Charge de Aroeira que traduz o momento atual: um terrorista contra Dilma |
Poucos se lembram ou vão ligar uma coisa com outra, mas desde 2012 as condições macroeconômicas permitiram a gradual queda da taxa de juros. Até a poupança foi modificada para não prejudicar a rentabilidade de investimentos quando os juros baixassem muito. Nessa época começou o ódio, que os banqueiros e a mídia tentaram transformar em "golpe contra a poupança" a exemplo do que aconteceu no governo Collor. Dilma mudou a poupança e no dia seguinte a terra continuou girando na mesma velocidade da véspera.
Dilma vivia o melhor do seu primeiro mandato no início de 2013. Em 18 de maio daquele ano escrevi sobre a situação econômica favorável que já despertava ódio golpista na direita, que viria às ruas menos de um mês depois legitimada pela mídia. Vale a pena ver de novo: REVOLUÇÃO CAPITALISTA DE DILMA PROVOCA GOLPISMO DE DIREITA
Exemplo de "ISSO NÃO VEM AO CASO". Aécio não interessa. |
De repente a mídia, que condenava, muda de idéia e aparelha a luta legítima com bandeiras como "fora Dilma, impeachment" e outras. Os movimentos sociais adotaram a Copa como bode expiatório e começaram um movimento contra a realização do evento, no que tiveram apoio parcial de mídia até o momento crucial onde a Globo perderia dinheiro se não ocorresse. Teve a Copa, mas Dilma foi xingada nos estádios. Teve a Copa, mas o Brasil não poderia ganhar senão fortaleceria Dilma na eleição. Acabamos tomando 7 x 1 num episódio que mereceria maior investigação diante da corrupção endêmica do futebol, mas a "cena do crime" foi rapidamente desfeita num "deixa disso" midiático. "Perdemos porque somos uns merdas", era o discurso vira-latas do povo da mídia.
A fraqueza de Dilma na "governabilidade" abriu os esgotos. |
Oposição faz de Cunha seu herói do golpe |
A direita quer golpe sangrento, pior que 1964. Extermínio. |
Junto com ele o governador Beto Richa do PSDB do Paraná acordou os movimentos com uma repressão brutal aos professores em greve quando tentava roubar-lhes o dinheiro da previdência. A ficha caiu prá muita gente que um governo tucano com Aécio seria uma guerra aos trabalhadores. Mesmo com blindagem de mídia, o desgaste foi grande e as atrocidades foram vistas por muita gente brasil afora.
Os movimentos sociais, que estavam paralisados em parte pela submissão da CUT e outros ao fisiologismo de governo e mais à esquerda pelos que queriam ver o circo pegar fogo e depois crescer sobre as ruínas do PT, não se opunham. As ruas e redes sociais estavam dominadas pela escória do Brasil espalhando até golpe militar, desejos de matar, volta da ditadura, etc. Isso foi até abril, quando Cunha passou a ser o vilão dos direitos sociais e trabalhistas. Lentamente os movimentos populares se levantaram e passaram a protestar.
Ataques á Petrobrás geraram reações. 13/03/15 Rio |
Globo estimulou ações dos coxinhas contra Dilma e blindou PSDB |
Globo mergulhou de cabeça no apoio ao golpe, como em 1964 |
O "timing" do golpe indicava abril ou maio para a deposição de Dilma, que mostrava debilidade em governar tanto pelo tsunami da direita como pela incompetência da equipe que escolheu. Sem ter mídia favorável sequer se armou com um bom porta-voz. O Planalto silenciou. A articulação política virou um balcão de despachos do PMDB, que foi achacando por mais e mais ministérios enquanto tramava derrubar Dilma e dar posse ao vice Temer. Na área da justiça um dia não será surpreendente saber que o ministro jogava do outro lado. Nunca impediu que a PF vendesse informações à mídia golpista, mesmo sendo o chefe. Deixou que em Curitiba a PF montasse um comitê pró-golpe, um ninho tucano que fez campanha para Aécio.
