quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A encruzilhada do PV e o murismo de Marina

Dos quase 20 milhões de votos recebidos pela candidata Marina Silva do PV, há três vertentes prioritárias:
- os votos do PV enquanto grife ambiental internacional;
- os votos de Marina como referência (trajetória, ministério, valores);
- os votos de protesto contra a polarização Dilma x Serra.

O Partido Verde elegeu 15 deputados federais. Apenas dois a mais que em 2006. Seis em São Paulo, todos ligados às administrações de Kassab (DEM) e Serra (PSDB). Os demais têm quase todos o mesmo perfil, preferencialmente aliados aos apoiadores de Serra. Marina não fez bancada. Considerados esses dados, Marina não fez o PV crescer, nem seu grupo oriundo do PT ampliou espaços na burocracia partidária parlamentar.

O que exceder aos votos do PV de 2006, mais um incremento vegetativo pela maior divulgação de questões ambientais, até uns 9%, deve ser creditado a Marina e sua campanha. Algo na base de 8 milhões de votos. Os quase 10 milhões de votos restantes vieram na "Onda Verde", inflada nas últimas três semanas antes das eleições pelos grandes meios de comunicação, para levar Serra ao segundo turno. São os votos dos "indignados úteis".

Sobre o segundo turno, parece que ninguém no PV quer discutir, adiando a decisão partidária. Uns, ligados a Marina, que não querem se posicionar acreditando assim manter o cacife da votação para próximas eleições. Outros, da burocracia partidária, querem mais tempo para estudar as ofertas fisiológicas de cargos e benesses, em especial do bloco de José Serra.

Se Marina melhorou a imagem do PV ao se associar a ele, poderá perder muito caso o partido venha a apoiar, direta ou indiretamente, a candidatura de Serra no segundo turno. Sua abstenção a colocará no murismo característico dos tucanos, e deporá contra sua trajetória de gestão do meio-ambiente no governo Lula, ao lavar as mãos em relação aos ruralistas, desmatadores, escravagistas do latifúndio e máfias ambientais. O silêncio de Marina será entendido como aceitação tácita dos que, bem apropriadamente, são parte da bancada da moto-serra.

O que acontecerá nos próximos dias definirá o futuro de Marina. O grupo que fomentou sua candidatura, ainda no PT, acreditava no "entrismo" no PV, e na conquista do poder partidário a partir da superxposição de Marina na campanha presidencial. Até aqui, o plano deu certo, mas nada garante que a expressão pública de Marina permita o "golpe" interno no PV, com a tomada do poder pelos ecossocialistas, o que tiraria qualquer chance do partido apoiar Serra, e levaria a problemas éticos internos, que poderiam culminar com o abandono da legenda.

Imperando as posições retrógradas da atual direção do PV sobre o grupo de Marina, a este restaria sair do partido e migrar para outra legenda, que acredito poderia ser o PSOL, que já se posicionou por não apoiar ninguém no segundo turno.

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