segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O 4o PIB do mundo, o desespero da Folha e o vestido de Dilma

Tava nos jornais de ontem: o Brasil poderá ser o quarto PIB mundial em 2050, se continuar o desenvolvimento sustentável recentemente conquistado. Por Lula, claro, mas o estudo da Price Waterhouse não fala isso, e deixa margem para a mídia esticar o prazo do sucesso por mais oito anos antes dele, mesmo sem nenhum indício de causa e efeito. Vai passar a França neste ano e o Reino Unido em 2013.

Serra perdeu essa festa, por isso a imprensa golpista, que o vê como o Rei D. Sebastião do século XXI, furiosa, tem que descontar noutra coisa. Tudo agora vai ficar a crédito de Dilma e Lula, pensam eles, por isso devem atirar qualquer coisa para derrubá-los, mesmo que a picuinha mais imbecil, mesmo a descrédito do meio de comunicação.

A Folha foi longe demais: acusou Dilma de desvalorizar os produtores de moda brasileiros ao usar na sua posse um vestido de uma estilista gaúcha sem fama internacional. A "lógica" da matéria da Folha é a seguinte:
- o Brasil tem estilistas de alta moda reconhecidos mundialmente;
- a Presidente do Brasil não gostou de nada que eles produzem, e partiu para outra coisa que considera melhor;
- estilista gaúcha sem renome não deve fazer moda;
- lá fora, os ti-ti-tis dirão que os estilistas brasileiros famosos foram desprestigiados porque não prestam;
- as vendas brasileiras de moda "prêt-a-porter" vão despencar por causa disso;
- Dilma derrubou os estilistas brasileiros porque produzem para a elite;
- o superávit da balança comercial brasileira vai despencar por culpa de Dilma;
- a imagem do Brasil no exterior vai ficar péssima por causa de Dilma;
- Dilma é o demônio.

Abaixo, a reprodução do besteirol raivoso da Folha:
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Look da presidente põe em xeque projeto de prêt-à-porter brasileiro de prestígio

Folha de S. Paulo - 09 de janeiro de 2011
ANÁLISE

ALCINO LEITE NETO /
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Ter uma mulher na Presidência da República é uma espécie de revolução para um país cujo passado patriarcal é dos mais pesados.

Dessa perspectiva, parece fútil tratar da relação de Dilma Roussef com a moda. No entanto, eis um pequeno tema que deverá estar presente nos quatro anos de governo.

Antes que me acusem de sexista, gostaria de deixar claro que não estou preocupado com o estilo da presidente. O que me interessa é a decisão que tomou de vestir na posse uma roupa feita por uma costureira particular pouco conhecida, e não um modelo criado por algum dos principais criadores ou grifes brasileiros.

A escolha de Dilma representa um baque para as marcas nacionais de moda. Há décadas, estilistas e empresários vêm se empenhando em criar um prêt-à-porter brasileiro de prestígio, nos moldes do que ocorreu na França, na Itália e nos EUA.

Naqueles países, a indústria de moda é bastante forte, uma empregadora de peso e uma poderosa fonte de riqueza. Não é à toa que Michelle Obama elege cautelosamente a grife americana que vai vesti-la em eventos expressivos. O mesmo faz Carla Bruni, ao selecionar seus trajes entre as famosas "maisons" francesas.

Nas escolhas dessas primeiras-damas, está em jogo não apenas a elegância, mas também o compromisso com um extrato da economia de seus países.

É certo que Dilma optou por uma roupa brasileira, feita com toda dignidade pela gaúcha Luisa Stadtlander. Agindo assim, entretanto, acabou por colocar em xeque a relevância das grifes nacionais de prêt-à-porter e de luxo, bem como o projeto que elas mantêm de modernizar o design, a produção e o consumo no Brasil.

A decisão da presidente demonstra outras três coisas: que os celebrados estilistas nacionais não estão aptos a agradar mulheres "reais" como ela; que a política de afirmação do prestígio das grifes está muito longe de se efetivar no país; e que a indústria de moda brasileira, enfim, parece não ser um assunto significativo para a Presidência da República.

Um comentário:

  1. Se a Dilma escolher um costureiro ou estilista, como uns e outros querem quer etiquetados, vão falar. Se ela não escolher, vão falar. Se ela comprar a roupa nas lojas de departamentos do shopping da esquina, vão falar. Se ela mesma fizer sua roupa, vão falar. O que eles querem é falar, falar, falar...Coisa de marocas na janela olhando o que a vizinha está fazendo.

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