sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Cidade do Panamá : Riqueza suspeita em meio a grandes desigualdades

Aproveitei uma conexão na viagem a Cuba para passar 3 noites na Cidade do Panamá e conhecer a realidade do país. Para quem só fica no hotel e segue roteiros turísticos tudo parece maravilhoso. Quando se anda de ônibus normal e se sai da área "bonita" da cidade, aparecem os questionamentos.

Para os brasileiros mais informados Panamá lembra:
- chapéu Panamá, usado por malandros cariocas, que são feitos no Equador;
- escândalo de corrupção, por conta das obras superfaturadas de construção do canal no século XIX;
- país cuja independência da Colômbia serviu a negócios e estratégia geopolítica norte-americana;
- o seu canal que divide as Américas, onde transita uma importante parcela do comércio mundial;
- a Zona do Canal, enclave norte-americano que durou até 1999 onde existia a Escola das Américas, centro militar que preparou por décadas o banditismo militar da América Latina.
- Noriega, ex-ditador militar preso em invasão norte-americana e deportado para os Estados Unidos por envolvimento com cartéis de narcotráfico colombianos;
- berço de empresas de fachada, inclusive brasileiras, onde até a Globo e os irmãos Marinho têm as suas;

Para outros, a informação que chega é a do "Panamá hub das Américas, centro de compras". Afinal, o que parece ser de verdade o Panamá para quem chega por aqui e não entende como há tantos prédios altos, modernos e luxuosos em uma área da cidade e problemas de infra-estrutura e de carências comuns ao terceiro-mundo nas áreas circundantes? Por que tantos e tão grandes prédios de bancos em um país onde há tanta pobreza? De onde vêm tanta pujança e tanta desigualdade num país que cresce seu PIB à base de 11% ao ano?

Uma explicação mais recente é a procura por aposentados norte-americanos, que compram imóveis a preços relativamente baratos (para eles) e contam com incentivos do governo panamenho para fixação no país. Outra seria a perspectiva de mais negócios com a ampliação do canal, que deverá ser concluída neste ano. Seria isso mesmo? Na minha visão, os sinais aparentes de riqueza vistos nas ruas do centro financeiro, na orla e em Punta Pacifica não são explicados por pouco dinheiro.

Por que tantos bancos? Por que o "boom" imobiliário de luxo? O que explica um investimento como uma ilha artificial construída para instalar condomínios de luxo, no estilo Dubai? Por que o Panamá tem tantas facilidades para a abertura de empresas de fachada? Como explicar que seja um dos países que mais atrai capitais no mundo? Logística? Turismo? Força financeira? O que banca realmente esse fenômeno?

 Uma outra explicação está na posição geográfica privilegiada para o contrabando entre os dois lados do mundo. Outra, na facilitação à lavagem de dinheiro do narcotráfico colombiano e ao próprio tráfico. Agora há pouco vi na TV local que há suspeitas de financiamento do narcotráfico a campanhas eleitorais nas eleições gerais em andamento. Há um número expressivo de propriedades e empresas de colombianos no país, pelas quais se poderia lavar dinheiro. Estaria o Panamá substituindo Miami no papel de ponto de convergência de fortunas e grandes atores do crime internacional?

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