quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Rio: golpe no tráfico - desdobramentos

Hoje serão encaminhadas para incineração 30 toneladas de maconha e quase uma tonelada de cocaína, apreendidos nas operações policiais no Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro. A apreensão é da ordem de 5 vezes tudo o que foi apreendido no ano passado. Além disso, motos, carros e armamentos foram recolhidos e muita coisa ainda está enterrada ou emparedada por lá.

Esse ativo do tráfico levou décadas para ser acumulado. Cresceu junto com a ramificação do crime nas instâncias de poder. Hoje há policiais, delegados, militares, advogados, juízes, parlamentares, secretários e empresários na folha do crime. E redes de extorsão em atividades que vão da vigilância de veículos à segurança de ruas e comércio. Fora os "serviços" de internet, gás, TV a cabo. A maior perda não foi apenas a econômica: a substituição do poder nessas áreas levará ao descrédito do tráfico como poder "legitimado" pelo assistencialismo.

No Rio há outro tipo de crime organizado menos visível, que envolve jogo e prostituição. Desde que o Barão de Drumond criou o Jogo do Bicho e este se tornou contravenção anos depois, famílias de bicheiros tornaram-se famosas por ações de visibilidade social, como o patrocínio de Escolas de Samba e clubes de futebol. A corrupção das autoridades tornou-se endêmica, a ponto de uma pessoa de fora da cidade chegar por aqui e achar que o Jogo do Bicho e os caça-níqueis serem atividades legais, praticados às vistas dos policiais. Os bicheiros também atuam em áreas de contrabando, mas pouco se misturam com o mundo do tráfico. Não deverá faltar dinheiro para o Carnaval, porque não é a praia do tráfico.

O poder do tráfico vinha das armas e também do assistencialismo, das políticas de "responsabilidade social" nas áreas dominadas. Lideranças sociais legítimas foram assassinadas e em seu lugar foram colocados interlocutores do tráfico, que levavam aos chefões algumas reivindicações importantes para a manutenção do poder, como a construção de lavanderias, banheiros, patrocínios, etc. Sem os recursos para isso, e com a intenção do Estado se fazer presente, a clientela lumpesina do crime abandonará os chefões e cairá nas malhas assistenciais públicas.

Muita gente graúda também sentirá a falta das receitas dos "arregos" do crime. Pelo menos por um bom tempo, até que se rearticulem. Políticos eleitos pelo tráfico correrão risco de não se reelegerem. As milícias policiais também estão de olho no espólio. Se o Secretário de Segurança não mantiver mão forte no processo de formação das novas UPPs, uma forma degenerada de poder poderá surgir nessas áreas.

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