Nesta segunda-feira o mundo olha para a Grécia, que elegeu o Syriza, partido anti-capitalista, com ampla margem de votação, nas eleições gerais. Se foi voto de protesto, pouco importa. O povo grego disse em alto e bom som "não" ao saque aos direitos sociais, salários, às privatizações e tudo que a Troika (FMI, Banco Central Europeu, Comunidade Européia) vêm impondo desde a crise de 2008 para pagar dívidas a banqueiros e, em especial, à Alemanha.
Grécia elege o primeiro partido anti-capitalista da história européia - US Uncut |
A principal promessa do Syriza é uma negociação soberana da dívida, o que não é novidade. A Islândia fez isso e ainda botou banqueiros na cadeia. A mensagem que a Grécia manda para o mundo é : o povo não pode pagar as dívidas feitas pela elite que não o representa. A sensação hoje dos gregos é de expropriação. Atingiram aposentadorias, empregos públicos, rebaixaram salários, pararam a economia para sangrar dinheiro e mandá-lo aos bancos.
O que vem agora é a incógnita. Tem banqueiro até citando Lula para acalmar os mercados, dizendo que no Brasil os contratos foram respeitados e o bicho não é tão feio quanto parece. O Merryl Linch considera Alexis Tsipras, provável novo primeiro-ministro, um "Lula grego". Alguns que já ganharam muito além do capital emprestado já se preparam para renegociação.
Ao meu ver, a Grécia está mais para a Argentina que para o Brasil. Lula não renegociou dívidas: simplesmente as pagou, como Dilma vem fazendo, sem negociação soberana. Isso é o que assusta o banqueiro e pode servir de exemplo para os movimentos populares por aqui. Ir às ruas exigir que não se pague essa bola de neve onde os juros em muitos casos já superam o capital.
A Grécia faz história e abre caminho para outros países peitarem a exploração capitalista. Na semana passada, em Davos (Suíça), o Banco Central Europeu anunciou alívio no arrocho imposto aos países soltando dinheiro para comprar dívidas públicas. A primeira-ministra alemã Angela Merkel, sempre irredutível nos planos de arrocho e com grande poder sobre a Troika, já admite afrouxar o aperto sobre a Grécia.
Merkel teme pela desintegração da Zona do Euro, onde tem grande domínio, ao mesmo tempo que insinua que a Grécia deverá sair dela. Pelo mesmo rumo poderão embarcar a Espanha, onde o novo partido Podemos é favorito às eleições deste ano, além de Itália, Portugal e outros. Merkel conta com o apoio do povo alemão, que reelegeu seu partido no ano passado. Por muitos passa a versão propagandística de estarem sustentando os "vagabundos gregos" e que eles têm mais é que sofrer para pagar as dívidas.
Mais sobre o assunto no post "Alemanha domina a Europa pelo capital?" que escrevi há 3 anos a partir de observações em viagem à Europa. Naquele mesmo ano de 2012 a Grécia assustou os banqueiros com a ameaça de uma moratória no pagamento de dívidas, que postei em "Europa: Grécia pode fugir da armadilha do Euro" Um artigo interessante feito por observador europeu está em Razoes para ter esperanca no Syriza.
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