terça-feira, 12 de outubro de 2010

CIA usou estudantes na preparação de golpes

Andando pela internet achei um tema interessante, que pode jogar luz sobre a história brasileira recente. Procuro por ligações entre projetos de espionagem americanos na Guerra Fria, envolvendo a colaboração de estudantes de países subdesenvolvidos onde os americanos tinham interesse em combater eventuais investidas comunistas, e financiamento de estudos em universidades americanas por agências colaboradoras da CIA.

Achei o Project Camelot. Traduzindo do Wikipedia:

"Project Camelot foi um projeto de pesquisa em ciências sociais do US Army (exército americano) em 1964. A meta do projeto era avaliar as causas das rebeliões sociais violentas e identificar as ações que um governo poderia tomar para evitar a sua sua própria derrubada. O propósito causou muita controvérsia entre os cientistas sociais, alguns dos quais expressaram suas preocupações que esse estudo poderia terminar no uso incorreto da pesquisa científica para esmagar movimentos revolucionários. O Chile deveria ser o estudo de caso para o projeto, mas o sociólogo norueguês Johan Galtung, que foi convidado para ser colaborador, esforçou-se para alertar os cientistas sociais chilenos e americanos sobre os verdadeiros propósitos do projeto. O propósito do projeto foi descrito pelo Exército como segue:

"o sucesso em tarefas como equipar e treinar forças locais para missões internas de segurança, ação civil, guerra psicológica e outras ações de contra-insurgência depende do minucioso entendimento da estrutura social local sobre a precisão com que as mudanças dentro da cultura nativa, especialmente mudanças violentas, estão previstas, e os efeitos de várias opções de ações disponíveis para as forças militares e outras áreas de governo sobre o processo de mudança local" "

Trocando em miúdos: queriam investigar os países para montar um modelo que permitisse aferir o grau de disposição a uma revolução, para permitir às forças locais acionar recursos para sufocá-la antes que acontecesse. No caso do Project Camelot, deu zebra porque o sociólogo norueguês denunciou. E os chilenos tornaram o caso um escândalo. O mais interessante: parece que outros projetos do mesmo tipo estavam em desenvolvimento no Brasil, como o Project Simpatico, na Colômbia. E o texto informa que o plano brasileiro foi descoberto pouco antes do chileno:

"Still, remarkably little about behavioral science funding or design changed after Camelot was canceled. A similar project was uncovered in Brazil less than two weeks after the Chilean scandal broke, and others were soon launched in Colombia (Project Simpatico) and Peru (Operation Task)" (Excerpts from Ellen Herman, "Project Camelot and the Career of Cold War Psychology." In Universities and Empire: Money and Politics in the Social Sciences During the Cold War, Christopher Simpson, ed. (New York: The New Press, 1998), pp. 97-133. Excerpts are from p. 113 and pp. 118-19. )

Neste link há mais informações sobre esses casos, inclusive sobre a colaboração de universidades americanas com universidades chilenas nos anos 60, com o intercâmbio de alunos e professores que seriam informantes do governo americano. Lanço esses dados na busca de maiores informações sobre esse plano que teria sido descoberto, e que pode ter contado com a participação de estudantes brasileiros. No mesmo site há um interessante texto sobre a preparação, em universidades americanas, de estudantes de países estrangeiros para formar novas elites para substituirem os governos pró-esquerdistas, como no caso da Indonésia, em 1955, onde houve participação ativa da Fundação Ford em colaboração com o governo americano.



Nenhum comentário:

Postar um comentário