sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Petróleo desaba de preço: bom ou mau?

O principal fato econômico do ano aconteceu ontem, com a decisão do cartel da OPEP (Organização dos países exportadores de petróleo) de manter as atuais cotas de produção, mesmo com a economia mundial demandando menos. O resultado está hoje nas bolsas de commodities, com a queda acentuada do preço da mercadoria a níveis inimagináveis há poucos meses. Parece até a Black Friday do petróleo...

Cair o preço do petróleo é bom para quase todos. Nos lugares onde a queda for repassada aos preços haverá ganhos instantâneos de competitividade por redução de custos. Nas empresas aéreas, por exemplo, onde 45% do custo é com combustível de aviação, a queda de preços pode estimular as viagens. O mesmo vale para transportes à base de derivados de petróleo em geral e geração de energia elétrica, como termelétricas à base de diesel. O mundo todo deveria respirar aliviado com essa notícia e aplaudir a Arábia Saudita, líder do cartel, como grande colaboradora para a recuperação da economia global, certo?

Se o primeiro choque do petróleo em 1973 jogou o mundo numa crise sem precedentes e encheu os cofres dos produtores de petróleo, não seria uma contradição agora os países do cartel baixarem os preços, aparentemente perdendo dinheiro, em benefício das economias de todo o mundo? Seria isso uma espécie de consciência global, de grande filantropia, para fazer acontecer um novo florescimento econômico com petróleo mais barato?

Vamos desenrolar esse nó. O dinheiro que foi para as fortunas dos sheiks árabes desde a década de 70 foi em grande parte aplicado em empresas capitalistas ocidentais. Depois, migrou para países onde houve processos de privatização a preços vis. Com a crise de 2008, ativos perderam valor em todo o mundo e novamente os árabes da OPEP foram às compras, pegando galinhas mortas em todo o mundo.

Em suma: quem criou a crise comprou meio mundo a preço de banana com o dinheiro a mais que ganhou provocando a crise. E agora, permitindo que a crise se abrande e os ativos recuperem valor, perdem na venda de petróleo mas ganham muito mais com a valorização de tudo que compraram até aqui. Bancos, indústrias, agronegócio, transportes, etc, etc.

A redução de preços atingiria uma empresa como a Petrobrás de várias formas. Como hoje somos importadores, haveria um aspecto positivo. Já o plano de investimentos em exploração poderá dar uma freada. No Brasil certamente os combustíveis não baixariam de preço, mas demandas no setor petroquímico poderiam trazer novas fontes de ganhos. Além do mais, com a queda dos preços no mercado mundial haverá aumento de demanda, ou seja, mantendo-se os níveis de produção e crescendo a necessidade para fazer frente à recuperação das economias os preços novamente subiriam atingindo um novo patamar de equilíbrio.

Até aí o mundo dos mortais também lucra, afinal, o fim da recessão global reaquece economias, volta a gerar empregos, renda, etc. A pergunta que não quer calar é: qual o ponto de equilíbrio para o cartel, ou seja, onde pararão a queda dos preços para reaquecer a economia e favorecer seus outros negócios? A outra pergunta é: quanto tempo isso vai durar?

Por que poderia ser uma "oferta por tempo limitado"? Olhando para o cenário de poucos anos, o cartel enxerga os Estados Unidos investindo cada vez mais em tecnologias de exploração (fracking) para reduzir importações, um grande produtor em potencial, o Brasil, entrando no mercado exportador até o fim da década e muitos outros potenciais exploradores investindo em processos caros, que se pagam se o petróleo estiver na faixa dos US$ 100. Se cair a US$ 60, muitos poços mundo afora serão desativados por não compensarem ser explorados. O nosso pré-sal fica na marca do pênalti, com custos de US$ 50.

O meio-ambiente também seria outro perdedor, pois muitas das tecnologias energéticas alternativas de alto custo podem ser colocadas para escanteio numa competição em preços, mantidas apenas por privilégios legais. Isso pode encarecer os custos de produção, por exemplo, da Alemanha. E espalhar pelo mundo uma onda de construção de termelétricas á base de petróleo. No mundo dos mortais, a redução do preço dos combustíveis deverá entulhar mais as ruas com veículos e desestimular o investimento em transportes coletivos.

