terça-feira, 14 de abril de 2009

Corrupção: a ponta do iceberg

Os escândalos que antes povoavam as revistas semanais aumentaram tanto de frequencia que agora aparecem nos jornais diários, às vezes mais de um. O inútil Senado virou um manancial perene de bandalheiras, mas elas pululam em todos os poderes, em todas as esferas. A melhor do dia foi de um obscuro deputado federal do Rio Grande do Norte, que usou sua cota de passagens aéreas para mandar artistas para enfeitarem seu camarote no Carnatal.

Alguém do Congresso certamente dirá que é legal, diante do regimento que eles mesmos fizeram para se locupletarem. Como foi no caso dos jatinhos do Tasso Jereissati e do Heráclito Fortes, que era proibido pelo regimento, mas alguém sem poderes para tal, outro senador, "abriu uma exceção".

As pessoas comuns tendem a achar que a motivação à eleição de uma pessoa está nos bons salários, nos empreguinhos para a família em gabinetes e nas mordomias de moradia, passagens, etc. Uma conta rasa mostra que um deputado, num mandato de 4 anos, embolsará entre salários e verbas indenizatórias algo como 48 meses x 40 mil mensais = R$ 1.920.000. Para arredondar, R$ 2 milhões. Só que, para se eleger, sua campanha custou algo na faixa de dois milhões de dólares, o que dá mais ou menos R$ 4,4 milhões. Mesmo que fossem "apenas" 1 milhão de dólares (campanha barata hoje para um político da direita), seriam R$ 2,2oo milhões.

Aparentemente, o político fez um mau negócio, e parece que tirou do próprio bolso para servir ao povo. Aí entram os "lobbies" de interesses econômicos, as doações de campanha feitas por empresas e os "mensalões", todas formas de corrupção corriqueiras que trazem aos bolsos dos políticos quantias inimagináveis. Imaginem quanto custou aprovar no congresso a reeleição, na época do FHC. Ou uma lei de interesse do agronegócio, ou do sistema financeiro. Aí, de vez em quando, alguém flagra uma mala ou cueca com dinheiro. É a ponta do iceberg.

Outra forma é o "racha" nas inclusões de projetos nos orçamentos oficiais. Como 85% das prefeituras não têm sequer um engenheiro ou arquiteto, empresas de consultoria inventam uma proposição de obra pública, e fazem contratos de risco com prefeitos e deputados. Caso a proposta passe, a obra já nascerá superfaturada para pagar os percentuais de cada um.

Nós pagamos essa conta toda. Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo, tinha como lema "rouba, mas faz". Hoje deveria ser atualizado para "rouba, mas não faz, ou faz mal feito". Em muitos lugares do mundo uma praça pública dura milênios, mas, no Brasil, mal resiste à inauguração, por causa de toda essa "intermediação parlamentar"

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