sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2 : a chapa quente é a política

Gostei do filme. Achei a trama mais complexa que a do primeiro Tropa de Elite, que basicamente era um filme policial onde os "mocinhos" eram justiceiros fascistóides, e os bandidos, os traficantes do Rio de Janeiro. No novo filme, o sistema policial corrupto foi apenas um sub-sistema da sociedade e dos seus representantes na política. Para quem é do Rio, o filme tem significado especial, pela extrema realidade mostrada. Na abertura, a tradicional mensagem dizendo tratar-se de ficção faz a ressalva da coincidência com fatos reais.

O filme aborda as milícias cariocas, que sucederam o tráfico, antes do modelo de UPPs. Falando nelas, hoje o BOPE ocupou o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, onde há um ano traficantes derrubaram um helicóptero da polícia. Voltando à ficção, houve uma CPI das milícias, dirigida pelo deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, que agora foi eleito deputado federal com expressiva votação. Mais de 200 pessoas foram em cana. O ex-secretário de segurança foi preso. Um deputado estadual, que comandava as milícias na Zona Oeste, também está preso.

O esquema de poder das milícias está perfeitamente descrito: policiais cobram taxas de proteção, têm o monopólio do gás de botijão, do "gatonet" (rede clandestina de TV a cabo), entre outros "produtos". Sua violência também é realista. O miliciano Rocha está perfeitamente caracterizado, talvez o melhor papel do filme. O deputado, dos direitos humanos, também está muito bom, embora no início do filme o tenente-coronel Nascimento o detone como obstáculo à eliminação dos chefes do tráfico.

No mais, um filme para você nem se lembrar de comer pipoca ou tomar refrigerante. A corrupção política é mostrada de forma muito forte. Diferente do primeiro filme, onde as pessoas aplaudiam a execução e torturas, neste todo mundo ficou sentado mais um tempinho, pensando nas coisas. Vale o ingresso pela ótima qualidade de imagem e som, pela direção, fotografia e atores acima da média do cinema nacional. Talvez por ser carioca, este filme tenha um diferencial sobre outros filmes de ação de temáticas similares, afinal, bandidagem e politicagem sintonizada com ela existe em todo o mundo.

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