Ao final do governo Bush, os EUA reativaram a sua Quarta Frota, que tem na sua jurisdição as águas do Atlântico Sul, ou seja, todo o litoral brasileiro. A medida coincidiu com a descoberta de imensas jazidas de petróleo na camada pré-sal na plataforma continental do Brasil, numa conjuntura de redução mundial das reservas descobertas e de maiores dificuldades americanas para obter o insumo e hoje praticamente tem petróleo para fins estratégicos. E, o que é mais grave para eles: quase todo o petróleo está em mãos de regimes pouco democráticos, com potencial anti-americano.
Nesta semana, a Colômbia anunciou mais facilidades para militares americanos ocuparem bases aéreas e navais no país, bem como o aumento de contingentes e participação no combate à guerrilha das FARC. O acordo também facilitaria a compra de armamentos americanos de alta tecnologia. O presidente venezuelano Hugo Chávez protestou e retirou o seu embaixador de Bogotá, o que foi ridicularizado pela nossa mídia como mais um dos seus arroubos anti-americanos.
Ontem o presidente Lula demonstrou insatisfação com o aumento da presença americana na Colômbia, e teve a concordância da presidente do Chile, Michele Bachelet. No caso brasileiro, a presença militar americana na região amazônica seria um foco de ameaça à soberania sobre as riquezas da região, já que a idéia de uma "Amazônia internacionalizada" alimenta teorias conspiratórias com base em evidências concretas de tentativas de tirá-la da gestão nacional. O uso de bases colombianas permitiria, por exemplo, a bombardeiros americanos cobrirem metade do continente sem necessidade de reabastecimento.
Lula disse que o governo brasileiro terá que se reunir com Obama para discutir a questão da Quarta Frota, já que não teve resposta do então governo Bush a uma carta onde se questionava a presença militar americana com jurisdição praticamente em cima das reservas de petróleo da camada pré-sal. O discurso pacifista de Barack Obama para a região perde sentido com esse acordo, e alimenta as desconfianças em relação aos possíveis interesses imperiais americanos sobre recursos estratégicos do que consideram "seu quintal", e do potencial intervencionismo político, a título de combate ao que definirem unilateralmente como "terrorismo".
Nossa imprensa colonizada não deixou por menos: O GLOBO de hoje chama de "vezo ideológico" a preocupação da diplomacia lulista com o acordo Colombia-EUA, dizendo que "o ministro Celso Amorim pendeu para o lado de quem é suspeito de armar o grupo narcoguerrillheiro das Farc", e que "não fica bem pra um governo cujo presidente deseja ter influência mundial". Ou seja, para a direita, qualquer ato que vise a defesa da soberania contra a presença americana tem a marca de Hugo Chavez e, portanto, não interessa ao Brasil, que tem que ficar sempre disponível aos interesses americanos.
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