E a geopolítica? Haverá países beneficiados e outros prejudicados, bem como empresas poderosas.

As empresas exploradoras de petróleo de todo o mundo estarão preparadas para redução nos seus ganhos? Esses grupos econômicos, durante décadas, apoiaram ou derrubaram governos, promoveram guerras e apoiaram ditaduras como as do núcleo da OPEP - Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes. E países como a Rússia, maior produtor de petróleo do mundo, acossada por sanções econômicas e estruturada sobre a venda de petróleo e gás? O cartel responde por 1/3 da produção, mas os demais estão revoltados com a medida de baixar o preço.

E a Petrobrás, cujas ações hoje despencam quase 4% na Bolsa, e não é por causa de quadrilhas, mas pela nova realidade econômica que está impactando todas as produtoras de petróleo? Por um lado, enquanto somos importadores, a notícia da queda de preços é boa porque tira a pressão sobre o preço dos combustíveis. A questão está nas premissas que embasaram o plano de investimentos de longo prazo da Petrobrás, ou seja, na perspectiva de um preço do petróleo mais algo que o atual. Isso deverá gerar menos resultados que os esperados, trazendo baixa atratividade para suas ações e problemas de financiamento.

Isso também é problema para os bancos que, em todo mundo, financiam programas de investimentos de petrolíferas. No geral, os números da Bovespa mostram uma pequena alta, ou seja, o impacto sobre a Petrobrás pode ser minimizado pelas perspectivas positivas para outros setores. Na Bolsa de Nova Iorque a situação é parecida: o Dow Jones sobe levemente enquanto ações da Exxon e Chevron despencam mais de 4%.

A Arábia Saudita é a maior exportadora na OPEP. Sua resistência a manter preços impactará positivamente os países importadores, como boa parte da Europa, Japão, China e mesmo os Estados Unidos. E levará à instabilidade política, por exemplo, a Venezuela, maior exportadora do mundo, que depende dos recursos do petróleo para programas sociais. Estaria a Arábia Saudita, que está por trás de movimentos de desestabilização política em vários países do Oriente Médio, disposta a ver a Venezuela cair em mãos de governos de colaboração com os EUA que poderiam vender óleo a preços privilegiados ou conceder áreas de exploração? O mesmo vale para a Rússia, que não é do cartel, mas pode inundar o mundo com petróleo barato. E até o Brasil, que não é exportador, mas é uma ameaça em potencial.

Considerando-se que o mundo do petróleo não é democrático nem respeita fronteiras, abre-se uma nova perspectiva nas tensões mundiais. Enxerga-se por trás dessa redução de preços uma jogada de "dumping" para eliminar concorrentes por prazo determinado. Vamos ver o que acontece nos próximos dias. Não será surpresa se uma "primavera árabe" ou um "ISIL" chegar ao núcleo duro do cartel.



segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Petrobrás: Lei de FHC abriu as portas para a corrupção

A Petrobrás é alvo de muita ganância. Até mesmo antes de ter sido fundada por Getúlio Vargas em meio a uma campanha nacionalista em 1954, inimigos do Brasil já vendiam a idéia de não termos petróleo e de dependermos sempre das 7 grandes multinacionais.

Em 1964, nos primeiros dias do golpe, o General Mourão Filho, aquele que começou a movimentação de tropas em Minas iniciando a sublevação, sentou-se na cadeira da presidência da Petrobrás e começou a dar ordens. Não foi confirmado por Castello Branco e perdeu a pose, mas foi uma tentativa de apoderamento da estatal para interesses privados em nome da "caça ao comunismo".

Em 1997, governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, veio a grande facada na Petrobrás, através da Lei 9478/97 com a criação da ANP, o fim do monopólio da exploração e o regime de concessão de blocos de petróleo. Além disso foi aberta a porta para a terceirização de serviços e licitação sem controles rígidos, fora da Lei 8666 de Licitações Públicas.


