domingo, 22 de abril de 2012

Viagem : A cilada das encomendas no exterior aos viajantes

Garanto que alguém que já tenha feito uma viagem internacional jamais pedirá a amigos que comprem algo encomendado. É até antipático negar-se de antemão a atender pedidos, parece má-vontade, mas o fato é que as compras podem se tornar um caro e arriscado pesadelo.

O problema começa pela cota de 500 dólares, que o viajante normalmente reserva para si porque não dá para trazer muita coisa. Um iPAD dos mais baratos está nessa faixa, sozinho. Alguns celulares estão mais caros que isso. Antes de sair do Brasil o incauto viajante que prometeu trazer coisas já sabe que pode dar rolo na alfândega quando chegar, o que pode acarretar até em perder uma conexão de vôo doméstico e nas multas e taxas de importação.

E os malas-sem-alça que de cara pedem algo mais caro que a cota? "Traz um notebook, tá aqui o dinheiro, tem na loja tal por tanto". Quem pede não tem a menor idéia do roteiro do viajante, se a tal loja fica perto, etc. E quando a compra é volumosa? Há empresas aéreas que cobram por número de volumes, e um pacote adicional pode representar algo em torno de 40 dólares. Fora o excesso de peso. E o transtorno para ir de cidade a cidade, ainda na viagem, carregando coisas frágeis ou que podem ser roubadas?

Tem os malas que trazem especificações, tipo "lápis de sombrancelha marca tal, tipo tal, com tampa assim e assado, tamanho médio, anti- alérgico, cor assim e assado, que tem na loja tal". Geralmente quem faz esse tipo de pedido não aceita se você traz um produto similar, mesmo que você considere a diferença pequena. Mais apurrinhação se aceitar a encomenda e não trouxer exatamente o que se pede.

Imagina se alguém te dá uma grana para trazer coisas e você é assaltado? E se você compra e a coisa chega danificada? E se roubarem a mala com as compras? E se não for exatamente o que se pediu? E se você não traz? Aí é aquela conversa: se negar, a pessoa acha que é má vontade. Se não trouxer, também parece má vontade.

Por fim, um dado devastador : perder tempo em compras é muito caro! Apenas para dar idéia, se um casal  vai a Nova Iorque passar 5 noites, dificilmente terá tempo para cobrir uma programação básica de museus, Estátua da Liberdade, Empire Estate e outras coisas obrigatórias para não chegar ao Brasil e os amigos sacanearem porque foi lá e não viu isso ou aquilo.  O tempo para compras prejudicará alguma atividade, com certeza, por melhor que seja o planejamento.

Passagens e pernoites do casal custarão na base de R$ 6 mil. Comida, transportes e coisas essenciais serão mais uns R$ 1000 no período. Na média, o passeio custará, sem considerar ingressos e supérfluos, na base de R$ 1400 por pernoite, mesmo que a pessoa fique no hotel e não vá a lugar nenhum. Se um dia é perdido para gastar as cotas do casal, que totalizam cerca de R$ 1900, o custo é de R$ 1400. Assim sendo, o custo total das compras será de R$ 3300, e não os mil dólares, por causa do dia perdido que tem que ser computado como custo, na hora de tomar a decisão por sair às compras.

Quando viajo a política é de não perder tempo. Tenho comprado algumas coisas, como perfumes e bebidas,  em free-shop na chegada ao Brasil, porque já é um tempo perdido de espera nos aeroportos e a fatura do cartão é em reais, sem o acréscimo do IOF. Nos lugares onde passamos, limitamos as compras a algum souvenir significativo do local, tipo ímã de geladeira ou caneca, coisas de loja que a gente sempre encontra pelo caminho. Compra de no máximo 20 minutos. Lembrancinhas? Só se der tempo e tiver espaço na bagagem.

Há lojas que são pontos turísticos, como as grandes galerias de Paris, a Harrod's, em Londres, etc. Mesmo que não se compre nada, é uma experiência interessante. Supermercados também são obrigatórios. Enquanto se compra, aprende-se muito sobre os hábitos do lugar, os produtos locais, encontra-se pessoas locais, etc. Se por acaso passar numa delas e vir algo interessante, sem muita fila, e a decisão de compra for rápida, ainda vai.

Numa viagem de várias cidades o peso das compras pode ser importante na bagagem, atrapalhar a logística e acrescentar custos por ter que pegar um táxi ou guardar coisas em malex. Quanto mais leve, melhor, e quanto menos compromissos de comprar coisas, melhor seu tempo poderá ser aproveitado para coisas importantes da viagem. Negar encomendas não é deselegante. Chato é quem, por falta de noção ou panaquice, cria crises diante de uma recusa em trazer coisas. O problema não é do viajante, mas de quem insiste em comprometer a sua viagem para satisfazer às suas vontades. 

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