terça-feira, 24 de agosto de 2010

Serra e os dilemas de uma campanha perdida

A pesquisa CNT/Sensus de hoje confirma o que o Datafolha mostrou há alguns dias: Dilma está abrindo vantagem sobre Serra, e hoje ganharia no primeiro turno. A candidata do PT tem 46%, contra 28,1 % de Serra, 8.3% de Marina e 1,3% dos demais candidatos. Com base nesta informação, o alto comando do PSDB deve estar questionando: qual o melhor proveito desta campanha derrotada?

Pior que a queda, para os tucanos, seria o coice: perder também os governos estaduais do RS (Ieda Crusius está em terceiro, sem chances), arriscando São Paulo, Paraná e Minas Gerais, com grandes eleitorados e recursos. Em menos de uma semana, Lula e Dilma foram a Osasco e São Bernardo do Campo, e Lula fez o que Mercadante não consegue fazer: bateu pesado em Alkmin e nas administrações tucanas que há 16 anos governam São Paulo. E foi pedir votos aos trabalhadores na sua base, tanto para Dilma como para Mercadante.

Perder eleições para governador também significa perder apoios para candidatos a deputados estaduais, federais e senadores para partidos da base aliada. A traição já está em todo lado, apesar das tentativas do PSDB ainda tentar enquadrar alguns. Aqui em Brasília hoje o programa eleitoral do PSDB para deputados federais já passou a mostrar Serra, o que não faziam antes. O que fazer diante de uma eleição perdida?

Dois rumos se abrem à frente dos tucanos: fazer o discurso do DEMO, radicalizando à direita com denúncias, dossiês e terror, ou salvar o que resta de imagem de algumas lideranças do PSDB para minimizar os prejuízos, recuando as tropas organizadamente para uma nova tentativa no futuro.

Já deve estar muito complicado convencer aos simpatizantes mais troglodíticos do DEMO que devem engolir o Serra falando que teve que sair do país porque lutou contra a ditadura que eles gostariam de reeditar. O seu vice, Indio da Costa, só aparece em público para falar em nome do setor mais radical da direita do DEM. Vê-lo ao lado de Lula, pior ainda: abominável, comunista enrustido, etc. Todos correm de Serra para não perderem votos. A campanha de Serra tem erros fatais desde a sua luta contra Aécio e depois a demora na escolha do vice. Qual o caminho?

Em primeiro lugar, acho que o DEMO será rifado, se é que ainda existe vida inteligente no PSDB. Não dá para ter credibilidade fazendo campanha suja, difamatória, soturna, daquelas de e-mails hediondos que os caras inventam às dúzias por dia para criar massa crítica golpista. O melhor a fazer é entrar num ritmo "light" e tentar salvar as biografias principais, inclusive a do FHC, senão ele sempre será o "encosto" dos tucanos. Levantar a bola das realizações, mesmo que televisivas e "fake", dos governos tucanos. Tentar salvar São Paulo, para não sofrer a total aniquilação das máquinas políticas, dos recursos, etc. Tentar eleger bancadas. Isso é o mínimo.

Todo mundo entra numa eleição com alguma estratégia. Dilma quer ficar na cabeça das pessoas como a seguidora de Lula. Está conseguindo sucesso, e as bancadas da base aliada aumentarão, além de mais governos estaduais. Marina quer aglutinar em torno da sua campanha a preocupação ambiental e com o futuro, e está conseguindo, devendo fazer o PV aumentar bancadas. Plínio e o PSOL conseguiram milagrosamente se impor, colocando-se como parceiros dos que ficaram do outro lado do "muro da desigualdade", construído pelos que apoiam Dilma, Serra e Marina (a ecocapitalista, segundo ele).

O PSTU aproveita para colocar-se como uma vertente sindical, e com isso reforçar a Conlutas e destacar algumas lideranças, acreditando também ser possível crescer batendo em Lula e no PT. Não sei se isto está sendo efetivo. O PCO vai na linha de afirmação de propostas socialistas, e também está tendo bom resultado. O PCB tenta sair do buraco que onde o Roberto Freire jogou a legenda ao fundar o PPS. Também está conseguindo algo positivo. Já Serra entrou achando que iria destruir Dilma e ganhar com facilidade. O resultado está aí, e pode ficar pior ainda, dependendo da opção para o PSDB : recuo organizado ou morte política certa ao lado do DEMO, o grande derrotado destas eleições?

Um comentário:

  1. Estou na Bahia e ontem assisti o horário eleitoral gratuito. Aqui o Lula virou “moeda” e aparece mais que os próprios candidatos. Quase todos os candidatos a Senador posam ao lado dele, o único que não mostra (ainda) o “retrato” ao lado do Lula é o Paulo Souto (DEM) que foi obrigado a posar ao lado do Serra. O caso mais curioso é o do Geddel, que “mete o pau” no Jaques Wagner, criticando o modelo de governo do PT e exibe sua imagem “agarrado” com o Lula.

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