Antecipada candidatura de Lula 2018 |
Lula fez o contraponto. Galvanizou a solidariedade da base petista descontente e descrente, que já dava o jogo como perdido dada a inoperância e falta de recuperação do governo Dilma. No meio desse tiroteio o Congresso parou. Lentamente as mulheres e outros segmentos atacados por Cunha se levantaram e foram às ruas a partir de outubro.
Os espertos faturam em cima dos otários |
is. A ele foi associado o bordão "isso não vem ao caso" quando os assuntos envolvendo corrupção remetiam a anos FHC. Ficou explícito que a Lava Jato é um tribunal tucano. Ainda há a emblemática imagem do helicóptero dos 450 kg de pó que não foi investigado ou punido porque chegou ao quintal dos poderosos.
O desgaste institucional chegou ao ápice em outubro com a aprovação da lei do direito de resposta e a denúncia das contas secretas de Cunha na Suíça. A máquina de mentir e caluniar da mídia foi parcialmente travada com os direitos de resposta, aumentando a crise de credibilidade que levou a Veja praticamente à falência e tirou dinheiro de patrocinadores da Globo. Esta chegou a perder audiência ao ponto de uma novela do horário nobre perder para um épico bíblico da Record... Foi um ano ruim para a mídia, que passou a ser vista por boa parte das pessoas como manipuladora e mentirosa.
Esposa de Cunha gastando nosso dinheiro |
Antes de chegar à conclusão é bom lembrar que com as baixarias das demonstrações de rua, cada vez mais radicais e direitistas, o PSDB e outros partidos que surfavam na onda saíram de cena. Praticamente ficaram "resistindo" oportunistas e mercenários, que tentaram um "gran finale" com uma greve de caminhões seguindo o modelo chileno bancado pela CIA para derrubar Salvador Allende. Também espalharam pelo país bonecos infláveis difamando Lula e Dilma como criminosos. Foi o princípio do fim para eles. Setores de juventude passaram a atacar os tais bonecos e o governo (finalmente) deixou seu "republicanismo Caracu" de lado e inviabilizou a greve política. Os "revoltados" e heróis partiram para o tudo ou nada montando uma centena de barracas em frente ao Congresso Nacional sem ninguém, e juntando o que havia de pior, desde cachorros doidos de direita a gente armada, que chegou a atirar contra uma manifestação pacífica de mulheres negras.
Fim de linha. Mesmo apoiados por Cunha, que os tinha como milícia para pressionar pelo impeachment ao mesmo tempo que barganhava com o governo sua não cassação pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, foram enxotados de forma humilhante de lá. Mas pelas redes sociais o discurso radical continua beirando o terrorismo.
No front jurídico a criminalização do filho de Lula e de pessoas próximas a ele buscava um clímax com a prisão do "Chefe", do "Nine" (nove dedos)" ou "Brahma", como na codificação do circo da Lava Jato e mídia. Pressão máxima pelo impeachment antes do fim do ano. Prenderam o líder do governo no senado, Delcídio Amaral, com grampo de conversa onde entrega também o banqueiro André Esteves, padrinho de Aécio Neves, que bancou sua lua-de-mel em Nova Iorque. A mídia aliviou o banqueiro e centrou fogo em Delcídio, que apesar de ter cometido os crimes no governo FHC quando era do PSDB isso "não vinha ao caso".
O episódio serviu para acentuar o sentimento de haver uma justiça parcial, que prendia alguém do PT por crimes no governo FHC e não prendia um ladrão com consistentes provas, Cunha, que continuava à frente da Câmara, o terceiro nome na linha sucessória. Cunha só conseguiu essa proeza de não ser preso porque faz parte do esquema da oposição para derrubar Dilma. A coisa ficou tão ruim para o lado dele que passou a ser visto pelos seus pares como um obstáculo ao impeachment, ao usar o pedido como moeda de troca para fugir à cassação pela Comissão de Ética com os três votos de deputados petistas que desempatariam a seu favor o jogo.
