domingo, 1 de dezembro de 2013

BRASIL VIRA-LATAS 0016 : "Padrão FIFA não dá certo porque isto aqui é Brasil"

Toda vez que ouvir alguém decretar que "Isto aqui é Brasil..." pode ter certeza de estar diante de alguém querendo passar por cima do direito alheio ou de algum omisso justificando não poder fazer nada diante do esbulho alheio.

 Nos metrôs e trens é comum saudáveis sentados nos assentos prioritários para gestantes, idosos, deficientes, etc. Todos dormindo profundamente, mas estranhamente acordando quando as suas paradas chegam. As pessoas cutucam para que acordem para dar lugar a alguém que necessite, e nada... Às vezes acordam oferecendo impropérios e ameaças, com a afirmação definitiva que não vão levantar dali, que não aceitam tal regra, e que ... isto é Brasil.

Um dos legados que a Copa poderia nos legar seria uma elevação na qualidade do relacionamento entre pessoas, na educação, no respeito mútuo, provocada por uma série de exigências embutidas no chamado "Padrão FIFA", tão odiado por quem confunde os gastos sem prioridade com obras de estádio com a possibilidade de sairmos do evento melhor que antes em diversos aspectos. E por oportunistas que não querem mudar a realidade de péssima civilidade que temos no cotidiano.

Na contestação à Copa, no que tange aos estádios caros naquela lógica medíocre do "poderia estar construindo hospitais ou escolas", o Padrão FIFA também está sendo enterrado. Um exemplo é o Maracanã. Noutro dia fui comprar ingresso e a própria pessoa que orientava a fila me disse que apesar do ingresso numerado, aquilo não estava valendo.

O direito à "bunda numerada" é um avanço em relação à lei do mais forte que impera na maioria das relações interpessoais. Não raramente vejo crises nos aviões porque pessoas simplesmente ocupam as janelas sem respeitar numeração de assentos, às vezes com desdobramentos em barracos quando o prejudicado pede mediação dos comissários.

Em relação aos estádios, uma amiga quase foi agredida ao querer fazer valer o que estava escrito no ingresso, ou seja, o direito a uma cadeira no setor x, fileira y, número z. Ao chegar ao local um homem disse que ela fosse para outro lugar porque não se levantaria dali. Ponto final. Ela recorreu às pessoas da organização, que a princípio tentaram dissuadi-la da idéia de comprar a briga, oferecendo-lhe um lugar cativo de pessoas com necessidades especiais.

Ocorre que a torcida fica a maior parte do tempo em pé, e perde-se a visibilidade nesse local. Ela voltou à carga e exigiu se lugar. O homem quase a agrediu e a quem tentava auxiliá-la. Veio a sentença que tudo justifica : "Minha senhora, isto aqui é Brasil, essa coisa de assento numerado é coisa da FIFA para jogo de Copa". Com o apoio de outros torcedores, que viram o episódio de truculência se arrastar, o homem acabou cedendo e ela conquistou enfim o seu espaço. E o usurpador saiu sendo sacaneado pelos demais.

Interessante é que nunca na história deste país tantas pessoas das diversas classes sociais viajaram ao exterior vendo bons exemplos de disciplina e educação entre as pessoas, mas ao chegarem por aqui alguns se esquecem de tudo. E são os primeiros a reclamar "dos outros". Já vi chegada de vôo internacional com gente correndo para formar fila dupla para levar vantagem no despacho de malas na conexão. E acho que todo mundo tem um caso a contar. O importante é que fazer valer tais direitos é mais uma tarefa do cidadão que das autoridades, e muitos conflitos haverá até que se imponha o direito sobre a truculência.









Nenhum comentário:

Postar um comentário