Ainda há o que esclarecer sobre a fria madrugada de Copenhagen que tirou o sono de 35 dirigentes de países que se reuniram para tentar propor um acordo para salvar o planeta das ameaças climáticas, convocados por Sarkozy e Lula. O fato é que fiquei surpreso, ao acompanhar desde cedo as transmissões do último dia da COP-15, com a seqüência de discursos decisivos: China, Brasil e EUA. Achava que Lula não iria mais falar. Alguém o botou lá.
O líder chinês Hu Jintao limitou-se a falar em compromissos voluntários e na defesa da soberania chinesa ao não aceitar a fiscalização do cumprimento das promessas pela comunidade internacional. Nada de novo em relação ao que já havia sido dito nos dias anteriores. Lula fez um discurso duro, direto, surpreendente, de improviso, com forte conteúdo emocional, possivelmente falando em nome do grupo de países que tentaram salvar o encontro com um acordo de metas obrigatórias. Eles devem ter conseguido o espaço para essa intervenção, quebrando o protocolo.
Ressaltando pontos fundamentais da discórdia que impede o acordo, Lula desbancou a posição da China, maior poluidor, e deixou uma porção de cascas de banana para o próximo palestrante evidenciar posturas arrogantes e inflexíveis. Chegou a falar da decepção com o iminente fracasso, e disse que só um milagre poderia salvar a conferência, se algum sábio ou anjo mais inteligente que os demais chefes de estado propusesse algo surpreendente. Criou a expectativa para o discurso de Obama. Por várias vezes, Lula foi aplaudido pelo plenário, numa demonstração de anuência da ampla maioria da platéia com as críticas e propostas que colocou.
O presidente americano começou o discurso criando expectativas, dizendo que não foi lá para conversar, mas para agir. Em seguida, repetiu tudo que a delegação americana já tinha dito, e ainda teve um tempinho para rebater algumas críticas que Lula fez. Foi visível a decepção da plenária com as suas palavras, e com a arrogância imperial de ter chegado no último dia, ter deixado líderes mundiais esperando, e até entrando e saindo por uma porta junto ao palco, sem passar pelo plenário. Em suma: ficou a impressão que veio para dizer, não para ouvir. E ainda para tentar intervir nos países pobres através da doação de recursos em troca de soberania, como o FMI e o Banco Mundial fizeram (Lula explicitamente falou nisso no seu discurso).
Escaramuças à parte, o fato é que os grandes poluidores vão continuar a aquecer o planeta olhando primeiro para os lucros. Obama teve a sua popularidade arranhada com essa participação desastrosa no evento. Mais uma vez, disse ao mundo: "No, we can't" Lula e o Brasil sairam-se muito bem no papel de líderes ambientais mundiais. Os membros do parlamento norueguês deve estar sem dormir pensando no Nobel da Paz dado a ele sem nenhum merecimento. E o planeta vai pagando a conta do consumismo desenfreado.
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