Desde sempre os governos olham para as gordas poupanças previdenciárias com gula. Pensam que é muito dinheiro parado esperando para daqui a algumas décadas pagar a alguns velhinhos. E que tirar esse dinheiro não fará falta, em especial para eles. Daí se usa recursos previdenciários para patrocinar investimentos governamentais, parcerias público-privadas em infra-estrutura, se considerarmos haver louváveis intenções nisso. Do lado da bandalheira vêm as privatarias, os favorecimentos a grupos econômicos e jogadas contábeis para favorecer os patrocinadores em detrimento dos trabalhadores.
A PREVI não foge à regra dos aparelhamentos pelo mercado e pelo governo. Maior fundo de pensão do Brasil, tem repassado gordos recursos ao patrocinador Banco do Brasil, o que está causando preocupação aos aposentados e pensionistas com a incerteza do futuro. Paira no ar o fantasma do Aerus, da VARIG, que hoje paga ninharias aos aposentados. Sobre esses riscos reproduzo o artigo de Isa Musa de Noronha, presidente da Federação das Associações de Aposentados do Banco do Brasil:
Publicado em 23/05/2013
http://www.diretodaredacao.com/noticia/a-cacada-aos-fundos-de-pensao
A caçada aos Fundos de Pensão
Se perguntarmos a qualquer economista que não tenha nenhuma relação
com planos de benefícios de previdência complementar como ele avalia o
sistema temos muita chance de ouvir dele que se trata de operações
mercantis, de mercado, fortes investidores institucionais onde o
participante e assistido é mero detalhe.
Somos forçados a concordar com ele. Assistindo a participação dos
representantes do Governo, da ABRAPP e dos que falam pelos
patrocinadores e instituidores na ultima reunião do Conselho Nacional de
Previdência Complementar pude avaliar com profundo desânimo que é isso
mesmo! Sucessivas alterações legais sejam através de Leis
Complementares, Emendas ou Resoluções, descaracterizaram o sistema de
previdência complementar que deixou de ser uma opção segura para o
trabalhador no futuro poder complementar os benefícios da previdência
oficial, para ser uma aposta... Um tiro no escuro: sabe-se como se
entra, mas ninguém tem a mínima segurança do que o espera quando
completar 30, 35, anos de trabalho e tiver o direito de se aposentar.
O Governo está decidido a fomentar a Previdência Complementar
flexibilizando normas de modo a mostrar aos empresários que há uma porta
de entrada no sistema, com vantagens legais, incentivos fiscais, e uma
larga porta de saída, por onde esse empresário passará quando bem
entender. Ao mesmo tempo, estranhamente, mostra ao empregado uma
estreita porta por onde ele entra sabendo o que tem que pagar, mas não
lhe dá nenhuma garantia do quanto poderá receber ao final da jornada
laborativa. O empregado ao passar pela porta de entrada encontra cômodos
gelados, encruzilhadas tortuosas e um longo e sombrio corredor que leva
ao futuro.
A caçada aos recursos patrimoniais dos fundos de pensões começou em
1998, com a Emenda Constitucional n° 20 de 15/12/1998, no Governo FHC.
Naquela norma o Governo interferia decididamente na liberdade de
negociação entre empregados e patrocinadores ao fixar que a contribuição
somente poderia ser paritária. Antes, havia patrocinadores que como
incentivo extrafolha para seus empregados, pagavam contribuições na
proporção de 2x1, 3x1, para o fundo de pensão. Outras ainda sequer
cobravam contribuições de seus empregados. Desnecessário dizer que tal
Emenda, criada em 1998, jamais poderia fazer valer seus efeitos sobre o
Plano de Benefícios n° 1 da Previ, fechado em 1997 e em processo de
extinção. Isso se vivêssemos no melhor dos mundos jurídicos, onde seria
respeitada a máxima de que a Lei não ferirá o direito adquirido e o ato
jurídico perfeito.