O art. 67 da lei 9478/97 dá à Petrobrás privilégios licitatórios que escapam à Lei 8666:
"Art. 67. Os contratos celebrados pela PETROBRÁS, para aquisição de bens e serviços, serão precedidos de procedimento licitatório simplificado, a ser definido em decreto do Presidente da República." .

Dando sequência às exigências da lei, o presidente Fernando Henrique Cardoso baixou o decreto 2745/98 regulamentando as licitações no âmbito da Petrobrás abaixo das exigências da lei 8666.

A partir daí começaram os leilões de blocos de petróleo, FHC botou seu genro como presidente da ANP, a entrega da Petrobrás chegou ao cúmulo de se propor adaptar seu nome à melhor pronúncia por estrangeiros (Petrobrax), discutiu-se a privatização e falhas como o afundamento de uma plataforma e mortes de trabalhadores por conta de terceirizações.

As condições para a formação de esquemas foram dadas em 1997. Os diretores da Petrobrás acusados de formação de quadrilha foram nomeados para cargos relevantes em termos de decisões sobre licitações no governo FHC. Até que Dilma demitisse os suspeitos, muita gente se favoreceu dos esquemas, e isso tem que ser apurado.

A Petrobrás não pode ser um instrumento de golpe, como bem entende a Federação Única dos Petroleiros. Assim como em 1964, o que alguns pretendem é derrubar Dilma a pretexto de "tirar de lá os petistas que a aparelham"sem que as investigações evoluam até as origens, para que pairem dúvidas apenas nos períodos governados pelo PT. Essa é a premência do golpe ou impeachment que pretentem: parar o jogo enquanto as investigações não chegam às origens, onde o DNA de oposicionistas ficará flagrante.

Tudo tem que ser apurado até que não restem dúvidas. Pedra sobre pedra, como disse a presidente Dilma. Ou pena sobre pena de tucanos.




domingo, 9 de novembro de 2014

Ucrânia : Viver pela pátria e morrer sem razão

Ao planejar a viagem à Ucrânia que agora fazemos tivemos muitas dúvidas pois as notícias eram contraditórias e não inspiravam confiança. Cenário de guerra separatista, neonazistas fora de controle, forte influência dos EUA e Comunidade Européia instigando o enfrentamento com a Rússia, etc. Mesmo assim viemos pois as coisas em Kiev pareceriam tranquilas.

De fato, chegamos ontem (sábado) à tarde e mesmo com a noite pudemos perceber que a cidade oferece segurança onde estamos, junto à Praça da Independência (Maidan) e trata-se de uma das mais belas praças que já vimos. Preços bons para o nosso poder aquisitivo. Metrô a cerca de R$ 0,40.

Com todos os alertas ligados e baixas expectativas chegamos à estação Maidan do metrô vindos do aeroporto. No trem as pessoas mostravam semblantes preocupados. O que mais me impressionou e deprimiu foi ver , ao final da subida pela enorme escada rolante, um soldado muito jovem com sua farda camuflada sentado num batente na estação, mochila ao lado, olhando para o nada. Vi naquele garoto as feições do meu filho mais novo e o imaginei indo para a guerra.


Que guerra? Contra ucranianos de origem russa, que se defendem de possível isolamento em campo de concentração, da proibição do uso de sua língua, de massacres e expulsão do território pelos neonazistas que cada vez mais ganham influência no governo e estão fora de controle formando batalhões  militares vistos pelas entidades de direitos humanos como criminosos de guerra. Não é exagero falar nessas hipóteses, pois já conhecemos o nazismo, o que fizeram contra os ucranianos na II Guerra Mundial, na colaboração dos nazistas ucranianos liberados por Banderas, nos genocídios da região, faxinas étnicas, estupros de mulheres, etc. Quem vive nas regiões de Lugansk e Donetsk tem forte motivação para defender sua vida, seu território, sua história, sua cultura e sabe que as opções são a luta pela sobrevivência ou a morte pelo massacre.

