A prisão do traficante Nem, que aterrorizou as comunidades da Rocinha, do Vidigal, que matou e mandou matar muita gente, que esculachou moradores e até outros bandidos, que corrompia deus e todo mundo, é uma notícia excepcional no Rio. Sua queda, e de outras lideranças do seu bando, mais a estratégia da polícia de sufocamento da sua facção em outras comunidades, acende a esperança de livrar a Rocinha e o Vidigal de uma histórica ditadura do tráfico.
Nas ruas comenta-se de tudo. Hoje parei em frente a uma banca de jornais e, como sempre, tinha um grupo comentando as capas dos jornais. A prisão do Nem estava em todas, com direito a esculachos e tudo. O primeiro comentário inquietante foi sobre a foto do cabo da PM que teria recusado a propina de R$ 1 milhão, mostrando a sua casa, e o próprio, com uma camisa do Flamengo. Logo percebi que o grupo era anti-flamengo, porque todos duvidavam da honestidade do policial por conta da camisa. Fiquei na minha. Um dos homens falou que o policial seria um babaca, porque se fosse ele, pegava a grana e soltava. Os outros foram na mesma linha. É aquela estória : ética e honestidade é coisa para os outros.
A outra polêmica foi a que envolveu um delegado da polícia civil de Maricá, município situado a 50 km do Rio, chamado pelo advogado de Nem enquanto ele ainda estava oculto no porta-malas do carro e não tinha ocorrido a proposta de propina ainda. O delegado chegou lá querendo tomar a frente do processo, para levar o carro até a delegacia da Gávea, etc. Nisso o advogado faz ao PM a proposta de dinheiro, recusada, e é dada ordem de prisão por tentativa de suborno. Isso tudo com um dos passageiros do carro de Nem dizendo ser diplomata e dando carteirada.
Tudo muito esquisito. Depois apareceu um superior da Polícia Civil, dizendo que aquilo foi ordem dele, que estava negociando a rendição do Nem, mais uma estória entre tantas outras mal contadas envolvendo a prisão de Nem. O secretário de Segurança Beltrame disse que não entendeu a intromissão desses policiais no caso.
Na cadeia, Nem disse que metade do que apura é para pagar propinas à polícia. Palavra de bandido não é coisa que se acredite, mas é bastante razoável entender porque tinha policiais civis fazendo a escolta de outros bandidos do seu grupo, e o interesse de tantos policiais em "protegê-lo".
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