sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Meu ar condicionado, minha vida

A praga rogada pelo lobby do setor elétrico contra Dilma é poderosa. Bastou ela dizer que faria uma inédita redução de preços das tarifas, desagradando aos que ganham muito com a energia mais cara do mundo, que veio um verão que mal começou já bate recordes de temperatura. 43,2 graus Celsius no Rio é inédito, e em várias cidades as pessoas sentem o mesmo. E o que a praga tem a ver com isso?
https://www.facebook.com/DilmaBolada/posts/108310309330960

O resultado do calor é que há sistemas que não foram projetados para tais extremos. Uma central de ar condicionado de um aeroporto, por exemplo, deve ter sido projetada em função das cargas térmicas do prédio relativas a uma temperatura bem menor que os recordes atuais, mesmo assim prevendo alguma inércia térmica.

Usualmente um dia de extremo calor no Rio termina em temporal, assim como em Belém, esfriando os prédios e o ar, o que facilita o funcionamento do ar condicionado para o dia seguinte. Se essa regra é quebrada e se sucedem dias de temperaturas acima do que foi projetado, o sistema não conseguirá mais esfriar a temperaturas de conforto mesmo trabalhando a pleno. O uso sem descanso do sistema de refrigeração sobrecarregará o sistema elétrico, também aquecido pelo sol e pelo ar, forçando o disparo de proteções térmicas, os tais apagões em subestações.

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Aí vem o consumidor, que acha que reduzir em 20% a energia permite ter ar condicionado em casa pelo mesmo valor da conta anterior,  e resolve comprar indiscriminadamente os aparelhos refrigeradores pensando apenas no calor, sem olhar para as instalações. Chega em casa, abre o buraco na parede, bota o aparelho e puxa a energia do circuito da tomada mais próxima, e acha que está tudo bem. Se logo no início do funcionamento o fio não pegar fogo, vem a insatisfação porque o compressor não dispara, com a queda da voltagem no circuito. Se funcionar, vai disparar o disjuntor, que não foi dimensionado para essa carga. O leigo fará o que seus vizinhos sugerirão, ou seja, botar um disjuntor de maior amperagem para não disparar. Daí para um incêndio será uma questão de desígnio divino.

Origem desconhecida, circulando no Facebook
O caso acima considera a colocação de um aparelho numa instalação normal. Imaginem nas comunidades onde a rede elétrica é cheia de "gatos" e as casas têm fiações subdimensionadas até para aparelhos simples? Vão pegar fogo mais que as favelas estranhamente inflamáveis de São Paulo.

Se, apesar de tudo, os aparelhos vierem a funcionar, os transformadores das concessionárias, em especial da péssima Light, receberão sobrecargas e desarmarão em horários de pico. Apagões por volta das 11 da noite poderão ser comuns, além, claro, de bueiros-bomba da Light se tornarem mais frequentes.

Dado esse cenário, o consórcio de mídia golpista, azeitado pela alta grana de especuladores do setor elétrico, fará uma campanha implacável, diuturna, dizendo que tudo o que está acontecendo é culpa do governo Dilma, porque aumentou a demanda pela redução de preços e prejudicou as concessionárias com a redução da capacidade de investimento. Essa ladainha já existe hoje, e se o verão não ajudar, será um enchimento de saco que contaminará as cabeças cada vez mais quentes pelo calor, que poderão ser parcialmente esfriadas quando os sistemas de combate a incêndio dispararem pelo derretimento de selos dos sprinklers.

DoFacebook, origem desconhecida
Dilma pegou pesado ontem quando perguntaram se haveria racionamento, uma questão que remete aos tempos do finado político FHC. No seu estilo heavy metal, Dilma matou no peito e chutou: apagão é falha humana! Se cai raio e desliga o sistema é porque alguém não preveniu. Se há sobrecarga é porque alguém não tomou a decisão de ampliar a oferta. E mandou a Polícia Federal, a pretexto de "fiscalizar se houve mau uso de verbas na obra do Galeão", dar uma olhada nos bastidores do problema no aeroporto. Na prática, verificar sabotagens, coisa possível diante das cifras envolvidas nos negócios e da falta de caráter tanto de especuladores como da mídia. Também disse que não há crise no sistema elétrico pela redução do valor da tarifa. Quem diz isso parece que não vacilará em intervir em empresas de distribuição e até cassar concessões, o que já devia ter sido feito na Light há muito tempo.


No mais, o carioca em especial já leva a situação na sacanagem. Piadas pululam na internet, entre elas uma homenagem ao inventor do ar condicionado, o engenheiro americano Willis Carrier, e uma criando o programa "Meu ar condicionado, minha vida". Carioca que é carioca minimiza tudo para não esculachar a sua própria cidade, e botará a culpa no governo até pelo fato geográfico do Rio, no dia 21 de dezembro, início do verão, não ter sombra em postes ao meio-dia, dada a latitude da cidade coincidir com a inclinação da terra no solstício de verão. 

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