terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A caçada aos fundos de pensão

Desde sempre os governos olham para as gordas poupanças previdenciárias com gula. Pensam que é muito dinheiro parado esperando para daqui a algumas décadas pagar a alguns velhinhos. E que tirar esse dinheiro não fará falta, em especial para eles. Daí se usa recursos previdenciários para patrocinar investimentos governamentais, parcerias público-privadas em infra-estrutura, se considerarmos haver louváveis intenções nisso. Do lado da bandalheira vêm as privatarias, os favorecimentos a grupos econômicos e jogadas contábeis para favorecer os patrocinadores em detrimento dos trabalhadores.

A PREVI não foge à regra dos aparelhamentos pelo mercado e pelo governo. Maior fundo de pensão do Brasil, tem repassado gordos recursos ao patrocinador Banco do Brasil, o que está causando preocupação aos aposentados e pensionistas com a incerteza do futuro. Paira no ar o fantasma do Aerus, da VARIG, que hoje paga ninharias aos aposentados. Sobre esses riscos reproduzo o artigo de Isa Musa de Noronha, presidente da Federação das Associações de Aposentados do Banco do Brasil:

Publicado em 23/05/2013
 http://www.diretodaredacao.com/noticia/a-cacada-aos-fundos-de-pensao

A caçada aos Fundos de Pensão


Se perguntarmos a qualquer economista que não tenha nenhuma relação com planos de benefícios de previdência complementar como ele avalia o sistema temos muita chance de ouvir dele que se trata de operações mercantis, de mercado, fortes investidores institucionais onde o participante e assistido é mero detalhe.
Somos forçados a concordar com ele. Assistindo a participação dos representantes do Governo, da ABRAPP e dos que falam pelos patrocinadores e instituidores na ultima reunião do Conselho Nacional de Previdência Complementar pude avaliar com profundo desânimo que é isso mesmo! Sucessivas alterações legais sejam através de Leis Complementares, Emendas ou Resoluções, descaracterizaram o sistema de previdência complementar que deixou de ser uma opção segura para o trabalhador no futuro poder complementar os benefícios da previdência oficial, para ser uma aposta... Um tiro no escuro: sabe-se como se entra, mas ninguém tem a mínima segurança do que o espera quando completar 30, 35, anos de trabalho e tiver o direito de se aposentar.
O Governo está decidido a fomentar a Previdência Complementar flexibilizando normas de modo a mostrar aos empresários que há uma porta de entrada no sistema, com vantagens legais, incentivos fiscais, e uma larga porta de saída, por onde esse empresário passará quando bem entender. Ao mesmo tempo, estranhamente, mostra ao empregado uma estreita porta por onde ele entra sabendo o que tem que pagar, mas não lhe dá nenhuma garantia do quanto poderá receber ao final da jornada laborativa. O empregado ao passar pela porta de entrada encontra cômodos gelados, encruzilhadas tortuosas e um longo e sombrio corredor que leva ao futuro.
A caçada aos recursos patrimoniais dos fundos de pensões começou em 1998, com a Emenda Constitucional n° 20 de 15/12/1998, no Governo FHC. Naquela norma o Governo interferia decididamente na liberdade de negociação entre empregados e patrocinadores ao fixar que a contribuição somente poderia ser paritária. Antes, havia patrocinadores que como incentivo extrafolha para seus empregados, pagavam contribuições na proporção de 2x1, 3x1, para o fundo de pensão. Outras ainda sequer cobravam contribuições de seus empregados. Desnecessário dizer que tal Emenda, criada em 1998, jamais poderia fazer valer seus efeitos sobre o Plano de Benefícios n° 1 da Previ, fechado em 1997 e em processo de extinção. Isso se vivêssemos no melhor dos mundos jurídicos, onde seria respeitada a máxima de que a Lei não ferirá o direito adquirido e o ato jurídico perfeito.
Ainda nos anos FHC foram promulgadas as Leis Complementares 108 e 109, já estabelecendo clara discriminação entre participantes e assistidos do regime fechado de previdência complementar dos cidadãos que aderissem aos planos abertos. E mais: foi cunhada a força do patrocinador através do “Voto de Qualidade” para as decisões do Conselho Deliberativo e invadiu a liberdade dos Fundos ao determinar quantos são os membros e qual a composição dos conselhos, além de extinguir a figura do corpo social que no passado tinha o poder de votar e vetar as contas do Fundo.
Caminhando em seu intento de transformar a previdência complementar em empresa mercantil, o Governo,  agora já na era Lula, redigiu a Resolução 26, que dá a patrocinadores a metade dos recursos excedentes (reserva especial) apuradas ao final do exercício. Ou seja, dá claro recado ao Mercado: “fundo de pensão quando dá “lucro”, a empresa fica com a metade”.
O Governo a ABRAPP e os representantes de patrocinadores e instituidores tratam superávit como lucro, o patrocinador como maior beneficiário de um fundo de pensão e participantes e assistidos como passivos atuariais que quanto mais velhos mais pesam contra seus interesses.
A mais recente aparição fantasmagórica da “Caixa de Pandora” do Governo é a Resolução de Retirada de Patrocínio, quando ao escancarar a ponta de saída para empresários manda um bom alerta aos corajosos funcionários públicos que podem pretender aderir ao FUNPRESP.... “Podem entrar que a casa é sua, mas como você sairá? Sei não... Melhor perguntar ali no Posto Ipiranga.”
A Caixa de Pandora, todos sabem... Era na verdade um grande jarro dado a Pandora e que continha todos os males do mundo. Então Pandora, com sua curiosidade, abriu o frasco, e todo o seu conteúdo — exceto um item — foi liberado para o mundo. O item remanescente foi a esperança.
O que nós participantes e assistidos da PREVI podemos concluir é que nossa batalha em defesa de nossas aposentadorias e pensões é uma guerra contra políticas de Governo. Qualquer Governo.
Colaboração da leitora Isa Musa de Noronha. Email : isamusa@uol.com.br

Um comentário:

  1. Muito me apraz ver esse meu artigo já antigo, de 2011, em seu blog Branquinho. Atualmente, face à frustração causada pelo fim do BET, alguns voltaram artilharias contra as Associações de aposentados escrevendo pela web que “elas não fazem nada”. Não é verdade. Ao contrário, todas elas estão solidárias às nossas agruras, pois estamos em um mesmo barco e motins não nos salvarão do naufrágio.
    A FAABB luta desde sua fundação pelo Maia e Tollendal. É verdade que não conseguimos grandes vitórias, afinal, não enfrentamos adversários fáceis. Contudo, nem as sucessivas derrotas, decepções e crises, nos desanimam da luta maior. Quem sabe? Talvez um dia conseguimos um despacho definitivo e favorável que nos diga: você resistiram e venceram! Por enquanto, sabe-se que a maioria dos ataques vem exatamente de alguns que pregam a união, mas cavam abismos ao invés de construir pontes. Já percebeu que as empresas que constroem não são as mesmas firmas de demolição? Há Construtoras de Empresas de Demolição. É preciso ser especialista em demolir. Por outro lado, muitos dos que atacam as Associações o fazem por necessidade absoluta de dispersar a própria ira. É mais fácil atacar as Associações do que buscar no ordenamento político as verdadeiras causas dos malefícios que o BB e a Previ nos trazem. Felizmente muitos associados sabem disso e é exatamente por esse sentimento de pertencimento que essas campanhas de desfiliação em massa não falam aos corações. Ao longo de muitos anos, as Associações construíram uma solidez e desprendimento que nos levam à solidariedade e à compreensão de que muitos são insuflados por alguns poucos desagregadores, mas, se perseguirmos na luta, na clareza e pureza de objetivos, venceremos. Talvez eu não esteja aqui para ver isso, pois na luta desde 1995, amealhei muitos inimigos e poucas vitórias consistentes e, já no batel da vida, olho para frente o porto final cada vez mais próximo e vejo que tenho menos anos de vida do que os já vividos, mas a fé e a certeza do dever cumprido, esses troféus jamais me abandonaram.

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