terça-feira, 23 de junho de 2009

Paraty (RJ) : Praia de Trindade












A Vila de Trindade fica numa praia na divisa RJ/SP, dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina. É distrito de Paraty, distando uns 40 km de lá. Fica a umas 4h de viagem do Rio, vindo pela Dutra e descendo por Lidice e Angra dos Reis.

Conheci o lugar em 1979, quando a Rio-Santos era muito precária, e o acesso à praia era uma ladeira íngreme e enlameada, mas que não era problema para um Fuscão 72. Salvo se chovesse, o que era iminente. Deixei a barraca e os mantimentos na praia, e deixei o carro no alto da ladeira, pois sabia que não sairíamos de lá se a pista enlameasse, voltando a pé para a praia. Na descida, vimos que haviam pessoas nos acompanhando clandestinamente, pelo meio do mato. Num certo momento, vi sobre a mata o cano de uma espingarda. Continuamos andando, e chegamos à barraca sem abordagens.


O lugar era muito selvagem. Não tinha energia. E parecia fantasma, não se via quase ninguém, apesar de vermos casas dos nativos caiçaras. No único boteco do lugar, que era tipo quiosque rústico, de palha de coco, soubemos que havia uma multinacional reivindicando a posse do lugar, para construir um condomínio de luxo, e que os caiçaras se armaram e patrulhavam a estrada para combater eventuais pistoleiros enviados pelos grileiros. Era sinistro. Quase guerrilha. Considerando que era tempo de ditadura, os caiçaras tiveram muita coragem de encarar uma multinacional da especulação imobiliária.


Conseguimos sair de lá no dia seguinte numa caminhonete que foi comprar peixe, e tivemos que empurrá-la bastante nos atoleiros da ladeira, pois chovera muito à noite. Tirei poucas fotos e mal vi o lugar. Só pensava em sair de lá. Recentemente estive lá 3 vezes, e pude conferir que os caiçaras ganharam a disputa com os grileiros, o local virou uma Área de Preservação Ambiental e hoje tem um punhado de boas pousadas, algumas diretamente na frente do mar. De preferência fora de feriadões e de finais de semana. Come-se boa comida do mar.


Hoje o problema é a superlotação de turistas, que exaurem os recursos do lugar e deixam poluição, alojados em grandes acampamentos O ecossistema é frágil. Os nativos já pediram ao Ibama para tentar controlar a quantidade de pessoas que descem por lá, a exemplo de Fernando de Noronha. As belezas naturais não são narráveis por fotos. A estrada da ladeira está asfaltada, mas não é qualquer carrinho 1.0 que sobe se estiver cheio.



Nenhum comentário:

Postar um comentário