A concordata da GM não apenas detonou um símbolo do capitalismo americano. Fez também com que o mito da "mão invisível" do mercado desse vez a uma pisada integral deste na jaca da estatização. Nunca na história deste país (Brasil), que tem tradição estatizante, nem daquele país (EUA), se estatizou uma empresa automobilística. Aqui a coisa não causaria espanto, já que governos das mais diversas esferas já concederam benefícios fiscais e terras para atrair fábricas, doações que não significaram participações acionárias. Lá na América, os 60% de controle governamental sobre a GM são considerados pela cultura liberal de mercado como quase comunismo. Há quem chame o presidente de "Camarada Obama".
O governo do Canadá ficou com 12% do controle, para sustentar suas fábricas. O fundo de pensão dos funcionários, responsável por meio milhão de benefícios, ficou com 17,5%. O resto ficou com os credores. Por aqui, o presidente da GM Brasil foi à TV afirmar que nada mudará, e que a empresa seria independente nas suas atividades. A coisa não deve ser bem assim, porque há uma clara dependência tecnológica da matriz para as suas inovações, novas linhas de produtos, etc.
O governo americano diz não querer influir na gestão da empresa, que apresentou um programa de recuperaçao. A GM, nos áureos tempos, criou o conceito de "obsolescência descartável", fabricando veículos que se degradariam com o tempo, obrigando à aquisição de um novo. Desprezou as inovações introduzidas nos veículos pela concorrência japonesa e desrespeitou leis ambientais. Essas críticas partem do artigo "Adeus GM", do cineasta americano Michel Moore. Ele propõe que o governo americano, na condição de acionista majoritário, redirecione as atividades da GM, como durante a segunda guerra mundial, onde a empresa mudou grande parte das atividades para fabricar aviões e armas em curto espaço de tempo.
Moore quer que Obama suspenda a fabricação de carros pela empresa, e use seus recursos materiais e humanos para fabricar produtos para a sustentabilidade ambiental, como a produção de energia limpa. Propõe ainda uma sobretaxa na gasolina para forçar a substituição dos veículos gastadores por outros mais econômicos, além de gastar os US$ 30 bi, que iriam para a montadora quebrada, em trens-bala para cruzar o país.
O que era General e dominava o mercado mundial passou a ser um Soldado, mandado pelo governo americano. E, o que é pior, dirigido pela mesma burocracia que levou a empresa ao buraco. Haja impressora de dólares para fazer frente à quebradeira americana...
PS: o "General" do nome da empresa quer dizer "geral" e nada tem a ver com a função militar colocada no trocadilho acima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário