quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mídia golpista quer impor pauta a Lula e Dilma

Acontecerá amanhã (23), em São Paulo, o ato público contra a manipulação da mídia, que congregará profissionais de imprensa, meios de comunicação alternativos, centrais sindicais e partidos políticos. O jornal O Globo chama o evento de "ato chapa branca" e tenta manipular o seu objetivo, que seria de "censurar a imprensa e acabar com a liberdade de expressão", e transformar a relação governo x mídia em algo como o que acontece na Venezuela ou na Argentina. Buscam apoios em entidades como OAB e Sociedade da Internacional de Imprensa como se fossem vítimas de um governo ditatorial.

Escolheram um péssimo momento para o confronto. Em todo mundo há um fenômeno de redução dos leitores de jornais, de pulverização das mídias e de inserção de novas mídias, como a Internet. Mesmo que vários grandes meios de comunicação se unam num cartel criminoso da manipulação, as informações conseguem fugir à sua censura e circulam entre as pessoas. Isso também é mundial, e um exemplo é a divulgação de imagens de protestos que acontecem em vários países e são censurados por governos e quadrilhas de mídia.

Pior ainda: não conseguiram derrotar Lula ao longo de quase 8 anos, num esforço diuturno de difamação, de censura ou minimização dos resultados positivos e amplificação dos negativos, de destruição sistemática e preconceituosa do operário presidente e de criminalização de movimentos sociais. Pelo contrário: contra todo o esforço dela, o presidente tem avaliação positiva de 80% dos brasileiros ao final do seu mandato, mesmo com a potencialização de escândalos como o do mensalão pela mídia. Hoje apenas 4% da população achao governo ruim ou péssimo. E recentemente a grande mídia foi desmoralizada em episódios como o "#dilmafactsbyfolha", de repercussão internacional, achincalhando o jornalismo de baixo nível da Folha de São Paulo.

Bater de frente com essa realidade e provocar a instabilidade política neste momento é uma insanidade. O que está levando a mídia partidária a essa atitude extrema é que, ao contrário de Lula, que capitulou em 2002 a esse poder espúrio assinando a Carta aos Brasileiros, prometendo não atacar o capital (e cumpriu), Dilma entra sem nenhum compromisso com eles. Não lhes pede a bênção. Vai ter mais condições que Lula para aprofundar as reformas necessárias a tirar o Brasil do atraso onde esse setor da mídia é dominante. Como a oposição se acabou, sem projeto alternativo, e Serra marcha para o fracasso, mesmo descambando para a demagogia barata, esses senhores da imprensa saíram da retaguarda e vieram para a linha de frente. E vão perder, porque radicalizaram a ponto de não haver retorno. Se baterem, vão apanhar também.

O princípio da publicidade dos atos do estado está na Constituição de 1988. A rigor, nenhum governo precisaria pagar caros espaços de mídia para divulgar informações de interesse público. Tem o Diário Oficial, a TV estatal e sites na internet. Os poderes hoje têm alternativas de publicidade, mas a vaidade dos dirigentes é que impõe o gasto em espaços de mídia dominados por estes que hoje tentam golpear o estado. Sem fugir ao princípio constitucional, o estado poderia resolver não mais conceder informações exclusivas de qualquer dos seus titulares, e licitar espaços de propaganda em mídias mais pulverizadas, democratizando a mídia na prática.

Ninguém é obrigado a criar provas forjadas contra si, a partir de distorções da imprensa. Ainda lembro bem do "democratismo" de deixar a Rede Globo entrar em assembléias de sindicatos para fazer imagens, que não apareciam em nenhum telejornal, mas certamente serviam para outras finalidades, como a identificação de lideranças para mapeamento ideológico. Vi episódios onde os profissionais foram expulsos sob o côro "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Nunca voi cobrada a participação criminosa da mídia no apoio à repressão da ditadura militar, e esse é um dos temores que pretendem colocar em um acordo com o novo governo, para não acontecer o que está havendo na Argentina, onde os principais jornais estão no banco dos réus por terem se mancomunado com a ditadura para criar o oligopólio da fabricação do papel de imprensa.

O presidente americano Barack Obama, por exemplo, declarou guerra à rede de TV Fox News, que só o chama de comunista e racista contra os brancos, usando todos os seus espaços e comentaristas contra ele desde a campanha eleitoral. E abriu o debate sobre liberdade de expressão x meios de comunicação, sem que houvesse comoção nacional. Aqui no Brasil cria-se quase um clima de guerra. Aqui parece que os que se acham donos da opinião pública, os "guias geniais do povo", como se dizia de Stalin, pensam que ainda influem como no passado, e se atiram à aventura suicida. Derrotar sua imposição de pautas reacionárias é a tarefa revolucionária do momento.

A mídia em mãos de gente de má-fé tem um poder imenso de criar condições para a chantagem. Quantos colunistas já tiveram em mãos informações bombásticas, escândalos devastadores, e fizeram disso moeda de troca com os potenciais prejudicados? Quantos jornais, revistas e TVs criaram campanhas sistemáticas contra determinados políticos ou governos, para depois negociarem vantagens (jabá), como publicidade oficial nas suas páginas? Por outro lado, o capitalismo tem a virtude concorrencial. Desta crise artificial poderão surgir oportunidades para que os que furarem o cartel possam emergir como novas alternativas de mercado. A Isto É e a Carta Capital, por exemplo, não se alinham automaticamente ao esquemão Globo/Folha/Estadão/Veja/Época. Há telejornais e comentaristas que distoam da linha dura deles, e que certamente crescerão em audiência. Na Internet cresce a audiência dos blogs autônomos. Também há espaço para novas publicações independentes, e da expansão da imprensa de internet. O próprio mercado pode fechar o caixão da podre mídia do século XIX que dá seus últimos suspiros.

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