quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Maratona Báltico 2013 - 004 : Giro a pé em Estocolmo - parte 1

A viagem, o jet lag e uma caminhada de 5 km de ontem cansaram. Acabamos acordando no horário normal daqui. Há muito tempo não dormia por 10 horas seguidas. Como estamos comendo em casa, levando sanduíches para o passeio, e ainda registramos tudo (diário, blog, contabilidade, etc), acabamos saindo ao meio-dia.

Tomamos o rumo do centro da cidade. As ruas de Kungsholmen onde andamos são largas, limpas e com pouco tráfego, mesmo a principal, que vai para Eriksplan. "Plan" por aqui é "praça", assim como "gatan" é "rua" e "vägen" é avenida. Em Estocolmo não se anda muito sem cruzar uma ponte, pois é uma cidade feita de ilhas interligadas. Ponte é "bron".

A primeira impressão é de familiaridade. A arquitetura dos prédios é original, diferente de outros países, mas tudo parece ser do século XIX para a frente. Até porque a cidade teve seu núcleo original em Gamla Stan (cidade velha ou antiga) e se espraiou por uns 2 km até onde começamos a jornada. Meio arquitetura alemã, meio russa, mas diferente.

Pelo caminho fomos vendo o comércio e principalmente tranquilidade. Sem muitos veículos nas ruas, parques cheios de crianças pequenas e, o mais interessantes, sob cuidados paternos. Áreas mistas, de prédios residenciais (não havia casas), prédios de uns 6 andares, tipo Brasília em gabarito. Passamos por várias estações de metrô, que serve bem à cidade com várias linhas e um preço salgado para nós, de uns R$ 8 por trecho.

Outro motivo para ruas vazias é a falta de locais para estacionamento e, segundo soubemos, as multas por estacionamento proibido são muito altas e ainda há um sistema de pedágio no centro da cidade. Quando os veículos passam de um certo perímetro as câmeras do sistema capturam os dados da placa e depois a conta vai para a casa do proprietário.

Uma primeira impressão sobre as pessoas, majoritariamente brancas e louras, é que o povo é alegre, fala pelas ruas e faz barulho. Muito latino para quem só vê no Brasil essas pessoas como turistas. Aqui é diferente: a gente não sabe quem é turista porque todo mundo se parece com os gringos que nos visitam. E nós somos facilmente assimilados por eles, porque a Suécia é um país multicultural, e durante décadas acolheu imigrantes de várias partes do mundo.

Pelas ruas se vê gente de origem indiana, chinesa, africana, latinos e outras minorias com bastante frequência. Para um povo descendente dos vikings, que na literatura e no cinema aparecem como pessoas gigantes e fortes, com mulheres corpulentas, aqui não tem nada disso. Parece que todo mundo faz academia, não vimos gente obesa. Mais mulheres que homens fumando. Parece não haver restrições a fumo nos restaurantes.

Em relação à disciplina, aqui prevalece o bom senso. Há faixas de pedestres sem sinal onde ao pisar no chão da rua os carros devem parar. Há faixas com sinal, onde nem sempre as pessoas esperam dar sinal verde para passar. Não é comum atravessar fora das faixas, observamos. Joga-se guimbas de cigarro no chão, mas não há lixo.

Aqui e ali se vê uma pessoa mendigando nas ruas dentro do "padrão europeu": sentadas no chão com um potinho à frente, sem falar nada, olhando para o chão, silenciosas. Nada de trapos. Pessoas vestidas de tal forma que poderiam andar sem ser notadas. Há catadores de lixo, também normalmente vestidos, que levam os materiais coletados a supermercados onde trocam latas, garrafas e pet em máquinas por tickets que dão créditos nas compras.

Sendo horário de almoço pudemos ver os hábitos dos trabalhadores do centro da cidade. Fast food parece não fazer sentido a não ser pelo preço, porque aparentemente as pessoas comem com muita calma. Há bastante bancos nos parques e praças, tudo bem cuidado. Não vimos nada parecido com pratos fartos de calorias, no máximo pizzas. Há bastante culinária italiana e indiana, alguma japonesa e tailandesa, poucos Mc Donalds e Subways. Não vimos nenhum Starbucks nessa caminhada de ontem. Encontramos pratos prontos até na faixa de R$ 15 (isso é mínimo).

