sábado, 2 de janeiro de 2010

Angra dos Reis (RJ) - Depois da porta arrombada...


A Globonews fez hoje bom jornalismo, e dedicou bons espaços em tempo real para o acompanhamento da crise provocada pelas chuvas na região da Rio-Santos, que atingiu Cunha (SP), Paraty (RJ) e, principalmente, Angra dos Reis (RJ), onde a cada momento se contabilizam novos mortos retirados de áreas onde houve deslizamentos de encostas. Mostrou muitas imagens, acompanhadas por um engenheiro ou geólogo da COPPE - RJ, que trabalha na análise desse tipo de riscos, e levantou informações ao vivo, permitindo avaliar melhor o que acontecia.


Também entrevistou autoridades, que disseram coisas muito importantes para identificar as causas das tragédias e para mostrar que os riscos dos moradores da região são muito maiores que se pensa. Agora há pouco o prefeito de Angra pediu o desligamento das usinas nucleares de Angra I e II (foto), porque a região está sem acessos, com a Rio-Santos interditada. Noutra entrevista, o vice-governador do Rio disse que falou com o presidente Lula e que uma proposta para evitar maiores estragos a Angra seria a duplicação da Rio-Santos até Paraty. Outra seria uma a construção de uma nova estrada ligando Resende a Angra, por conta da ampliação do parque nuclear com a construção de Angra III (o urânio é enriquecido em Resende).

Do governador Sérgio Cabral, ouvi que os deslizamentos eram fruto de muitos anos de populismo, onde se permitia a construção ou se ofereciam casas à população carente em áreas reconhecidamente de risco. E que o governo faria programas de habitação popular para minorar o problema de ocupação das encostas. E que seria necessária a revisão da política de ocupação do solo. Além dessas declarações, houve outras que reforçaram a tese da fatalidade, da chuva excessiva no período, como se tudo estivesse muito bem construido, geotecnicamente correto, e que o ocorrido foi um acidente imprevisível.

De tudo isso, fica a impressão que esperaram a casa ser roubada para reforçarem a porta arrombada. A Rio-Santos cruza uma área de instabilidades geológicas, e na sua construção, por economia, não foram feitas as obras de estabilização dos maciços que seriam necessárias a uma perfeita segurança. Será que a duplicação piorará os problemas, com a realização de mais cortes e aterros sem as devidas salvaguardas técnicas? E os planos de contingência para emergências nas usinas nucleares, continuarão reféns da péssima condição das estradas e de uma defesa civil pouco estruturada? E as eventuais soluções habitacionais eliminarão todas as construções em áreas de risco, que são muitas e bastante povoadas? Na hora da crise, todo mundo promete tudo.

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