sexta-feira, 4 de abril de 2014

IPEA corrige gráficos mas violência contra a mulher continua inaceitável

A acirrada polêmica acerca de um dado extraído da pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra a mulher" foi atropelada pela errata do órgão publicada hoje. Enquanto o puritanismo dava força aos 65% de opiniões que concordavam com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas" e feministas puxaram a campanha "#eunãomereçoserestuprada" pelas redes sociais e a polêmica esquentava, o IPEA puxa o tapete de todo mundo e diz que trocou os gráficos.

O que muda com a correção dos resultados? Saímos de um valor errado de 65% que era escandaloso para vergonhosos 26% que também concordam em atacar mulheres com roupas sensuais. Entretanto, é ressaltado pelo próprio IPEA que na afirmação "se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros" a concordância foi de 58%, ou seja, apesar de tudo atribui-se ao comportamento geral da mulher, inclusive roupas, a incitação à violência sexual.  Com ou sem o deslize, há muito que se fazer para acabar com a violência contra a mulher.

O Blog do Branquinho entrou nessa questão defendendo o IPEA da acusação de erro de metodologia na base de dados, no que não há o que mudar. Não esperávamos era essa vacilada de troca de gráficos. A nota do IPEA diz que o diretor responsável pelo erro se demitiu. Imaginem o tom amistoso de um eventual telefonema da presidente Dilma para o presidente do IPEA cobrando satisfações por esse erro, pois ela também ficou chocada com os dados anteriores e demonstrou sua indignação publicamente. Parece até a equipe de gráficos da Globo, que consegue fazer barras maiores para valores menores...
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 http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=21971&catid=10&Itemid=9
04/04/2014 15:31
Errata da pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”

Vimos a público pedir desculpas e corrigir dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados, os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:

Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar (Em %)


Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas
(Em %)



Corrigida a troca, constata-se que a concordância parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na sociedade ao longo dos últimos dias.

O outro par de questões cujos resultados foram invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem. Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5% concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente, 5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.

A correção da inversão dos números entre duas das 41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.

Rafael Guerreiro Osorio* e Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e autores do estudo

* O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea pediu sua exoneração assim que o erro foi detectado.

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