares de pessoas.
O surpreendente veio depois, com a estranha adesão da mídia em apoio aos protestos. Milhares de pessoas de classe média, na maioria estudantes jovens, aderiram ao movimento que tomou as feições de "caras pintadas" também apoiados por mídia na época do "Fora Collor". Como uma espécie de tsunami que se somou às ondas normais de protestos, tivemos uma segunda semana turbulenta onde se questionou diretamente a política. Ocupação do teto do congresso e marchas até em cidades pequenas, tendo como reivindicação concreta a questão das passagens, apavoraram os políticos. Essa grande onda aparentava não ter líderes e era articulado pelo "poder das redes sociais", pelo menos essa foi a idéia vendida pela mídia, e nazi-fascistas organizados atacavam quaisquer pessoas que portassem faixas de partidos e movimentos sociais tradicionais. "Fora Dilma" e "Queremos os militares" estavam liberados, mas não houve muitos. O golpismo estava liberado, mas o movimento era "apartidário".
Na terceira semana, apesar dos protestos voltou a calmaria. Sobraram protestos contra a Copa e contra o preço dos transportes. Com medo, Dilma e o Congresso saíram acelerando propostas paradas há anos, propondo pactos, constituinte, plebiscito, etc. Acabando a Copa das Confederações hoje, por quanto tempo durará a onda de baixa amplitude que começou tudo? Afinal, o que provocou o tsunami da segunda semana que causou tantos estragos, entre eles a queda forte de popularidade da presidente Dilma e a rejeição da PEC 37, que envolvia interesses em manter superpoderes do Ministério Público normalmente usados para perseguir desafetos dos poderosos e postergar ou arquivar assuntos contrários aos grandes grupos econômicos? Quem eram essas pessoas? Vamos a alguns dados.
- Há pouco mais de um ano a Fundação Getúlio Vargas publicou uma pesquisa que mostra que o brasileiro tem o maior IFF - Índice de Felicidade Futura - do mundo. O IFF mede qual será o nível de satisfação com a vida em 5 anos. A nota do Brasil foi 8,6, acima da Dinamarca (8,1), Irlanda (8,0), Suíça (7,8), Reino Unido (7,7) e Áustria (7,5). O estudo ainda mostra que os maiores problemas brasileiros são coletivos (desigualdade, inflação, informalidade, violência e falta de democracia). O IFF é maior entre os jovens e cai com a idade;
- Apesar da mídia em sintonia com campanhas de terror da oposição de direita vender sua versão de que os protestos são contra a volta da inflação descontrolada, os dados mostram que o governo FHC, aquele que recentemente conseguiram fazer "imortal" na ABL sem publicar nada que justificasse, teve média de inflação maior que Lula e Dilma., como mostra a tabela abaixo:
fonte: IBGE - http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/ipca-inpc_201305_3.shtm
Tampouco foi o desemprego, principal motivador dos conflitos como o movimento dos Indignados da Espanha e o Occupy, norte-americano, que se espalharam pelo mundo protestando contra a crise econômica e as duras medidas tomadas pelos governos capitalistas fazendo os mais pobres pagarem a conta. No Brasil temos praticamente pleno emprego.
E o tal do "pibinho", o baixo índice de crescimento econômico, fetiche da Globo, foi ele que criou a "revolução dos coxinhas" da segunda semana? Ter PIB positivo num cenário de estagnação mundial com uma economia complexa como a brasileira é um luxo, e temos tido crescimento maior que a média européia e similar ao da economia americana. Não, também não é o "pibinho".
Temos uma ditadura no Brasil, causa das "primaveras" nos países árabes? Temos conflitos de natureza fundamentalista religiosa? Nada disso explica a amplitude da onda da segunda semana
E os mais pobres, entraram nessa? Não se viu nenhuma cena de saque entre os flagelados da seca, reivindicações pelo aumento do Bolsa Família ou protestos em supermercados pelos preços dos alimentos. Segundo Marcelo Neri, presidente do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - não se pode afirmar que os protestos partam dos ricos, mas certamente não tiveram origem nos mais pobres.
