Ao planejar a viagem à Ucrânia que agora fazemos tivemos muitas dúvidas pois as notícias eram contraditórias e não inspiravam confiança. Cenário de guerra separatista, neonazistas fora de controle, forte influência dos EUA e Comunidade Européia instigando o enfrentamento com a Rússia, etc. Mesmo assim viemos pois as coisas em Kiev pareceriam tranquilas.
De fato, chegamos ontem (sábado) à tarde e mesmo com a noite pudemos perceber que a cidade oferece segurança onde estamos, junto à Praça da Independência (Maidan) e trata-se de uma das mais belas praças que já vimos. Preços bons para o nosso poder aquisitivo. Metrô a cerca de R$ 0,40.
Com todos os alertas ligados e baixas expectativas chegamos à estação Maidan do metrô vindos do aeroporto. No trem as pessoas mostravam semblantes preocupados. O que mais me impressionou e deprimiu foi ver , ao final da subida pela enorme escada rolante, um soldado muito jovem com sua farda camuflada sentado num batente na estação, mochila ao lado, olhando para o nada. Vi naquele garoto as feições do meu filho mais novo e o imaginei indo para a guerra.
Que guerra? Contra ucranianos de origem russa, que se defendem de possível isolamento em campo de concentração, da proibição do uso de sua língua, de massacres e expulsão do território pelos neonazistas que cada vez mais ganham influência no governo e estão fora de controle formando batalhões militares vistos pelas entidades de direitos humanos como criminosos de guerra. Não é exagero falar nessas hipóteses, pois já conhecemos o nazismo, o que fizeram contra os ucranianos na II Guerra Mundial, na colaboração dos nazistas ucranianos liberados por Banderas, nos genocídios da região, faxinas étnicas, estupros de mulheres, etc. Quem vive nas regiões de Lugansk e Donetsk tem forte motivação para defender sua vida, seu território, sua história, sua cultura e sabe que as opções são a luta pela sobrevivência ou a morte pelo massacre.
E o menino-soldado, o que o motiva a dar sua vida para lutar? Soldados em todos os países geralmente são filhos de famílias pobres, em busca de oportunidades. No adestramento militar aprendem a obedecer ordens acima dos riscos. Não se admite questionamentos nem covardia. É matar ou morrer. Em condições normais, como lembraria Geraldo Vandré, "nos quartéis nos ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão".
A Ucrânia é um país milenar e viveu pouco tempo independente, considerado o período histórico. Foi uma das últimas repúblicas a se separar da União Soviética, que já tinha sido dissolvida por decisão parlamentar quando eles se declararam independentes. Os laços com a Rússia são muito fortes, bons ou maus, remanescendo aos tempos dos tzares e depois dos soviéticos. Destruída na II Guerra Mundial, foi reconstruída no esforço coletivo da União Soviética sem apoio do ocidente.
Sair da União Soviética foi um duro golpe na economia. Desde então buscam alternativas, e a última foi a abertura à Comunidade Européia na esperança de conseguir capitais de investidores para alavancar sua economia. Essas negociações sofreram um solavanco quando os Estados Unidos, que dominam a OTAN, tentaram influir militarmente na região, o que não foi aceito pela Rússia. Há um ano começaram as manifestações na praça central de Kiev (Maidan), do movimento chamado Euro Maidan. O governo de então, que vinha fazendo as negociações, sabendo da contrariedade e de ameaças econômicas da Rússia, resolveu não assinar o acordo que traria a Comunidade Européia e a OTAN para dentro de casa. A partir daí, com o apoio de potências ocidentais, mercenários neonazistas apoiados por setores de classe média pró-Europa e anti-Rússia, começaram suas barricadas na Maidan.
Em fevereiro de 2014 a situação se agravou com a morte de ativistas e outras pessoas por tiros de franco-atiradores na praça que ninguém até hoje soube quem foram. Foi o estopim para a queda do governo. Com o desenrolar dos fatos que culminaram com um novo governo pró-ocidente e anti-Rússia com a participação de vários líderes da Euro Maidan, a região da Criméia, de ampla maioria de natureza russa, declarou sua independência e anexação à Rússia. Começava o colapso da Ucrânia.
Radicais anti-russos falavam em proibir a língua russa no país, o que deixou o grande contingente de ucranianos-russos em pé de guerra. Sabiam o que viria e começaram a se revoltar. Mais uma vez os neonazistas bancados por potências estrangeiras partiram para a violência, organizaram as milícias do Setor Direita e passaram a atacar russos e ucranianos-russos. Veio a guerra separatista, onde o exército regular da Ucrânia, esse do menino-soldado, está sofrendo grandes derrotas. Mais de 4 mil mortos até aqui. A todo momento os separatistas liberaram soldados ucranianos presos. Há poucos dias o ministro da Defesa foi destituído do cargo. Foi o quarto em menos de um ano.