E o menino-soldado, o que o motiva a dar sua vida para lutar? Soldados em todos os países geralmente são filhos de famílias pobres, em busca de oportunidades. No adestramento militar aprendem a obedecer ordens acima dos riscos. Não se admite questionamentos nem covardia. É matar ou morrer. Em condições normais, como lembraria Geraldo Vandré, "nos quartéis nos ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão".

A Ucrânia é um país milenar e viveu pouco tempo independente, considerado o período histórico. Foi uma das últimas repúblicas a se separar da União Soviética, que já tinha sido dissolvida por decisão parlamentar quando eles se declararam independentes. Os laços com a Rússia são muito fortes, bons ou maus, remanescendo aos tempos dos tzares e depois dos soviéticos. Destruída na II Guerra Mundial, foi reconstruída no esforço coletivo da União Soviética sem apoio do ocidente.

Sair da União Soviética foi um duro golpe na economia. Desde então buscam alternativas, e a última foi a abertura à Comunidade Européia na esperança de conseguir capitais de investidores para alavancar sua economia. Essas negociações sofreram um solavanco quando os Estados Unidos, que dominam a OTAN, tentaram influir militarmente na região, o que não foi aceito pela Rússia. Há um ano começaram as manifestações na praça central de Kiev (Maidan), do movimento chamado Euro Maidan. O governo de então, que vinha fazendo as negociações, sabendo da contrariedade e de ameaças econômicas da Rússia, resolveu não assinar o acordo que traria a Comunidade Européia e a OTAN para dentro de casa. A partir daí, com o apoio de potências ocidentais, mercenários neonazistas apoiados por setores de classe média pró-Europa e anti-Rússia, começaram suas barricadas na Maidan.

Em fevereiro de 2014 a situação se agravou com a morte de ativistas e outras pessoas por tiros de franco-atiradores na praça que ninguém até hoje soube quem foram. Foi o estopim para a queda do governo. Com o desenrolar dos fatos que culminaram com um novo governo pró-ocidente e anti-Rússia com a participação de vários líderes da Euro Maidan, a região da Criméia, de ampla maioria de natureza russa, declarou sua independência e anexação à Rússia. Começava o colapso da Ucrânia.

Radicais anti-russos falavam em proibir a língua russa no país, o que deixou o grande contingente de ucranianos-russos em pé de guerra. Sabiam o que viria e começaram a se revoltar. Mais uma vez os neonazistas bancados por potências estrangeiras partiram para a violência, organizaram as milícias do Setor Direita e passaram a atacar russos e ucranianos-russos. Veio a guerra separatista, onde o exército regular da Ucrânia, esse do menino-soldado, está sofrendo grandes derrotas. Mais de 4 mil mortos até aqui. A todo momento os separatistas liberaram soldados ucranianos presos. Há poucos dias o ministro da Defesa foi destituído do cargo. Foi o quarto em menos de um ano.

A ofensiva de mídia pelo mundo criminalizando os rebeldes não para. Um avião da Malaysian Air foi derrubado e a culpa colocada neles, mesmo com fotos indicando que a cabine foi metralhada por aviões que os rebeldes não dispoem. Esse foi o motivo alegado para mais sanções contra a Rússia que, na prática, não existem. Há poucos dias a Ucrânia foi novamente humilhada com um acordo de cúpula entre a Rússia e a Comunidade Européia garantindo o gás russo para este inverno. Com a inclusão da Ucrânia no pacote.

No mais, o PIB da Ucrânia deve cair quase 10% neste ano. Os investimentos não chegam, a guerra consome recursos e a situação precedente se agrava. As pessoas migram para outros países, a grande maioria da população continua passiva, consolida-se o "quase estado" da Nova Rússia (Lugansk e Donetsk), a OTAN late mas não morde e Putin conseguiu entre os russos seu maior prestígio pela anexação da Criméia e apoio aos revoltosos. Quem perde é o povo ucraniano.

