segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Memórias de cinema

Nesta madrugada zapeava os canais da TV e encontrei no Telecine Cult um filme que me remeteu a 1972, cujo nome na época não recordo, mas na telinha passou como "Quando explode a vingança". O filme em si é um faroeste italiano ou "spaghetti", com Rod Steiger e James Coburn, figuras carimbadas de películas do gênero, ambientado na Revolução Mexicana. A trama envolve o personagem de Steiger, um assaltante de bancos, com o de Coburn, um republicano irlandês especialista em dinamite, que tentam assaltar um banco e explodem junto a cadeia onde estavam presos revolucionários mexicanos, libertando-os. A partir daí passam a ser implacavelmente perseguidos pelas tropas do governo.

Muita ação, cenas violentas, mas em meio a tudo isso, uma trilha sonora inesquecível, do maestro italiano Ennio Moriconi, que quem viveu naquele tempo, certamente se lembrará com emoção. Clique aqui para ouvir o tema de "Fistful of Dynamite" , nome da versão que assisti agora. O filme no lançamento tinha outro nome, e foi cortado em 2000 para tirar o conteúdo mais político do ambiente revolucionário para melhor se enquadrar no gosto dos consumidores de "western".

Além da música, o filme me trouxe o fabuloso ano de 1972 de volta, um dos melhores que vivi, nos meus 15 anos, no Rio de Janeiro. Era fanático por cinema, mas não tinha muita grana. Junto com uma galera do Grajaú, via uns 6 filmes por semana. Na rua Barão do Bom Retiro, no Engenho Novo, havia o Cine Real, que nessa época era um tremendo poeira. Passava dois filmes por sessão, quase invariavelmente um de ação (faroeste, lutas marciais, terror, policial) e uma pornochanchada ou similar.

O ingresso custava o mesmo que uma passagem de ônibus para a escola. Passavam um filme de segunda a quinta, outro de sexta a domingo, o que me obrigava e a outros a voltar do Colégio de Aplicação da R. Barão de Itapagipe (Morro do Turano, para os íntimos) de carona ou a pé para ter os recursos do cinema. A diversão não era só cinematográfica: o cinema fazia parte do espetáculo.

No meio do filme, quebrava o projetor, o filme pegava fogo, faltava luz, passavam ratos abaixo da tela, raramente o ar condicionado funcionava, fora a participação das galeras que matavam aulas nos colégios, dos bêbados que iam dormir por lá, e os manjadíssimos cidadãos que seguiam os jovens até o banheiro. Para evitar abordagens indesejadas, mijava-se mais rápido que "pit stop" de Fórmula 1.

A maioria dos filmes tinha censura para 18 anos, mas poderia passar na sessão da tarde da TV, porque eram extremamente cortados. Isso rendia manifestações de protesto das galeras, que não tinham o menor problema de entrar no cinema, porque ninguém cobrava as carteirinhas de estudante para não ver falsificações grosseiras e passar por otários.

Um filme que ficou na memória foi "As vingadoras de Yang", daqueles de artes marciais feitos em Hong Kong ou Taiwan, de terceira qualidade, onde o cara morria e depois aparecia num outro papel mais adiante no filme. Teve a cena da ponte humana, num desfiladeiro, onde duas pirâmides de pessoas foram feitas dos dois lados e depois se atiraram no abismo, abraçando-se no meio do vão. Quase o cinema veio abaixo. Depois da ponte feita, caravanas passaram por cima... Também vi por ali tudo de James Bond e Bruce Lee.

Às sextas, fazíamos uma maratona, porque íamos ao Real das 14 às 18h, e íamos para um cinema na Tijuca, que ficava na Galeria Skye, que acho que se chamava Art Tijuca. Pegávamos um filme de boa qualidade das 20h às 22h, e já ficávamos no cinema para assistir alguma pré-estréia. Foi nessa que a gente viu esse filme que iniciou este "flashback".

Ainda de cinema jurássico, assisti meu primeiro filme no Bruni Grajaú, que ficavam em frente à Escola Francisco Manoel, onde fiz o primário. Recém-inaugurado, o cinema ofereceu uma sessão gratuita aos alunos da escola, e tive uma ótima impressão ao ver "Deu a Louca no Mundo", uma comédia hilariante, aí por volta de 1964. Este cinema, assim como o Real, terminou seus dias como uma igreja evangélica. O Art Tijuca não sei que fim levou.

Um comentário:

  1. O Real tinha cadeiras de madeira e não tinha ar condicionado.
    O cinema da galeria Skye era o ... Skype. Estevera o nome da mulher do dono do prédio , um árabe

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