A ofensiva de mídia pelo mundo criminalizando os rebeldes não para. Um avião da Malaysian Air foi derrubado e a culpa colocada neles, mesmo com fotos indicando que a cabine foi metralhada por aviões que os rebeldes não dispoem. Esse foi o motivo alegado para mais sanções contra a Rússia que, na prática, não existem. Há poucos dias a Ucrânia foi novamente humilhada com um acordo de cúpula entre a Rússia e a Comunidade Européia garantindo o gás russo para este inverno. Com a inclusão da Ucrânia no pacote.
No mais, o PIB da Ucrânia deve cair quase 10% neste ano. Os investimentos não chegam, a guerra consome recursos e a situação precedente se agrava. As pessoas migram para outros países, a grande maioria da população continua passiva, consolida-se o "quase estado" da Nova Rússia (Lugansk e Donetsk), a OTAN late mas não morde e Putin conseguiu entre os russos seu maior prestígio pela anexação da Criméia e apoio aos revoltosos. Quem perde é o povo ucraniano.
Voltando ao episódio do metrô, ao sair da estação em frente ao Monumento à Independência vimos a larga avenida fechada e uma homenagem com velas, músicas e grandes banners de fotos aos que lutaram em Maidan e estão na frente de guerra. Retratos com flores e velas e nomes dos que tombaram por toda parte. Jovens fazendo daquilo uma festa, com seus selfies e muita falta de noção.
Jovens da mesma idade do menino-soldado, que não irão para o front morrer para que alguns sejam mais europeus que ucranianos. Afinal, quando as guerras eclodem, os primeiros a fugir são os que têm mais recursos, e sobreviverão para depois da guerra sequer voltarem. Essa homenagem acabou por volta das 20h. Em seguida, jovens passaram a chegar à avenida com suas garrafas de bebidas, música e muita alegria. Vida que segue. A família de cada morto recebe seu corpo num caixão com a bandeira do país mais a quantia de HRV 609.000 de indenização pela vida abortada, uns R$ 120 mil.
Quando me lembro das jornadas de junho de 2013 no Brasil a comparação é inevitável. A diferença é que Dilma respondeu com mais participação popular: propôs plebiscito por uma reforma constitucional e criou o Conselho Nacional de Políticas Sociais, aquele que a direita detonou logo após as eleições de 2014. Vendo a reação furiosa dos eleitores da direita pedindo castração química de eleitores de Dilma, construção de muro separando o nordeste, mandar os nordestinos de volta para casa, chamando os militares às ruas para dar um golpe, pedindo intervenção norte-americana, não é difícil pensar no que poderíamos ter passado se eles conseguissem derrubar Dilma no ano passado. Vira-latas e mercenários existem no mundo todo, e os nossos a toda hora tentam levar os filhos dos nossos pobres à guerra pelos seus interesses.
De fato, chegamos ontem (sábado) à tarde e mesmo com a noite pudemos perceber que a cidade oferece segurança onde estamos, junto à Praça da Independência (Maidan) e trata-se de uma das mais belas praças que já vimos. Preços bons para o nosso poder aquisitivo. Metrô a cerca de R$ 0,40.
Com todos os alertas ligados e baixas expectativas chegamos à estação Maidan do metrô vindos do aeroporto. No trem as pessoas mostravam semblantes preocupados. O que mais me impressionou e deprimiu foi ver , ao final da subida pela enorme escada rolante, um soldado muito jovem com sua farda camuflada sentado num batente na estação, mochila ao lado, olhando para o nada. Vi naquele garoto as feições do meu filho mais novo e o imaginei indo para a guerra.
Que guerra? Contra ucranianos de origem russa, que se defendem de possível isolamento em campo de concentração, da proibição do uso de sua língua, de massacres e expulsão do território pelos neonazistas que cada vez mais ganham influência no governo e estão fora de controle formando batalhões militares vistos pelas entidades de direitos humanos como criminosos de guerra. Não é exagero falar nessas hipóteses, pois já conhecemos o nazismo, o que fizeram contra os ucranianos na II Guerra Mundial, na colaboração dos nazistas ucranianos liberados por Banderas, nos genocídios da região, faxinas étnicas, estupros de mulheres, etc. Quem vive nas regiões de Lugansk e Donetsk tem forte motivação para defender sua vida, seu território, sua história, sua cultura e sabe que as opções são a luta pela sobrevivência ou a morte pelo massacre.
E o menino-soldado, o que o motiva a dar sua vida para lutar? Soldados em todos os países geralmente são filhos de famílias pobres, em busca de oportunidades. No adestramento militar aprendem a obedecer ordens acima dos riscos. Não se admite questionamentos nem covardia. É matar ou morrer. Em condições normais, como lembraria Geraldo Vandré, "nos quartéis nos ensinam antigas lições, de morrer pela pátria e viver sem razão".
A Ucrânia é um país milenar e viveu pouco tempo independente, considerado o período histórico. Foi uma das últimas repúblicas a se separar da União Soviética, que já tinha sido dissolvida por decisão parlamentar quando eles se declararam independentes. Os laços com a Rússia são muito fortes, bons ou maus, remanescendo aos tempos dos tzares e depois dos soviéticos. Destruída na II Guerra Mundial, foi reconstruída no esforço coletivo da União Soviética sem apoio do ocidente.
