Imagens gravadas mostraram ontem o assassinato de um dos coordenadores do Movimento Afroreggae por dois homens, que em troca da sua vida levaram um par de tênis e sua carteira. Na cena seguinte, um carro da PM passa por eles na mesma rua estreita onde o corpo do homem jazia no chão, faz a abordagem e um policial aparece entrando no carro com o tênis roubado, sem dar assistência à vítima e deixando os criminosos irem embora. Esse é um exemplo de maus policiais que mancham toda a imagem da corporação, prejudicando a relação com a sociedade
A vigilância comunitária é uma experiência de bons resultados no mundo, a exemplo do "Neighbourhood Watch" inglês. O cidadão é encorajado a relatar atitudes suspeitas, crimes e vandalismo às autoridades policiais locais, que mandam efetivos para investigar. Vi um exemplo desse tipo de relacionamento cidadão-polícia na pequena cidade americana de Key West, quando parei o carro numa rua residencial secundária para arrumar as coisas dentro do carro, com mulher ao lado e uma criança dormindo, e, em poucos minutos, uma patrulhinha veio nos abordar para saber o que fazíamos ali. Depois foi que vi a placa no poste indicando que naquela área funcionava um sistema de vigilância de vizinhança. Algum paranóico de plantão achou tudo muito suspeito...
Como crer na polícia? Um amigo tentou comunicar à polícia um sequestro relâmpago, seguindo o carro com a vítima. Tinha visto 3 pessoas entrarem no carro ao lado do seu, com arma na cabeça do motorista, e acabou perdendo o carro de vista porque a polícia deu mais prioridade à identificação do denunciante que ao fato em si. Levou uns 15 minutos até registrar a ocorrência. Coincidentemente, dois dias depois viu no jornal que a quadrilha tinha sido presa numa favela próxima ao local informado. Pode ter sido a sua informação que levou à solução do crime.
Nesta semana passei num local público de bastante afluxo e vi um bar com umas 8 máquinas caça-níqueis. É uma daquelas situações onde a coisa é tão escancarada que só a corrupção policial pelo pagamento de proteção pode justificar. Como falar com a polícia que pega os teus dados e ao mesmo tempo protege o criminoso? Isso está na raiz da Lei de Murici (cada um cuida de si) que implica no "não sei, não vi, não ouvi" que a gente vê na TV toda vez que se tenta entrevistar alguém quando acontece um crime. Por outro lado, a polícia tem razão de tentar saber um pouco mais sobre o denunciante, porque tem um bando de desocupados que passam trotes e geram falsas ocorrências, minando o esforço policial. Essa sacanagem também é muito frequente com o Corpo de Bombeiros e o serviço 192, e ninguém é preso por esse tipo de crime.
Jogar milhões de reais em armamentos e novos policiais mal remunerados equivale a combater a miséria do Nordeste dando dinheiro aos coronéis da indústria da seca. Hoje a polícia carioca entra em ação provocada ou por uma comoção como a da queda do helicóptero no Morro dos Macacos, de repercussão internacional, ou em autodefesa, já que os bandidos matam policiais à paisana se os identificarem. Apenas 4% dos homicídios são elucidados no Rio, enquanto em São Paulo o índice é de 65%, refletindo a falta de polícia técnica e fomentando a impunidade. Na comparação também é patente que no Rio a polícia mata muito e prende pouco, com a relação de mortos por presos na ordem de 3 vezes a de São Paulo, para um mesmo contingente policial "per capita". Quem pode confiar nessa polícia?
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Rio: Quem confia na Polícia?
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