Fortaleza - 29/09/1992 - Praça do Ferreira - Manifestação "Fora Collor" acompanhando a votação do impeachment |
O fato é que com ou sem mensalão, figuras do alto escalão daquele que foi o partido que veio para mudar a política fizeram, no mínimo, o crime eleitoral de caixa-dois, desviaram de empresa privada para irrigar lavagem de dinheiro e, o maior dos crimes, arrastaram na lama a história do partido que milhões de pessoas, com suor, lágrimas e sangue, lutaram para construir.
Há 20 anos, em 29 de setembro de 1992, estávamos nas praças mobilizados para pressionar a votação a favor do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello por corrupção. Festa nas ruas depois do resultado, e em seguida a deposição do presidente. O maior responsável por isso foi o PT, que fazia oposição acirrada, ideológica, militante.
Se hoje alguns se surpreendem com a exposição de petistas como José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, que eram a alta cúpula do partido na época do "mensalão", muitos petistas já suspeitavam da perspectiva de degeneração há muito tempo. Em Fortaleza (vide foto) a nossa campanha eleitoral a prefeito pelo PT tinha como objetivo político afirmar ao partido como alternativa de esquerda ao mesmo tempo que participava das lutas dos trabalhadores. Pedíamos o impeachment de Collor pela corrupção do seu governo e pelos ataques aos trabalhadores (confisco de poupanças, arrocho salarial, privaticações).
Já em 1992 nossa campanha enfrentou forte resistência no partido, da parte dos que se alinhavam com José Dirceu & cia, no sentido de apoiar o candidato tucano a prefeito em Fortaleza em troca de apoio a outro candidato, do PT, no interior do Ceará. Uma barganha que a militância de Fortaleza, a mesma que depois elegeu Luiziane Lins contra a vontade desse mesmo grupo, não aceitou de forma nenhuma. Essa negociata sem qualquer fundamento político-ideológico não passou, mas a campanha foi bombardeada pelo PT nacional, já ferido de morte pelo ascenso das idéias pragmáticas acima de tudo para eleger Lula e chegar ao poder.
Não éramos só nós, resistindo em Fortaleza, que tínhamos noção de algo errado estar começando a se tornar monstruoso. Enquanto no partido se pedia "FORA COLLOR" e lançava livros sobre o modo petista de governar, o atual secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, publicava um artigo na revista Teoria & Debate, órgão do PT, onde já apontava para o perigo das práticas corruptas que já identificava. Elas foram hegemônicas até o mensalão, e deixaram o partido moribundo, sem sequer julgar eticamente o que os réus atuais fizeram. Era mais fácil expulsar gente decente que levantar um dedo contra mensaleiros, doleiros de cuecas, etc.
A integra do texto "Área de sombra - Era doméstica", de Gilblerto Carvalho está no link abaixo, do qual destaco o período copiado mais abaixo. Dá para entender como as relações internas apontavam para a eliminação da crítica, a vitória do fisiologismo e do pragmatismo e daí ao mensalão foi só uma questão de tempo. Parabéns á minoria que ainda resiste no PT e a todos que derrubaram Collor em 1992. Punição rigorosa a todos os corruptos.
http://www.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/opiniao-area-de-sombra-era-domestica
" ... Pequenas corrupções
Os fatos são muitos e espalhados por esse Brasil afora, sem respeitar fronteiras de espécie alguma. Ameaçam ganhar o status de cultura, numa convivência aparentemente promíscua com toda a energia renovadora e libertária que temos desenvolvido; acontecimentos e atitudes que jogam sombra sobre um projeto que é depositário de uma esperança enorme e que efetivamente vai se consolidando como alternativa real para a construção de um país diferente, justo e estimulador da vida. Estou falando da progressiva quebra da fraternidade nas relações internas; dos sintomas de pequen
as corrupções; do uso de máquinas em proveito de indivíduos ou grupos; de filiações oportunistas, sem critérios, em cima da hora, para vencer convenções; da sonegação de informações aos comitês eleitorais (cada vez menos) unificados; da demarcação de currais, de feudos; do apego aos aparelhos; da criação e manutenção de uma dúbia área de pessoas sob controle político de personalidades ou grupos, com a consequente reedição de um certo lumpesinato de esquerda, muito útil em certas ocasiões; do fenômeno de "lambebotismo" (perdão pelo neologismo) em torno de lideranças; da criação de mecanismos informais e paralelos de tomada de decisão; da luta sem limites pelo poder, pela ascensão individual: do distanciamento do convívio e da dinâmica da luta social; de projetos individuais se sobrepondo ao coletivo; dos meios dúbios para se atingir fins tampouco muito claros... Lógicas estranhas presidindo e fundamentando ações, que no mínimo assustam... espécie de cansaço e capitulação ante as leis da dura "realidade"...
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