sexta-feira, 6 de julho de 2012

Siria : Oposições antagônicas dificultam intervenção

A mídia vende a idéia de uma luta revolucionária da oposição liberal síria, pró-ocidental, contra o regime de Bashar al Assad, na Síria. A falha na afirmação está no singular em "oposição". Há várias oposições, algumas unidas em torno da FSA (Free Syria Army, ou Exército Síria Livre), armado e municiado pela Arábia Saudita e Catar, com apoio velado do governo norte-americano, e os grupos de origem islâmica. Essas oposições têm profundas divergências estratégicas e ideológicas, e disputam entre si a primazia do combate ao governo, combatendo-se mutuamente.

O episódio mais visível dessa guerra civil entre oposições foi a execução, pelo FSA, de um líder islâmico Walid al-Bustani, que declarou a cidade de Homs, principal foco de disputas, um território independente chamado "Emirado Islâmico de Homs". Nessa disputa houve massacres de lado a lado, que na mídia aparecem sempre lançados atribuídos às forças armadas de Assad, que têm entre seus altos oficiais expressiva quantidade de cristãos. Os observadores da ONU deixaram a missão de visitar os territórios em disputa porque não há garantias nesse fogo cruzado, simplificado pelos meios de comunicação como uma guerra entre apenas dois lados.

A intervenção estrangeira está dificultada pelo racha das oposições. Há quem afirme que os grupos islâmicos têm uma trégua com Assad que livrou a Síria de conflitos e atentados durante 30 anos, e que atuariam como uma força complementar ao governo, para com isso apoiar o FSA pesadamente na luta contra os dois inimigos. Há grupos islâmicos que, contrariando essa versão, decretaram uma "jihad" (guerra santa) contra Assad e seus apoiadores, Irã e Hezbolah. Acima de todos está a Rússia, que tem no porto de Tartus a base da sua frota militar no mediterrâneo desde os tempos da União Soviética, na Guerra Fria.

Para engrossar o caldo, o Wikileaks começou ontem a divulgar informações obtidas de dois milhões de e-mails governamentais sírios emitidos entre 2006 e 2012, originados de 680 entidades domínios da Internet. Segundo o fundador do Wikileaks, Julian Assange, "O material é embaraçoso para a Siria mas também para os adversários do regime. Ajuda-nos não apenas a criticar um ou outro grupo, mas também a entender  os seus interesses, ações e pensamentos. É somente através da compreensão desse conflito que podemos ter esperança de resolvê-lo". Enquanto isso, o povo vai morrendo em meio ao fogo cruzado.

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