No início dos anos 60 ainda era bem viva a memória da Segunda Guerra Mundial, da qual o Brasil participou com a Força Expedicionária Brasileira e a Força Aérea Brasileira, deixando em solo italiano 465 mortos no cemitério na cidade de Pistóia, a cerca de 30 km de Florença. Tinha vizinhos e professores que combateram, e falavam das campanhas no centro-norte da Itália, em batalhas como Montese, Monte Castelo, Fornovo, etc. E do cemitério dos mortos brasileiros em Pistóia.
Para quem não sabe, o Brasil declarou guerra em 1942 aos países do Eixo - Alemanha, Itália e Japão - a partir de uma campanha popular, mesmo em plena ditadura Vargas, simpatizante do fascismo de Mussolini, onde se destacaram os comunistas, interessados em enfraquecer os nazistas que dizimavam milhões de soviéticos no front russo. Navios mercantes brasileiros foram afundados no litoral do nordeste, possivelmente por submarios alemães (há controvérsias e quem diga que foram os próprios americanos para afastar Vargas do Eixo).
O Brasil estava despreparado para a guerra, e só conseguiu mandar uma divisão para a Itália, para ficar sob comando dos norte-americanos, que tiveram que prover a tropa com alimentos, agasalhos, armas, etc. Quem estava melhor era a FAB, cujos pilotos já participavam de treinamentos com americanos no Panamá. Era uma grande contradição política a participação brasileira, o que talvez explique o atraso no envio de tropas: um governo fascista combatendo outros fascistas.
Quase 20.000 brasileiros foram mandados à Itália, entre soldados e oficiais, aviadores, enfermeiras, e até funcionários do Banco do Brasil para fazer os pagamentos. Participaram de batalhas que foram verdadeiras pedreiras, tomando bunkers de alemães em colinas. Relatos que ouvi quando criança também diziam que os brasileiros eram mandados pelo comando americano para as missões mais sujeitas a baixas, poupando o pessoal deles. A FAB participava do bombardeio das linhas de suprimento, que levaram à inanição toda uma divisão alemã que acabou se entregando aos pracinhas, num total de 17.000 homens. Na região também há cemitérios de alemães e americanos.
Fiz questão de ir ao local, apesar de não ter placas indicativas e ter dependido de GPS e do Google Earth, para ver o Monumento Votivo e ver como estava a memória da participação do Brasil 65 anos depois do fim do conflito. Tudo estava muito bem cuidado, até a pira, mantido por um funcionário do Itamaraty que vem a ser filho de um sargento brasileiro com uma italiana. No escritório, o livro de registro mostrava o aumento do número de brasileiros visitantes, e tinha muitos materiais didáticos, inclusive em italiano. A foto do presidente brasileiro estava desatualizada, estando Lula na parede.
Segundo o funcionário Mário, está aumentando a frequência de brasileiros na visita ao local. Também vão por lá italianos e pessoas de outras nacionalidades, para prestar homenagens. Os italianos da região, em especial, têm apreço aos brasileiros que foram além da luta pela libertação dos nazi-fascistas, prestando ajuda humanitária.
É um pedaço de Brasil que merece ser lembrado, para que o fascismo e o nazismo nunca mais prosperem em terras brasileiras. Terminada a guerra em 1945, o povo derrubou a ditadura Vargas. A lição, entretanto, não foi totalmente aprendida. Em 1964, vários dos militares que participaram da luta anti-fascista participaram da implantação de uma nova ditadura fascista no Brasil. Este monumento, assim como o dos mortos da 2a guerra no Rio, devem ter seus significados políticos bem claros para as futuras gerações, e não servir apenas de patrimônio corporativos das forças armadas.
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