Itamar era vice de Collor, fazia parte do PRN, mas divergia dele publicamente. Talvez por isso tenha-se criado em torno da sua pessoa a idéia de ter diferenças políticas, e tenha-se esfriado o movimento Fora Collor, que pedia novas eleições, partindo-se para o acordo de elites que lhe deu posse. O PT foi contra a composição, e chegou a punir a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que aderiu ao seu governo.
A "solução Itamar" evitou que houvesse novas eleições e Lula pudesse vencer. No seu governo foi concluída a privatização do setor siderúrgico a preço de banana, e a entrega da Embraer ao capital privado. Apesar de Itamar ser contrário às privatizações, sendo contrário à venda do BB, Caixa e Furnas, o processo não parou, pois teve no seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, o contraponto do entreguismo. Seu ministro da Saúde, Jamil Haddad, lançou os medicamentos genéricos, cuja paternidade foi usurpada por José Serra anos depois.
Também no seu governo teve início o Plano Real, que zerou a inflação como em planos anteriores, ao custo de arrochos salariais, mais privatizações, desnacionalização da economia, desemprego, etc. E permitiu eleger FHC, que continuou a sua "obra". A estabilidade econômica, tão presente nos bicos tucanos, começou no seu governo, não no de FHC.
Itamar morreu com a mágoa da ingratidão de FHC e da mídia que escreveu a história dando ao seu sucessor os créditos pelos "avanços" do seu governo, deixando a ele o folclore da República do Pão de Queijo, do topetão, fusquinhas, namorada sem calcinha, etc.
A cobertura da TV em cima da notícia da sua morte fala da "delegação dele" a FHC para desenvolver o Real, além de encher a bola da sua postura pessoal, da sua importância na transição pós-Collor livrando a barra das elites, etc. A mídia tem que tomar o cuidado de não deixar FHC nu, ao rever a história do governo Itamar. Nas próximas horas, a presidente Dilma deverá decretar o luto oficial e verterá algumas palavras elogiosas de praxe ao finado. Há poucos dias, Dilma fez os mesmo elogios "post mortem" a FHC, mesmo estando ele vivo, quando dos seus 80 anos.
Engenheiro civil, baiano no registro, radicado em Juiz de Fora (MG), Itamar tinha postura aparentemente idônea, o que facilitava os acertos entre as elites em torno do seu nome. Mesmo com fortes críticas a FHC e Serra, elegeu-se senador nas últimas eleições pelo PPS, partido satélite do PSDB, em chapa junto com Aécio Neves (PSDB). Quando foi governador de Minas, de 98 a 2002, comeu o pão que o diabo amassou tendo FHC como presidente, a quem se opunha.
Selecionei a entrevista deste link, dada ao jornalista Mauro Santayanna, do Jornal do Brasil, em junho de 2010, onde desce a ripa nos seus "filhotes" e aliados, Serra e FHC. Apoiou Serra na eleição passada, e fazia oposição a Dilma, sempre fiel a uma visão conservadora do poder.
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