
De fato, chegamos ontem (sábado) à tarde e mesmo com a noite pudemos perceber que a cidade oferece segurança onde estamos, junto à Praça da Independência (Maidan) e trata-se de uma das mais belas praças que já vimos. Preços bons para o nosso poder aquisitivo. Metrô a cerca de R$ 0,40.
Com todos os alertas ligados e baixas expectativas chegamos à estação Maidan do metrô vindos do aeroporto. No trem as pessoas mostravam semblantes preocupados. O que mais me impressionou e deprimiu foi ver , ao final da subida pela enorme escada rolante, um soldado muito jovem com sua farda camuflada sentado num batente na estação, mochila ao lado, olhando para o nada. Vi naquele garoto as feições do meu filho mais novo e o imaginei indo para a guerra.

E o menino-soldado, o que o motiva a dar sua vida para lutar? Soldados em todos os países geralmente são filhos de famílias pobres, em busca de oportunidades. No adestramento militar aprendem a obedecer ordens acima dos riscos. Não se admite questionamentos nem covardia. É matar ou morrer. Em condições normais, como lembraria Geraldo Vandré, "nos quartéis nos ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão".


Em fevereiro de 2014 a situação se agravou com a morte de ativistas e outras pessoas por tiros de franco-atiradores na praça que ninguém até hoje soube quem foram. Foi o estopim para a queda do governo. Com o desenrolar dos fatos que culminaram com um novo governo pró-ocidente e anti-Rússia com a participação de vários líderes da Euro Maidan, a região da Criméia, de ampla maioria de natureza russa, declarou sua independência e anexação à Rússia. Começava o colapso da Ucrânia.
Radicais anti-russos falavam em proibir a língua russa no país, o que deixou o grande contingente de ucranianos-russos em pé de guerra. Sabiam o que viria e começaram a se revoltar. Mais uma vez os neonazistas bancados por potências estrangeiras partiram para a violência, organizaram as milícias do Setor Direita e passaram a atacar russos e ucranianos-russos. Veio a guerra separatista, onde o exército regular da Ucrânia, esse do menino-soldado, está sofrendo grandes derrotas. Mais de 4 mil mortos até aqui. A todo momento os separatistas liberaram soldados ucranianos presos. Há poucos dias o ministro da Defesa foi destituído do cargo. Foi o quarto em menos de um ano.
A ofensiva de mídia pelo mundo criminalizando os rebeldes não para. Um avião da Malaysian Air foi derrubado e a culpa colocada neles, mesmo com fotos indicando que a cabine foi metralhada por aviões que os rebeldes não dispoem. Esse foi o motivo alegado para mais sanções contra a Rússia que, na prática, não existem. Há poucos dias a Ucrânia foi novamente humilhada com um acordo de cúpula entre a Rússia e a Comunidade Européia garantindo o gás russo para este inverno. Com a inclusão da Ucrânia no pacote.


Jovens da mesma idade do menino-soldado, que não irão para o front morrer para que alguns sejam mais europeus que ucranianos. Afinal, quando as guerras eclodem, os primeiros a fugir são os que têm mais recursos, e sobreviverão para depois da guerra sequer voltarem. Essa homenagem acabou por volta das 20h. Em seguida, jovens passaram a chegar à avenida com suas garrafas de bebidas, música e muita alegria. Vida que segue. A família de cada morto recebe seu corpo num caixão com a bandeira do país mais a quantia de HRV 609.000 de indenização pela vida abortada, uns R$ 120 mil.
Quando me lembro das jornadas de junho de 2013 no Brasil a comparação é inevitável. A diferença é que Dilma respondeu com mais participação popular: propôs plebiscito por uma reforma constitucional e criou o Conselho Nacional de Políticas Sociais, aquele que a direita detonou logo após as eleições de 2014. Vendo a reação furiosa dos eleitores da direita pedindo castração química de eleitores de Dilma, construção de muro separando o nordeste, mandar os nordestinos de volta para casa, chamando os militares às ruas para dar um golpe, pedindo intervenção norte-americana, não é difícil pensar no que poderíamos ter passado se eles conseguissem derrubar Dilma no ano passado. Vira-latas e mercenários existem no mundo todo, e os nossos a toda hora tentam levar os filhos dos nossos pobres à guerra pelos seus interesses.
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