O próprio Neri, em outra entrevista, disse que a desigualdade no Brasil caiu em vários níveis:
"... Há muitos anos, o Brasil foi apelidado de Belíndia, que comporta uma pequena e rica Bélgica e grande e pobre Índia. A citação continua atual, não só porque a desigualdade continua, mas porque o lado indiano do Brasil está crescendo muito mais do que o belga. Por exemplo, os 10% mais pobres melhoraram de vida 550% mais rápido do que os 10% mais ricos, durante uma década inteira. E este processo continua. Por outro lado, o abismo entre pobres e ricos está caindo. Se você pegar o estado mais pobre do país há oito anos, que era o Maranhão, verá que ele cresceu 46%. Já a renda de São Paulo, o mais rico pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), cresceu 7,2%. A renda no Nordeste cresceu 42%. No Sudeste, 16%. Na área rural, 49%. O Brasil que prospera é o Brasil que tinha ficado para trás. É o Brasil do campo, do negro, da periferia."...
Mais um dado que corrobora a visão do IPEA está na própria pesquisa que mostrou queda de popularidade de Dilma: a maior rejeição à sua candidatura vem do sudeste, e a menor, do nordeste. Tomou vaia em Brasília, justo onde há a maior renda "per capita" do Brasil e uma boa parte da juventude encontrou oportunidades de trabalho através de concursos lançados por Lula e Dilma para recompor a máquina estatal destruída por FHC.
Se não foram os mais pobres, se os movimentos sociais tradicionais não explicam a massa que foi para as ruas, o que explica então? Talvez estejamos diante de um dos maiores eventos de manipulação de massas da história, e em algum canto um grupo de marqueteiros pode estar rindo à toa. O fato é que conseguiram abalar a imagem de Dilma.
O surpreendente veio depois, com a estranha adesão da mídia em apoio aos protestos. Milhares de pessoas de classe média, na maioria estudantes jovens, aderiram ao movimento que tomou as feições de "caras pintadas" também apoiados por mídia na época do "Fora Collor". Como uma espécie de tsunami que se somou às ondas normais de protestos, tivemos uma segunda semana turbulenta onde se questionou diretamente a política. Ocupação do teto do congresso e marchas até em cidades pequenas, tendo como reivindicação concreta a questão das passagens, apavoraram os políticos. Essa grande onda aparentava não ter líderes e era articulado pelo "poder das redes sociais", pelo menos essa foi a idéia vendida pela mídia, e nazi-fascistas organizados atacavam quaisquer pessoas que portassem faixas de partidos e movimentos sociais tradicionais. "Fora Dilma" e "Queremos os militares" estavam liberados, mas não houve muitos. O golpismo estava liberado, mas o movimento era "apartidário".
Na terceira semana, apesar dos protestos voltou a calmaria. Sobraram protestos contra a Copa e contra o preço dos transportes. Com medo, Dilma e o Congresso saíram acelerando propostas paradas há anos, propondo pactos, constituinte, plebiscito, etc. Acabando a Copa das Confederações hoje, por quanto tempo durará a onda de baixa amplitude que começou tudo? Afinal, o que provocou o tsunami da segunda semana que causou tantos estragos, entre eles a queda forte de popularidade da presidente Dilma e a rejeição da PEC 37, que envolvia interesses em manter superpoderes do Ministério Público normalmente usados para perseguir desafetos dos poderosos e postergar ou arquivar assuntos contrários aos grandes grupos econômicos? Quem eram essas pessoas? Vamos a alguns dados.