Voltando ao episódio do metrô, ao sair da estação em frente ao Monumento à Independência vimos a larga avenida fechada e uma homenagem com velas, músicas e grandes banners de fotos aos que lutaram em Maidan e estão na frente de guerra. Retratos com flores e velas e nomes dos que tombaram por toda parte. Jovens fazendo daquilo uma festa, com seus selfies e muita falta de noção.

Jovens da mesma idade do menino-soldado, que não irão para o front morrer para que alguns sejam mais europeus que ucranianos. Afinal, quando as guerras eclodem, os primeiros a fugir são os que têm mais recursos, e sobreviverão para depois da guerra sequer voltarem. Essa homenagem acabou por volta das 20h. Em seguida, jovens passaram a chegar à avenida com suas garrafas de bebidas, música e muita alegria. Vida que segue. A família de cada morto recebe seu corpo num caixão com a bandeira do país mais a quantia de HRV 609.000 de indenização pela vida abortada, uns R$ 120 mil.

Quando me lembro das jornadas de junho de 2013 no Brasil a comparação é inevitável. A diferença é que Dilma respondeu com mais participação popular: propôs plebiscito por uma reforma constitucional e criou o Conselho Nacional de Políticas Sociais, aquele que a direita detonou logo após as eleições de 2014. Vendo a reação furiosa dos eleitores da direita pedindo castração química de eleitores de Dilma, construção de muro separando o nordeste, mandar os nordestinos de volta para casa, chamando os militares às ruas para dar um golpe, pedindo intervenção norte-americana, não é difícil pensar no que poderíamos ter passado se eles conseguissem derrubar Dilma no ano passado.  Vira-latas e mercenários existem no mundo todo, e os nossos a toda hora tentam levar os filhos dos nossos pobres à guerra pelos seus interesses.










segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O mundo está queimando reservas sociais

Tenho viajado bastante e observado como as pessoas vivem em quase 50 países. Noto que há um padrão de decadência mais visível nos países da área de influência da antiga União Soviética que agora começa a ser notado em outros na Europa, em especial na Zona do Euro exceto Alemanha. Na Escandinávia e Grã-Bretanha não chegamos a ver isso facilmente.

Minha conclusão, grosso modo é que o mundo ocidental está queimando ativos sociais, ou seja, é como se uma poupança feita por décadas estivesse sendo queimada agora e sem chances de ser reposta. Logo alguns IDH irão cair e a decadência criará conflitos. Pouco importa que o PIB cresça, as condições sociais não estão melhorando. O gráfico abaixo, extraído do Tijolaço, ilustra esse fenômeno.

Junto com a pobreza está chegando o corte de benefícios sociais com o sucateamento de escolas, hospitais, equipamentos públicos, etc. Você vê que falta dinheiro para manutenção das coisas e que estão sendo feito cortes que pioram a qualidade dos serviços por anos e anos. O que era, por exemplo, um bom equipamento médico numa época, hoje é uma sucata porque não foi substituído. Uma boa escola de ontem agora tem goteiras, móveis em estado ruim de conservação e menos professores. E os que continuam têm piores salários. Os empregos caíram de qualidade e os salários perderam poder aquisitivo, fazendo com que as casas boas do passado fiquem visivelmente deterioradas e cheias de remendos.

Essa poupança foi feita por décadas de políticas de bem-estar social, especialmente no pós-guerra. No bloco soviético a economia planificada conseguiu resultados muito mais visíveis em curto prazo que nas economias socialistas. Agora, com a volta ao mercado, a decadência é mais rápida pois os países não têm condição de sustentar tais avanços com a produção anárquica voltada ao lucro e concentração das poucas riquezas nas mãos de um punhado de ricos da nova elite.

O que me parece acontecer é o descolamento entre a variação do PIB e a melhora ou manutenção do desenvolvimento social. Fala-se muito que o PIB no Brasil não cresce, mas está melhor que em outros países. Esse indicador, felizmente no Brasil, parece não refletir os avanços sociais dos últimos 12 anos. Nos demais países seu crescimento não significa mais melhora nas condições de vida, mas do capital.

