terça-feira, 23 de julho de 2013

Protestos : O fascismo dos "heróis mascarados"

Ontem fui atrás de presenciar os principais fatos e atos da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro. No centro da cidade tive a oportunidade de filmá-lo passando a poucos metros perto da Catedral Metropolitana (clique aqui para ver o filme). Depois fui a´Teatro Municipal, na Cinelândia, ver a concentração das pessoas da Jornada Mundial da Juventude que estavam lá para vê-lo passar em carro aberto. Por fim, segui para o Largo do Machado para testemunhar as manifestações que haveria perto do Palácio Guanabara. Lá aconteceria a recepção das autoridades ao papa, com a presença de Dilma, Cabral, ministros, etc.

Ao lado da igreja havia 30 cavalarianos da PM e uns 50 militantes do PSTU/Conlutas com cartazes e faixas contra o governador Sérgio Cabral pacificamente postados lado a lado. Mais adiante, em direção ao Palácio, um grupo maior de uns 300 militantes LGBT com cartazes questionando o Papa sobre aborto, casamento gay, etc. Duas mulheres com os seios de fora. Antes andaram protestando em frente à igreja enquanto beatas entoavam hinos religiosos


 Cartazes pelo estado laico. Contra a repressão policial. E mais polícia nas laterais da rua. Por volta das 18h a massa se movimentou em direção ao Guanabara, ficando retida antes de chegar á frente do Fluminense, ou seja, a uns 300 m de onde o papa estaria, praticamente sem visão do local. Depois chegou um grupo que distribuiu um documento chamando-se Frente Revolucionária em Defesa dos Direitos do Povo, que começa com uma citação de Mao Tsetung, também com foco no "fora Cabral". Alguém projetava num prédio próximo slides anti-Cabral. Num poste, colocou-se um boneco tipo Judas também representando Cabral. Em suma: havia os que dirigiam o protesto em relação às posições da Igreja e ao Papa, e outro questionando autoridades, com foco em Cabral.

A polícia militar se postava bloqueando a rua Pinheiro Machado de lado a lado. Umas três fileiras de policiais, tendo na retaguarda um veículo blindado "Caveirão" e outro com jato d'água, esperavam qualquer ataque. Até aí, o protesto se resumia à presença das pessoas, palavras de ordem, etc. Grande mídia ausente, mas era muito grande a quantidade de pessoas que estavam lá para registrar o evento. Inclusive eu mesmo. Gente que não gritava nada, não levava nenhum cartaz ou camiseta de protesto. Fotógrafos free-lancer, blogueiros, etc. Um grupo de índios também protestava contra as desocupações forçadas.

Pouco antes das 19h se tentou colocar fogo no "judas", sem sucesso. Aí chegou  a tropa dos mascarados. Algumas das máscaras eram de pano, outras eram à prova de gás mesmo. Uns 10. Foram até a grade que separava os policiais. Pelo caminho vi pessoas pedindo para que eles não se aproximassem. Alguns lembravam o vilão Darth Vader de  Star Wars, com roupas predominantemente pretas e grandes máscaras. Eram rapazes e moças cujo físico em nada lembrava policiais à paisana, embora alguns os provocassem gritando "P2", ou seja, policiais secretos da PM. Passavam pelas pessoas como se não as vissem, com arrogância. Voltaram das grades, recolocaram o boneco no poste e atearam fogo. Do nada surgiu um cone laranja que também foi queimado. Vi gente pedindo para não queimarem e assim evitar o início de confrontos. Nada feito. Tudo queimou, e a polícia não fez nada. Estranhei a histeria em meio à fogueira, que também contaminou outros que estavam presentes, e o mantra "fora Cabral" soando na "celebração".


Ainda vi um zumzum por conta de gente gritando "pega ladrão" e correria. Ninguém foi pego. Vendo que logo iria haver pancadaria e sabendo da existência de outros acessos, questionei-me se haveria outros protestos em paralelo. Dei a volta no quarteirão e a primeira rua estava completamente bloqueada por policiais, que revistavam os carros dos moradores que queriam entrar. Na rua seguinte, Paissandu, não havia nada que impedisse o trânsito de pessoas e carros. Caminhei por ela em direção ao Palácio, ainda passando por um Caveirão que fazia manobras.

Para minha surpresa, havia bem menos polícia na frente do palácio que junto ao protesto anterior. E quem estava lá era o pessoal da Jornada Mundial da Juventude, moradores e curiosos que queriam ver o Papa. Às 19:15h as comitivas deixaram o palácio, inclusive o Papa, que acenou para a multidão pela pista interna. De onde estava mal via o protesto, apenas as luzes dos carros de polícia e a escuridão na rua (a toda hora ligavam e desligavam as luzes para intimidar os manifestantes).

Fui embora retornando à Rua das Laranjeiras refazendo o caminho até o Largo do Machado para pegar o metrô. Tudo tranquilo, inclusive na direção da R. Pinheiro Machado. A cavalaria estava lá, parada. A praça cheia de polícia, certamente prevendo que vandalismos de fim de protestos chegassem por lá. Ao chegar em casa, vi na TV as cenas de violência com um policial coberto de chamas de coquetel molotov atirado possivelmente pelos "heróis mascarados ". Quem só viu essa cena, criteriosamente escolhida pela mídia, não sabe que ali estavam jovens protestando contra a tirania do governador e contra o reacionarismo da igreja. Tudo se resumiu a "vandalismo".

Do que vi, questiono: por que os movimentos sociais toleram, por omissão ou mesmo medo, esse grupo que considero fascista, porque se impõe aos demais por violência e parecem ter a missão de acabar com os atos democráticos? São policiais infiltrados? Não pareciam, mas a P2 pode ter colaboradores. Seguem alguma doutrina, seita, corrente de pensamento, partido, orientação, direção?

Palácio Guanabara visto da esquina da R. Paissandu
Os "heróis mascarados" viraram parte de uma fórmula para acabar com manifestações. Eles  atacam a polícia e caem fora, os manifestantes pacíficos "acidentalmente" acabam agredidos pela "reação" policial, entra o lumpesinato saqueando e destruindo e no fim a lição é : protesto, mesmo por vias tortas, provoca vandalismo. Sem protestos, sem vandalismo. É uma forma indireta de criminalização das lutas.

Seja como for, ninguém tem o direito de agir para acabar com o protesto das outras pessoas, nem de submeter civis à reação militar a partir de ações militarmente organizadas por eles. Servem de pretexto para desmoralizar e desestimular os atos e os que defendem os direitos humanos.  Não me representam, e até que provem em contrário, são fascistas ou infiltrados ou tudo junto.




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