Ainda nos anos FHC foram promulgadas as Leis Complementares 108 e
109, já estabelecendo clara discriminação entre participantes e
assistidos do regime fechado de previdência complementar dos cidadãos
que aderissem aos planos abertos. E mais: foi cunhada a força do
patrocinador através do “Voto de Qualidade” para as decisões do Conselho
Deliberativo e invadiu a liberdade dos Fundos ao determinar quantos são
os membros e qual a composição dos conselhos, além de extinguir a
figura do corpo social que no passado tinha o poder de votar e vetar as
contas do Fundo.
Caminhando em seu intento de transformar a previdência complementar
em empresa mercantil, o Governo, agora já na era Lula, redigiu a
Resolução 26, que dá a patrocinadores a metade dos recursos excedentes
(reserva especial) apuradas ao final do exercício. Ou seja, dá claro
recado ao Mercado: “fundo de pensão quando dá “lucro”, a empresa fica com a metade”.
O Governo a ABRAPP e os representantes de patrocinadores e
instituidores tratam superávit como lucro, o patrocinador como maior
beneficiário de um fundo de pensão e participantes e assistidos como
passivos atuariais que quanto mais velhos mais pesam contra seus
interesses.
A mais recente aparição fantasmagórica da “Caixa de Pandora” do
Governo é a Resolução de Retirada de Patrocínio, quando ao escancarar a
ponta de saída para empresários manda um bom alerta aos corajosos
funcionários públicos que podem pretender aderir ao FUNPRESP.... “Podem entrar que a casa é sua, mas como você sairá? Sei não... Melhor perguntar ali no Posto Ipiranga.”
A Caixa de Pandora, todos sabem... Era na verdade um grande jarro
dado a Pandora e que continha todos os males do mundo. Então Pandora,
com sua curiosidade, abriu o frasco, e todo o seu conteúdo — exceto um
item — foi liberado para o mundo. O item remanescente foi a esperança.
O que nós participantes e assistidos da PREVI podemos concluir é que
nossa batalha em defesa de nossas aposentadorias e pensões é uma guerra
contra políticas de Governo. Qualquer Governo.
Colaboração da leitora Isa Musa de Noronha. Email : isamusa@uol.com.br
Muito me apraz ver esse meu artigo já antigo, de 2011, em seu blog Branquinho. Atualmente, face à frustração causada pelo fim do BET, alguns voltaram artilharias contra as Associações de aposentados escrevendo pela web que “elas não fazem nada”. Não é verdade. Ao contrário, todas elas estão solidárias às nossas agruras, pois estamos em um mesmo barco e motins não nos salvarão do naufrágio.
ResponderExcluirA FAABB luta desde sua fundação pelo Maia e Tollendal. É verdade que não conseguimos grandes vitórias, afinal, não enfrentamos adversários fáceis. Contudo, nem as sucessivas derrotas, decepções e crises, nos desanimam da luta maior. Quem sabe? Talvez um dia conseguimos um despacho definitivo e favorável que nos diga: você resistiram e venceram! Por enquanto, sabe-se que a maioria dos ataques vem exatamente de alguns que pregam a união, mas cavam abismos ao invés de construir pontes. Já percebeu que as empresas que constroem não são as mesmas firmas de demolição? Há Construtoras de Empresas de Demolição. É preciso ser especialista em demolir. Por outro lado, muitos dos que atacam as Associações o fazem por necessidade absoluta de dispersar a própria ira. É mais fácil atacar as Associações do que buscar no ordenamento político as verdadeiras causas dos malefícios que o BB e a Previ nos trazem. Felizmente muitos associados sabem disso e é exatamente por esse sentimento de pertencimento que essas campanhas de desfiliação em massa não falam aos corações. Ao longo de muitos anos, as Associações construíram uma solidez e desprendimento que nos levam à solidariedade e à compreensão de que muitos são insuflados por alguns poucos desagregadores, mas, se perseguirmos na luta, na clareza e pureza de objetivos, venceremos. Talvez eu não esteja aqui para ver isso, pois na luta desde 1995, amealhei muitos inimigos e poucas vitórias consistentes e, já no batel da vida, olho para frente o porto final cada vez mais próximo e vejo que tenho menos anos de vida do que os já vividos, mas a fé e a certeza do dever cumprido, esses troféus jamais me abandonaram.