sábado, 4 de agosto de 2012

Mensalão : Procurador faz discurso político

O julgamento do Mensalão tem tudo para ser político. Quem deu o maior sinal disso foi o Procurador da República, Roberto Gurgel, ao apresentar ontem a acusação contra 36 réus do esquema conhecido como Mensalão do PT. Segundo a defesa de diversos acusados, Gurgel vai usar dados colhidos fora do inquérito do Ministério Público para formular as acusações, que poderão ser contestados.

Seu discurso anti-petista pareceu inseguro, como numa tentativa de reforçar na opinião pública um processo falho, com poucas provas. As manchetes da mídia cúmplice reforçam sua frase sobre o esquema funcionar dentro do Palácio do Planalto, que ficarão perdidas entre as maldades de Nina e Carminha na novela das 9 e as Olimpíadas na cabeça do povão, que também está sendo bombardeado pela propaganda eleitoral nas ruas. É muita informação que será perdida nesta fase inicial, e a maior atenção acontecerá na hora das defesas, lá pro fim do mês.

Se o julgamento for jurídico, os fatos se sobreporão às versões, mas não é isso que Gurgel, apoiado pela ampla mídia que já livrou a sua cara no caso Cachoeira (omissão de providências no processo de acusação ao bicheiro). Vão passar pelo picadeiro do STF os melhores advogados do Brasil, que conhecem profundamente os processos jurídicos e se aproveitarão das falhas do relatório de Gurgel para salvar alguns dos acusados.

Dizer que Dirceu elaborou todo o esquema é desconhecer suas limitações. Marcos Valério tinha um produto na prateleira e o vendeu aos degenerados petistas. Já tinha feito isso com Eduardo Azeredo, do PSDB, na sua campanha ao governo de Minas. Assim como em outro episódio de oferta suspeita, que foi  o do tal dossiê sobre dinheiro tucano nas Ilhas Cayman, onde Lula chamou os envolvidos de "aloprados" os petistas que caíram no golpe pensando estar fazendo o melhor para o partido, no Mensalão os caras caíram novamente que nem patos, juntando a fome de poder com a rendição à ética. Como se explica um emissário do partido ser pego com dinheiro na cueca, saindo de um hotel em São Paulo, se não for pelo prisma da armadilha?

Do lado do PT aliado a José Dirceu o que se tenta fazer é desconhecer a existência do Mensalão, com amplas mobilizações nas redes sociais e mídias alternativas. Ao mesmo tempo, vão jogar com a CPI do Cachoeira e até com a CPI da Privataria Tucana, que pode vir a acontecer, caso o julgamento fuja aos autos e passe aos palanques. O ponto alto da disputa deverá acontecer por volta de setembro, véspera das eleições. Depois disso, tudo deverá ser esquecido e, no fim, rolar uma pizza com temperos natalinos.


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