2009. Recife. Menina de Alagoinha (PE), de 9 anos, estuprada pelo padrasto engravida é submetida ao aborto legalmente. A gravidez estava na 15a semana. A equipe médica avaliu que o risco maior seria a continuação da gravidez, pois a criança ainda não tinha os órgãos completamente formados. Havia risco da mãe morrer, pois havia fetos gêmeos. Feita a curetagem, a mãe sobreviveu saudável.
2009, mas poderia ser em 1009. Dom José Cardoso Sobrinho, Arcebispo de Olinda e Recife, entendendo que para a Igreja Católica a lei do seu deus está acima das leis dos humanos, excomungou todas as pessoas que participaram do aborto, com exceção da criança. Isso deve incluir quem fez a legislação, inclusive José Serra, que normatizou os procedimentos para a realização de abortos legais quando era Ministro da Saúde. Não excomungou o estuprador.
Veio a CNBB e jogou panos quentes em cima, dizendo que o arcebispo não tinha autoridade para excomungar, e que não deveria deixar de condenar o estuprador. Ninguém foi excomungado, de fato, pelas autoridades eclesiais, mas diz o Código de Direito Canônico:
"Can. 1398 - Qui abortum procurat, effectu secuto, in excommunicationem latae sententiae incurrit"
Em bom português, o cânon 1398 diz: "Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão automática, sem necessidade de declaração". Um católico conservador diria que o Arcebispo nem precisaria encaminhar um processo de excomunhão, já que o fato do aborto determinaria, instantaneamente, a excomunhão de todos os que receberam os sacramentos da religião. Até os legisladores, que criaram as situações de legalidade do aborto, e quem normatizou, porque deram as condições legais para a realização do aborto, teriam cometido crime, à luz dessa norma.
Tecnicamente, com base no direito canônico, José Serra, os deputados e senadores que aprovaram a lei, o presidente que assinou, os médicos, enfermeiros, a mãe, que autorizou, todos estão excomungados. Assim sendo, pela lógica, estariam cometendo sacrilégio ao fazerem a comunhão. A excomunhão não é expulsão da Igreja, mas é colocar alguém fora do uso dos meios de santificação ou dos sacramentos que a igreja oferece. Como a eucaristia (comunhão), casamento, etc.
É livre o direito de associação, como o de religião. Exceto na Igreja Católica, onde o batismo se dá até os seis anos, por imposição da família, pois a criança não tem noção do que se trata. Não escolhe. Entra para a instituição sem conhecer as regras. Cada instituição tem as suas normas, e quem não as obedece, pode ser expulso. Ou pode pedir para sair, de acordo com o art. 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O modelo da Igreja Católica está cada vez se mostrando mais retrógrado, excluindo levas de fiéis, que procuram instituições mais atualizadas aos usos e costumes da sociedade. Ou a nenhuma delas, seja por agnosticismo (não ter religião) ou pela ausência de fé em divindades (ateus), dois grupamentos que estão crescendo bastante. Ainda mais com essa atitude de algumas autoridades religiosas, que escondem casos graves de pedofilia, abortos clandestinos de freiras, enriquecimento de seus prepostos, tentativas de imposição do estado autocrático sobre o republicano e outras coisas que remetem ao passado medieval. E que, por representarem o atraso, estão com Serra.
São eles que desrespeitam, por intolerância pregada nos seus cultos, o direito de outros grupamentos, como os espíritas e umbandistas. Pregam a subserviência da mulher, a perseguição aos homossexuais, e negaram a existência de alma aos escravos negros, aos índios e não-europeus, justificando a escravidão. Mandaram judeus para a morte na Inquisição. Atacaram os árabes e saquearam suas riquezas com as cruzadas em nome de um deus. Mandaram para a fogueira e perseguiram cientistas, impondo o atraso tecnológico de séculos. São os que dão respaldo ideológico à elite coronelista brasileira, que faz parcerias com Serra.
Para completar essa bandalheira em nome de um deus, a Regional Sul da CNBB fez uma nota contra o voto no PT e em Dilma, pregando o voto contra os aborteiros. Pela mesma linha, os religiosos, que distoando da CNBB nacional como voz autônoma em relação ao clero oficial, estão automaticamente excomungados por promover um cisma na Igreja, pregam o voto nulo, porque Serra é tão aborteiro quanto os demais, na visão estreita e retrógrada deles, com base no mesmo Código Canônico que tentam impingir aos demais.
A baixaria não tem limites. A revista VEJA, tão ligada a valores da TFP, do OPUS DEI e de coisas tão ou mais retrógradas que isso, publicou, com sensacionalismo, que Dilma foi à missa de domingo... MAS NÃO COMUNGOU! Ora, pela lógica, sendo ela aborteira, estaria impedida da eucaristia... os caras nem conhecem a legislação pela qual se colocam como inquisidores! Já Serra beijou o crucifixo em Aparecida, e mandou (manda mesmo, e nem defende) a sua esposa, a chilena Mônica Serra, levar uma imagem de Nossa Senhora para fazer demagogia com os mineiros resgatados no Chile. Grande palhaçada! Junto com Serra, podem ir para o inferno, pelo voto dos brasileiros, todos esses preconceitos arraigados que levam a sociedade à idade média. Brasileiros do século XXI : vamos fazer uma cruzada contra Serra e seus aliados obscurantistas!
charge: http://oferrao.atarde.com.br/
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Sacrilégio! Serra foi excomungado... e comungou!
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Tá. Me engana que eu gosto que Dilma é "do bem". Aguardem....
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