sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Niemeyer e os surfistas de velório

Enquanto vivo, Niemeyer ultimamente chamava mais a atenção pela sua longevidade que pela sua grande obra. Suas aparições, como na conclusão da obra do Sambódromo, eram documentadas como prova da sua lucidez e amor ao trabalho. Uma vez morto, as homenagens e referências mostram que tínhamos entre nós alguém muito maior que sua arte, que suas obras, que sua humanidade. Por todo o mundo a mídia repercutiu sua obra, mostrando o prédio da ONU, em Nova Iorque, a universidade na Argélia, a sede do PC Francês, Brasília, etc.

No Brasil ficou difícil resumir o extenso material para extrair "o melhor de Niemeyer" para apresentar em documentários. Velório no Palácio do Planalto, honraria digna de muito poucos. Homenagens de Chefe de Estado. Reconhecimento como um dos melhores brasileiros, que projetou o país no exterior. Herói nacional. Luto oficial de 7 dias. Quem sabe, terá o nome escrito no livro do Panteão da República como brasileiro notável, no prédio que projetou em Brasília.

Nenhum exagero. Ele merece o reconhecimento nacional, acima das suas convicções pessoais, de críticas que porventura haja ao seu trabalho. Não é qualquer arquiteto que deixa mais de 500 obras de arte executadas em concreto e aço, pelo mundo todo.

Nessa hora aparecem pessoas que deveriam ficar caladas ou ocultas para não mostrar falta de noção ou oportunismo. Numa foto que vi colocaram um crucifixo cristão junto ao caixão do ateu confesso. Nas redes sociais vi comentários como "Deus iluminou Niemeyer para fazer tão bela obra". Nesse sentido, do desrespeito à visão pessoal do falecido como ateu e na tentativa de "cristianizar" sua morte, só falta a missa de sétimo dia.

Quem preferiu ver na sua morte a derrota de mais um comunista-ateu e investiu no ataque a ele terá que prestar contas da bobagem que fez. É o caso da revista Veja, onde o colunista Reinaldo Azevedo não fez por menos: chamou Niemeyer de metade gênio, metade idiota. Isso já não é falta de noção: é calhordice mesmo. Surfando nas imagens televisivas vi a figura do imortal Merval Pereira, direitista notório, um dos artífices do jornalismo anti-esquerda da Globo, comparecendo ao velório. Nessa hora Niemeyer deve ter se revirado no caixão. 

Um comentário:

  1. É Branquinho, esse pobre Reinaldo Azevedo mostra ainda mais a sua insignificante dimensão quando comenta o mestre Niemeyer. Este, grande nas obras e no pensamento. Reinaldo, alma que vive da crítica - no sentido de desmerecimento - a todas as obras alheias.

    Não é de se admirar que trabalhe para a "Veja" - a que, no obituário de Mercedes Sosa, anotou pura e simplesmente que faleceu a "tocadora de bumbo". A mesma revista que criticou a "pobreza" da rima de Chico Buarque.

    Vive Reinaldo, um idiota inteiro.

    José Milton Bertoco

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