- Há pouco mais de um ano a Fundação Getúlio Vargas publicou uma pesquisa que mostra que o brasileiro tem o maior IFF - Índice de Felicidade Futura - do mundo. O IFF mede qual será o nível de satisfação com a vida em 5 anos. A nota do Brasil foi 8,6, acima da Dinamarca (8,1), Irlanda (8,0), Suíça (7,8), Reino Unido (7,7) e Áustria (7,5). O estudo ainda mostra que os maiores problemas brasileiros são coletivos (desigualdade, inflação, informalidade, violência e falta de democracia). O IFF é maior entre os jovens e cai com a idade;
- Apesar da mídia em sintonia com campanhas de terror da oposição de direita vender sua versão de que os protestos são contra a volta da inflação descontrolada, os dados mostram que o governo FHC, aquele que recentemente conseguiram fazer "imortal" na ABL sem publicar nada que justificasse, teve média de inflação maior que Lula e Dilma., como mostra a tabela abaixo:
Índice Geral e Item | Variação (%) | ||||||||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Jul a Dez/94 | 1995 | 1996 | 1997 | 1998 | 1999 | 2000 | 2001 | 2002 | 2003 | 2004 | 2005 | 2006 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | No Real | |
Índice Geral |
18,57
|
22,41
|
9,56
|
5,22
|
1,65
|
8,94
|
5,97
|
7,67
|
12,53
|
9,30
|
7,60
|
5,69
|
3,14
|
4,46
|
5,90
|
4,31
|
5,91
|
6,50
|
5,84
|
2,88
|
332,33
|
fonte: IBGE - http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/ipca-inpc_201305_3.shtm
Tampouco foi o desemprego, principal motivador dos conflitos como o movimento dos Indignados da Espanha e o Occupy, norte-americano, que se espalharam pelo mundo protestando contra a crise econômica e as duras medidas tomadas pelos governos capitalistas fazendo os mais pobres pagarem a conta. No Brasil temos praticamente pleno emprego.
E o tal do "pibinho", o baixo índice de crescimento econômico, fetiche da Globo, foi ele que criou a "revolução dos coxinhas" da segunda semana? Ter PIB positivo num cenário de estagnação mundial com uma economia complexa como a brasileira é um luxo, e temos tido crescimento maior que a média européia e similar ao da economia americana. Não, também não é o "pibinho".
Temos uma ditadura no Brasil, causa das "primaveras" nos países árabes? Temos conflitos de natureza fundamentalista religiosa? Nada disso explica a amplitude da onda da segunda semana
E os mais pobres, entraram nessa? Não se viu nenhuma cena de saque entre os flagelados da seca, reivindicações pelo aumento do Bolsa Família ou protestos em supermercados pelos preços dos alimentos. Segundo Marcelo Neri, presidente do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - não se pode afirmar que os protestos partam dos ricos, mas certamente não tiveram origem nos mais pobres.
O próprio Neri, em outra entrevista, disse que a desigualdade no Brasil caiu em vários níveis:
"... Há muitos anos, o Brasil foi apelidado de Belíndia, que comporta uma pequena e rica Bélgica e grande e pobre Índia. A citação continua atual, não só porque a desigualdade continua, mas porque o lado indiano do Brasil está crescendo muito mais do que o belga. Por exemplo, os 10% mais pobres melhoraram de vida 550% mais rápido do que os 10% mais ricos, durante uma década inteira. E este processo continua. Por outro lado, o abismo entre pobres e ricos está caindo. Se você pegar o estado mais pobre do país há oito anos, que era o Maranhão, verá que ele cresceu 46%. Já a renda de São Paulo, o mais rico pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), cresceu 7,2%. A renda no Nordeste cresceu 42%. No Sudeste, 16%. Na área rural, 49%. O Brasil que prospera é o Brasil que tinha ficado para trás. É o Brasil do campo, do negro, da periferia."...
Mais um dado que corrobora a visão do IPEA está na própria pesquisa que mostrou queda de popularidade de Dilma: a maior rejeição à sua candidatura vem do sudeste, e a menor, do nordeste. Tomou vaia em Brasília, justo onde há a maior renda "per capita" do Brasil e uma boa parte da juventude encontrou oportunidades de trabalho através de concursos lançados por Lula e Dilma para recompor a máquina estatal destruída por FHC.
Se não foram os mais pobres, se os movimentos sociais tradicionais não explicam a massa que foi para as ruas, o que explica então? Talvez estejamos diante de um dos maiores eventos de manipulação de massas da história, e em algum canto um grupo de marqueteiros pode estar rindo à toa. O fato é que conseguiram abalar a imagem de Dilma.