No Brasil estamos na contra-mão disso. Nunca tivemos reservas sociais e agora começamos a construi-las, com ou sem PIB espetacular. A saída de 40 milhões de pessoas da pobreza, as novas universidades, escolas técnicas e o PRONATEC, os avanços (mesmo poucos) na saúde pública, o fim da fome crônica, tudo isso eleva o IDH e cria novos patamares de qualidade de vida. Isso explica o voto em Dilma pelos beneficiários de toda essa conquista e pelos que consideram que a inclusão do amplo contingente social é um sintoma de desenvolvimento e também votaram para ter um país socialmente melhor para todos.

Mesmo que a crise nos atinja com maior vigor o eleitor de Dilma sabe que ela fará de tudo para manter esse novo ativo mexendo em outras variáveis da economia, ganhando tempo para beneficiar o máximo de pessoas ao máximo. Assim como sabia que no caso do PSDB ou Marina vencerem a primeira coisa a ser descartada seria o ativo social duramente conquistado. Eles privilegiariam a saúde e o desenvolvimento do capital e dos mais ricos. Suas medidas seriam cortes nos programas sociais (embora negassem e fizessem demagogia com melhoras neles), redução dos custos de produção das empresas capitalistas (perda de direitos trabalhistas e redução do poder aquisitivo dos salários), facilidades e benesses ao capital, juros altos, etc.

Enquanto na Europa a perda da qualidade de vida da maioria cria descrença na política e fertiliza o campo para o fascismo e a demagogia, por aqui os revoltados são de uma elite que se acostumou a ter para si com exclusividade o melhor dos ativos sociais e agora se recusa a vê-los estendidos aos demais, mesmo que não esteja perdendo nada com isso. Não aceita que outros tenham oportunidades e ameacem seu mundo de privilégios através da meritocracia que alegam ser a chave do sucesso. Ficam assustados, por exemplo, com a maioria dos novos alunos aprovados para o ITA ser de origem cearense. Eles são o novo fascismo, por motivos outros.


domingo, 2 de novembro de 2014

FANOAPÁ 0077 : "Pelo fim da democracia, intervenção militar já"

O mais incrível que ver nos punhados de reacionários sem-noção pedindo uma ditadura pelas ruas do país é que o ódio pós-eleitoral parece ter cegado completamente. Completando a temporada de Falta de Noção que Assola O País - FANOAPÁ - o PSDB entrou na onda, pediu recontagem de votos e seus líderes instigam o impeachment de Dilma porque... PERDERAM A ELEIÇÃO!

Pior, muitos desconhecem a extensão do que hoje seria uma ditadura de direita fascista como querem. Em 1964 as pessoas temiam o comunismo e foram às ruas tirar Jango. Hoje se pede a deposição de Dilma por temerem o comunismo, e o extermínio dos "petralhas". Querem sangue mesmo. Uma ditadura pior que a de 1964, um Pìnochet, um Hitler, alguém que botasse seus desafetos num estádio e fuzilasse. Na lista, qualquer eleitor de Dilma, nordestinos, homossexuais, beneficiários do bolsa-família, alunos do Pronatec, médicos cubanos, etc, etc.

Esses fascistas conseguem afastar até os eleitores de Aécio que por alguma razão protestaram contra Dilma e não querem o banho de sangue pretendidos pelos "indignados" que são convocados às ruas até por ONG norte-americana. Estão isolados, mas nem por isso se deve desprezá-los.

Precisam de um banho de democracia. Nenhuma negociação, mas de demonstrações públicas de grande peso pró-democracia, garantindo o resultado das eleições, pedindo que o judiciário desemperre os processos contra corruptos e reforma do sistema político.

Se isso não bastar, que se aplique o rigor da lei a quem prega o secessionismo (botar muros separando brasileiros de diversas regiões), a discriminação contra nordestinos, o golpe anti-constitucional. Botar essas pessoas para sentirem o peso das suas propostas. Não se pode, jamais, ser omissos em relação a eles, que não são apenas gente sem-noção: são perigosos. Agridem eleitores de Dilma, agridem o resultado das eleições, agridem a sociedade inteira e até aos militares demonstrando insanamente desprezar o povo, o país e suas instituições.