Resistir aos ataques da direita é a tarefa da esquerda hoje |
Eu vi o programa do PT na Internet. Bem produzido, buscando esclarecer o pacote de maldades do Levy e pedindo crédito ao eleitorado para o que Dilma chamou de "travessia" da crise. Separa as opções entre a esperança e o medo colocando na conta dos interesses particulares e escusos diversas fotos de opositores, onde se nota a falta de Eduardo Cunha, o principal vilão do momento, autor do "pacote-bomba" contra Dilma. Por fim, ironiza o panelaço inevitável diante da convocação pela grande mídia e oposição partidária e 71% de desaprovação, segundo as sempre suspeitas pesquisas do Datafolha.
O programa deve ter produzido efeitos sobre alguns descontentes que só conseguem ver o massacre de mídia negativa em relação ao governo, à economia e ferindo a autoestima nacional. Com esses o PT ganha sobrevida e alimenta também a sua cada vez menos fiel militância.
Do ponto de vista do conteúdo foi decepcionante para pessoas como eu, que fui do partido, depois continuei como simpatizante e hoje tudo que não quero é o retrocesso ao tempo da ditadura ou aos anos FHC, nem que para isso tenha que defender Dilma e seu projeto pífio que pouco se diferencia dos neoliberais a não ser pelo cuidado com a lenta inclusão social. O programa foi o de sempre, despolitizado, sem apontar mobilização, apelando para a piedade em relação a Dilma e ao respeito ao seu passado de resistência.
Na hora do programa fui à rua mapear o panelaço. Já foi maior. O interessante, que acho representativo dos paneleiros, é que se quer derrubar Dilma por causa da corrupção, etc. Aqui e ali se ouvia gritos "Dilma" como esboço de reação não tão política, mas para afrontar os que protestavam.
A diminuição do barulho não signica fortalecimento do governo. Pelo contrário: mais capitulação aos interesses do capital, como os pactos por governabilidade com governadores e entidades do capital como a FIESP e a FIRJAN contra os atos do Congresso que aumentem gastos, sem apontar para o equilíbrio fiscal através da taxação das riquezas. Entre as elites cresce a convicção de ser melhor deixar Dilma sitiada até 2018 fazendo o programa econômico da oposição e minguar a cada instante as poucas conquistas sociais para tomar o país nas eleições.
Tirar Dilma agora significará abrir a temporada de disputas vorazes entre o PMDB de Cunha e o PSDB de Aécio em meio à oposição do PT e dos movimentos sociais aos inevitáveis ataques aos direitos sociais e trabalhistas seguindo o modelo do FMI. Como a crise é mundial, tais remédios não melhorarão a economia e trarão efeitos colaterais terríveis que levarão a oposição a um eventual governo Temer à vitória em 2018. Pior para eles: uma esquerda bem mais poderosa que o PT pode ascender nas lutas sociais, se ainda restar algum espaço democrático.
O golpismo arrefece. No dia 16 de agosto veremos pela mídia o mesmo "freak show" dos outros atos dos fascistas com apelos a golpe militar, bonecos de Lula e Dilma enforcados, provocações a tudo que tenha cor vermelha, ódio espumante e principalmente a ala mais raivosa do PSDB liderada por Aécio enfiando o pé na jaca enquanto é sabotado por Alckmin e Serra. Pode ser o ato final desse ciclo que dará "estabilidade instável" a Dilma para mais uma vez ser torturada pela direita até 2018.
O PT cansou. Brochou. Vive de glórias do passado e não consegue se revigorar congresso a congresso, mantendo-se a mesma direção que o levou ao declínio. Poucas correntes de esquerda sobrevivem no seu interior ainda acreditando que se trata de um partido em disputa. A maioria das lideranças vive fisiologicamente do governo e dos parlamentares, sem contato com o movimento social. Pior: cooptando os movimentos vivos, que cada vez mais se afastam do PT e do governo.
A luta de alguns setores da esquerda hoje não é para defender o PT ou o governo DIlma, mas para evitar que a da direita tome o poder e nos enterre como nos anos perdidos FHC ou na ditadura militar. Quem ainda dá sobrevida ao governo, em especial, é o "limbo de esquerda", um conjunto de centenas de milhares de ex-militantes, ex-ativistas e ex-simpatizantes do PT e de Lula que o deixou de lado à medida que o partido ia se degradando.
São os que aparentam estar fora de combate mas aparecem para combater a festa da direita, em especial nas redes sociais. São os que pedem voto contra a direita, mesmo que isso beneficie os candidatos do PT. A esses se somam alguns setores do PSOL, PCO, e PC do B, que compartilham a percepção do retrocesso de um golpe que pode jogar toda a esquerda na ilegalidade, na cadeia e nas covas sem identificação. A direita nunca foi punida pelos crimes da ditadura, e essa sensação de impunidade impulsiona as ações de ódio e terror.
Um golpe hoje significaria em curtíssimo prazo a vitória do poder que se sustenta através da superestrutura das instituições burguesas dominando o judiciário, o ministério público, as polícias, a mídia, o capital financeiro e os rentistas. Derrubar Dilma é botar nas ruas hordas de criminosos políticos para amarrar petistas e outros em postes e linchar, bombardear bem mais que o Instituto Lula, tocar fogo novamente na UNE, como em 1964 e sair pelas ruas em milícias nazistas como na Ucrânia achacando e intimidando tudo que se pareça com lutas sociais. A brochada do PT e a resistência do governo Dilma a resistir aos ataques chamando à mobilização podem nos levar a um retrocesso de décadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário