segunda-feira, 16 de março de 2015

Golpe : Muito além dos partidos

A geopolítica norte-american a no fim de mandato de Obama aponta para "solucionar" velhas pendências, como a hegemonia sobre o mundo muçulmano com a destruição de estados nacionais como a Líbia, Egito, Síria, Iraque e Irã, onde o petróleo é o objetivo econômico. Destruir a contraposição do BRICS à hegemonia econômica americana. Destruir as oposições no quintal da América. Essas são estratégias que parece que moverão as peças no tabuleiro mundial  até o fim do ano que vem.

O Brasil ocupa a incômoda interseção desses três interesses: tem muito petróleo em vias de exportar, faz parte do Brics, do Mercosul e da Unasul. Esse alinhamento surgiu desde o governo Lula e nossa posição no continente impede aventuras norte-americanas nos nossos vizinhos que são "ameaça à segurança interna dos Estados Unidos",  como a Venezuela.

Coincidentemente somos o país com o governo  mais vulnerável de todos. Tirar esse governo e colocar outro que também seja vulnerável, inclusive a um contragolpe, não interessa aos Estados Unidos. Uma vez golpeada Dilma, o país poderia entrar em processo de guerra civil, remota, mas possível, ainda com o apoio político dos parceiros dos blocos econômicos, a exemplo do que China e Rússia estão fazendo com a Venezuela. Isso não interessa.

E o que interessa? A meu ver, um regime que seja lacaio dos interesses geopolíticos americanos. Que quebre o Brics, que saia do Banco do Brics, que saia da Unasul, do Mercosul e se disponha até a realizar operações militares contra a Bolívia, Venezuela e Argentina. Querem um aliado incondicional, capaz de prover recursos da Amazônia e do Pré-Sal em condições privilegiadas. Que não concorra como país imperialista nas Américas. Uma filial na América do Sul capaz de submeter todo o subcontinente ao poder imperial norte-americano.

Nesse contexto a gente enxerga que o movimento fascista que invoca o golpe militar parece ir além do movimento de 1964. O que os EUA precisam é do Chile de 1972. Um golpe que elimine toda e qualquer resistência partidária, da sociedade civil, que em um só movimento elimine a esquerda para se estabelecer por décadas. Já fizeram isso contra Allende e botaram Pinochet. Pouco importa o que direitos humanos podem dizer, afinal, Guantânamo, Iraque e Afeganistão são condenados e isso não afeta o governo Obama. Que é o democrático...

Ontem nas ruas os três grandes grupos que patrocinam o golpe não permitiram que políticos ocupassem os microfones. Bolsonaro chegou a ser vaiado. O PSDB, PPS e DEM, que apoiaram a manifestação, ficaram de fora. Até Aécio Neves, que ficou em casa, foi chamado de covarde. E o foco na corrupção, depois das listas do HSBC e de Janot, tirou a primazia do PT como único corrupto e espalhou para todos a maldição que as ruas querem exorcizar.

Afinal, onde eles querem chegar? Não, não querem Aécio. Muito menos Temer ou os demais na linha sucessória de Dilma. Eleições? Não vi nenhum deles falando nisso. O que está sendo urdido, com o apoio escancarado da Rede Globo, que ontem levou ao vivo e com ênfase na cobertura mais odiosa possível, o fascismo para dentro de cada casa por todo o Brasil?

Parece que agora Dilma não é mais o alvo. É UM alvo. Eles querem muito mais. Nada de congresso ou suprema corte, estava nas faixas. Querem o todo, não a metade. Não parecem querer dividir com a classe política o poder. Nas bandeiras não havia uma sequer falando de Reforma Política. Mas havia bonecos enforcados representando Lula e Dilma. E a sede do PT em Jundiaí depredada. E não aceitam mais que o governo se comunique pela TV, articulando panelaços.

Olho aberto porque tem gente acreditando que pode se dar bem com a queda de Dilma e depois ter que sair correndo para não morrer quando começarem o extermínio que já prometem abertamente. O projeto de ditadura para o Brasil pode ir muito além até da nossa imaginação. É muito dinheiro, muita mídia, muito ódio e muitos interesses poderosos.

Acorda, Brasil que pensa! Ontem, com transmissão ao vivo da Globo, roubaram nossas flores. Já estão marcando outra celebração fascista para nos agredir e não estamos fazendo nada. Depois não teremos nada a fazer senão aturar anos de chumbo. A hora é agora! Reajam! O fascismo é a morte!

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
(poema "No caminho com Maiakovski, de Eduardo Alves da Costa)




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