Entrou dezembro nesse clima com os efeitos da peregrinação de Lula começando a serem sentidos na base petista. Na semana anterior o presidente do PT, Rui Falcão, já havia negado solidariedade a Delcídio quando foi preso, mas a bancada do PT no senado foi contra a sua prisão. Agora petistas iriam dar salvo-conduto a Cunha... uma dose muito forte até para os mais radicais militantes. Veio a reação que chegou aos parlamentares na forma de abaixo-assinado contra livrar Cunha. Os deputados da Comissão de Ética, que estavam vacilantes, foram pressionados a votar contra Cunha. Sentindo que seu esquema de chantagem havia falhado, Cunha tomou a atitude desesperada: iniciou o processo de Impeachment para garantir sua sobrevida com o apoio da oposição e da mídia.
Dilma imediatamente fez um discurso que o torpedeou, colocando sua honestidade contra a ficha suja de Cunha e que fez isso como vingança por uma chantagem mal-sucedida. Diversos setores da sociedade entenderam isso. Um bandido se vingando de uma mulher honesta, apesar de erros e vaciladas políticas. Partidos que lavavam as mãos esperando faturar na queda de Dilma se posicionaram contra o golpe, cujo apoiador mais visível e pessoalmente interessado passou a ser Aécio Neves, que está desgastado até entre seus eleitores e apoiadores.
Com a base do PT comemorando e militando novamente, agora virão os movimentos de rua contra o golpe. Os aloprados da direita vão tentar voltar às ruas a pedido de Aécio, que agora quer adiar a decisão do impeachment depois de ter dito que o Brasil não aguentava mais um dia com Dilma, porque está isolado. Precisa de 342 votos para derrubá-la, o que parece impossível hoje.
Direita ficou com Cunha mesmo depois de denunciado |
Dilma pode até não saber, mas está no seu melhor momento desde que ganhou as eleições em 2014. A situação econômica está sendo agravada pela sabotagem e isso afeta até os governos dos inimigos de Dilma. Se ela não pode pedalar, ninguém pode! Estados e municípios estão sufocados pela queda de arrecadação fruto da paralisação forçada pela crise política. Estão dependentes do governo federal. Sabem do risco de caos num processo turbulento de deposição. Tem eleições em 2016 e sem realizações para mostrar os políticos correm riscos de ser derrotados.
28/10/15 - Rio - Ato das mulheres contra Cunha na Cinelândia |
Chuva de dólares em protesto contra contas na Suíça |
Pode chegar o momento de Dilma se libertar do PMDB para poder governar. E aí, quem daria governabilidade? Existe vida após o PMDB. E escapando ao golpe Dilma estará devendo à sociedade que hoje se solidariza a ela. Terá que apresentar um programa de governo e começar tudo do zero, um novo mandato. É nessa hora que uma nova correlação de forças poderá ser estabelecida. O bloco liderado pelo PSDB está rachando com a possível saída do PSB, cujo governo em Pernambuco já subscreveu manifesto contra o impeachment. O Rede, que está na sua área de influência, se mostra contra o golpe. E sem Cunha, como fica sua milícia do baixo clero da Câmara, que não se submete aos partidos pelos quais elegeram? A tendência será de fidelização às lideranças que por sua vez buscarão acordos com Dilma.
Pesquisa diz que 81% querem Cunha na cadeia |
Sabemos das limitações de Dilma, sua equipe e do PT, A declaração hoje do ministro Ricardo Berzoini de começar em março a discussão sobre a regulamentação da propriedade da mídia não parece revestida da radicalidade que o assunto requer. Parece mais um blefe, um joguinho prá criar moeda política no trato com a Globo. Uma pequena chantagem, vem ao estilo Cunha.
O fotograma de hoje, 4/12, não serve para prever o que virá por aí na reação dos golpistas, que hoje perdem feio para Dilma, que tem que liquidar logo essa fatura e liderar as esperanças para começar um ano melhor em 2016. Sempre haverá a mídia e a chaga aberta da Lava Jato, que poderá oferecer nas ceias de Natal das elites a cabeça de Lula numa bandeja de prata, preso por qualquer coisa. Alguém quer apostar nisso?
Parabéns!!! Parabéns pela lucidez sem pieguices, sem blá blá blá!!!! Muito claro o texto, só não entende quem não quer. Abraço.
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