Sair da União Soviética foi um duro golpe na economia. Desde então buscam alternativas, e a última foi a abertura à Comunidade Européia na esperança de conseguir capitais de investidores para alavancar sua economia. Essas negociações sofreram um solavanco quando os Estados Unidos, que dominam a OTAN, tentaram influir militarmente na região, o que não foi aceito pela Rússia. Há um ano começaram as manifestações na praça central de Kiev (Maidan), do movimento chamado Euro Maidan. O governo de então, que vinha fazendo as negociações, sabendo da contrariedade e de ameaças econômicas da Rússia, resolveu não assinar o acordo que traria a Comunidade Européia e a OTAN para dentro de casa. A partir daí, com o apoio de potências ocidentais, mercenários neonazistas apoiados por setores de classe média pró-Europa e anti-Rússia, começaram suas barricadas na Maidan.
Em fevereiro de 2014 a situação se agravou com a morte de ativistas e outras pessoas por tiros de franco-atiradores na praça que ninguém até hoje soube quem foram. Foi o estopim para a queda do governo. Com o desenrolar dos fatos que culminaram com um novo governo pró-ocidente e anti-Rússia com a participação de vários líderes da Euro Maidan, a região da Criméia, de ampla maioria de natureza russa, declarou sua independência e anexação à Rússia. Começava o colapso da Ucrânia.
Radicais anti-russos falavam em proibir a língua russa no país, o que deixou o grande contingente de ucranianos-russos em pé de guerra. Sabiam o que viria e começaram a se revoltar. Mais uma vez os neonazistas bancados por potências estrangeiras partiram para a violência, organizaram as milícias do Setor Direita e passaram a atacar russos e ucranianos-russos. Veio a guerra separatista, onde o exército regular da Ucrânia, esse do menino-soldado, está sofrendo grandes derrotas. Mais de 4 mil mortos até aqui. A todo momento os separatistas liberaram soldados ucranianos presos. Há poucos dias o ministro da Defesa foi destituído do cargo. Foi o quarto em menos de um ano.
A ofensiva de mídia pelo mundo criminalizando os rebeldes não para. Um avião da Malaysian Air foi derrubado e a culpa colocada neles, mesmo com fotos indicando que a cabine foi metralhada por aviões que os rebeldes não dispoem. Esse foi o motivo alegado para mais sanções contra a Rússia que, na prática, não existem. Há poucos dias a Ucrânia foi novamente humilhada com um acordo de cúpula entre a Rússia e a Comunidade Européia garantindo o gás russo para este inverno. Com a inclusão da Ucrânia no pacote.
No mais, o PIB da Ucrânia deve cair quase 10% neste ano. Os investimentos não chegam, a guerra consome recursos e a situação precedente se agrava. As pessoas migram para outros países, a grande maioria da população continua passiva, consolida-se o "quase estado" da Nova Rússia (Lugansk e Donetsk), a OTAN late mas não morde e Putin conseguiu entre os russos seu maior prestígio pela anexação da Criméia e apoio aos revoltosos. Quem perde é o povo ucraniano.
Voltando ao episódio do metrô, ao sair da estação em frente ao Monumento à Independência vimos a larga avenida fechada e uma homenagem com velas, músicas e grandes banners de fotos aos que lutaram em Maidan e estão na frente de guerra. Retratos com flores e velas e nomes dos que tombaram por toda parte. Jovens fazendo daquilo uma festa, com seus selfies e muita falta de noção.
Jovens da mesma idade do menino-soldado, que não irão para o front morrer para que alguns sejam mais europeus que ucranianos. Afinal, quando as guerras eclodem, os primeiros a fugir são os que têm mais recursos, e sobreviverão para depois da guerra sequer voltarem. Essa homenagem acabou por volta das 20h. Em seguida, jovens passaram a chegar à avenida com suas garrafas de bebidas, música e muita alegria. Vida que segue. A família de cada morto recebe seu corpo num caixão com a bandeira do país mais a quantia de HRV 609.000 de indenização pela vida abortada, uns R$ 120 mil.
Quando me lembro das jornadas de junho de 2013 no Brasil a comparação é inevitável. A diferença é que Dilma respondeu com mais participação popular: propôs plebiscito por uma reforma constitucional e criou o Conselho Nacional de Políticas Sociais, aquele que a direita detonou logo após as eleições de 2014. Vendo a reação furiosa dos eleitores da direita pedindo castração química de eleitores de Dilma, construção de muro separando o nordeste, mandar os nordestinos de volta para casa, chamando os militares às ruas para dar um golpe, pedindo intervenção norte-americana, não é difícil pensar no que poderíamos ter passado se eles conseguissem derrubar Dilma no ano passado. Vira-latas e mercenários existem no mundo todo, e os nossos a toda hora tentam levar os filhos dos nossos pobres à guerra pelos seus interesses.
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