Hoje nas sempre bem escolhidas "cartas do leitor" do jornal "O Globo" algum destaque é dado a um tipo de opinião que compara a ajuda humanitária do Brasil ao Haiti com a carência de recursos por aqui. Numa delas se diz que enquanto aqui os remédios estão mais caros "e pesam no bolso dos aposentados", estamos mandando remédios de graça para lá. Outras criticam o estado dos nossos hospitais, que estariam sendo preteridos pelo envio de médicos e equipamentos para o Haiti. Essa é a mesquinharia humana, amplificada pela mídia para tentar de alguma forma tirar uma casquinha da situação para dar porrada no governo Lula.
De longe a nossa observação fica limitada aos relatos da mídia e de testemunhas ligadas a organizações sociais daqui, e o que vemos é uma dissonância entre o que aparentemente acontece e o que se propõe. Do lado do governo federal, após a visita do ministro da Defesa Nelson Jobim ao Haiti é a vontade de reforçar o destacamento atual com mais 1300 pessoas, entre policiais, engenheiros, médicos, bombeiros e soldados, além da ajuda material em remédios e alimentos. Junto vai o interesse brasileiro em ficar bem na foto para conquistar a vaga no Conselho de Segurança da Onu e se firmar como potência regional. Parte da mídia direitista vê o Haiti como oportunidade de negócio, e a presença do Brasil como necessária para assegurar futuros quinhões, não no mercado deles, mas como plataforma de exportação para a América do Norte.
Já o "companheiro Obama" foi direto ao assunto: a ajuda americana será controlada pelos americanos, e mandou um grande destacamento militar para lá. Com razão, não confiam nas autoridades locais para garantir o acesso das pessoas aos mantimentos, que sistematicamente são disputados ora pela fome, ora para abastecer as redes de câmbio negro do crime organizado. Já de certa parte da esquerda (uns bem à "esquerda") brasileira vejo coisas incríveis para quem tenta liderar seres humanos pela sua libertação. No auge da anarquia e da barbárie, alguns propoem a imediata retirada das tropas brasileiras (e por extensão, de todos os que compoem a "força de intervenção capitalista" da Minustah) de lá, e que o povo se auto-organize para fazer a distribuição da ajuda internacional e, se possível, aproveite o clima para fazer uma revolução socialista. E para não ficar mal na foto, o Brasil deveria doar a "comitês populares" o valor do que gastaria com as tropas para ajudar na recuperação.
Dizem que é nas crises que aparecem as oportunidades para alguns de maior visão investirem para, no momento seguinte, faturar muito. No caso do Haiti, não há "ganha-ganha". Até o cônsul haitiano em São Paulo falou em oportunidade do país dele ficar "mais conhecido", num video ultrajante pelo racismo e intolerância religiosa explícitos feitos pelo SBT, disponível neste link. Se fosse na África, e não tivessemos gente nossa morrendo por lá, dificilmente estaríamos tão envolvidos. Com estamos com um pé por lá, e tem a poucos quilômetros os interesses geopolíticos dos EUA, Cuba, Venezuela, os nossos, os das gangues haitianas e de políticos corruptos que querem ser novos "Papa Docs", os perdedores serão os de sempre: os miseráveis excluidos.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Haiti : a exposição das mediocridades
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Menos Branquinho, menos... Quem conhece os EUA que os compre... Cuba corre sérios riscos por seu gesto humanitário de permitir o uso do seu espaço aéreo para os aviões americanos... Conhecendo a política americana como todos conhecemos, os EUA desembarcando tropas em jardim do Palácio em Porto Píncipe e ocupando o país, não demora a instalar ali uma base americana a assombrar Fidel e Raul... Quem viver, verá...
ResponderExcluirIsa Musa de Noronha