Pelo caminho havia também algumas barraquinhas em grupos tipo feira. As frutas estavam mais baratas que nos supermercados onde já andamos, mesmo caras em relação ao Brasil. O que mais se aproxima é o preço da maçã. Bananas da Costa Rica são vendidas a SEK 16, uns R$ 5,5 o quilo. Muitas lojas de flores também, com preços visíveis na faixa dos R$ 20 para boa parte dos arranjos.

Chegamos à Sveavägen, que é a principal avenida do centro, cortando a cidade de norte a sul por uns 3 km. Tipo Av. Rio Branco, no Rio. Subimos ao observatório numa elevação de onde pensamos poder ver a cidade de cima, mas o morro é cercado de árvores e pouco se vê. Além do mais está a poucos metros acima do topo dos telhados.

Seguindo essa avenida encontramos um supermercado COOP. Diferente pela variedade de produtos orgânicos que oferece ao lados dos outros sem pedigree. Os preços entre os dois tipos podem variar muito. Serviu para dar mais uma ilustração do custo de vida e confirmar tendências que já vimos em outros lugares. Compramos coca de 600ml por cerca de R$ 5. Preço normal por aqui.

Mais adiante entramos na loja estatal Systembolaget, que vende bebidas de maior teor alcoólico e também cervejas. Os vinhos estão no preço do Brasil. Usamos sempre em viagens como produto mundial para comparação o Concha Y Toro tinto. Tem em tudo que é lugar, como o Big Mac. Para whisky é o Johnny Walker red, vendido por aqui na faixa dos R$ 80. Mais caro. No setor de cervejas encontramos preços melhores que os dos supermercados, na faixa dos R$ 4 para latas e garrafas de 350ml, contra R$ 4,5 ou R$ 5 nas outras. E bem melhor que nos restaurantes, na faixa dos R$ 12 a R$ 15.

Vimos também o sistema municipal de locação de bicicletas. Muito simples: adquire-se um cartão recarregável na rede de lojas de conveniência Seven Eleven ou outros pontos indicados na placa onde se passa o cartão e o sistema debita o valor da locação e indica num estacionamento ao lado a bicicleta que deverá pegar. Ela fica ancorada a uma barra e é liberada com o pagamento. Deve ser devolvida a qualquer ponto do sistema em 3 horas obrigatoriamente. O cartão para 3 dias custa SEK 165, uns R$ 55. Pode-se pegar bicicletas o dia todo, mas sempre por no máximo 3 horas de uso.

Numa imobiliária vimos que o preço de qualquer apartamento pequeno por aqui custa mais de R$ 1 milhão. Preços superiores a Brasília ou Rio de Janeiro. Uma coisa intrigante, já que se pode dispor de apartamentos alugados pela Prefeitura na base de R$ 2 mil para 100m2 em algumas áreas próximas ao centro.

Continuando a caminhada encontramos uma curiosa rua Tunnelgatan, que termina no pé de um morro tipo Santa Teresa, no Rio. Entramos por ela e descobrimos que entre escadarias há um túnel de pedestres e bicicletas bastante longo até a uma outra rua. Fomos por ele e subimos a escadaria do morro vendo logo uma enorme igreja em estilo gótico em meio a um jardim cheio de sepulturas antigas. Sentamos num dos muitos bancos ao lado dos túmulos para comer um sanduíche feito em casa.

A igreja de St Johannes não é muito antiga, mas bastante original em relação ao que já vimos por aí. A Suécia era um país oficialmente luterano até poucas décadas atrás. Logo se nota a ausência de quaisquer santos ou altares secundários. Belíssima, muito alta e pacífica. Fotos permitidas. Poucos turistas anotados no livro de visitas. A Igreja da Suécia aderiu à reforma luterana em 1527, e é a primeira do mundo a admitir bispos gays e fazer casamentos de homossexuais.

Começou a chover de repente, e no resto do dia e desde ontem vimos um padrão climático que lembra o tempo maluco de Florianópolis. Do sol com calor até a chuva com vento gelado e tudo voltando ao normal é coisa de 20 minutos. Tira casaco, bota casaco, abre guarda-chuva, corre prá marquise. O povo daqui parece que não se importa muito. Andam na chuvinha numa boa. Quando vimos esse clima doido e o povo  louro caiu a ficha: isso aqui é tipo Floripa, só que com prédios antigos.

Chegamos ao centro da cidade, com comércio mais concentrado em shoppings e galerias, já em cima do Centro de Cultura, junto à estação central do metrô. Por coincidência na mesma semana que escolhemos para visitar Estocolmo está havendo o Festival Cultural com atrações simultâneas em toda a área central. Fica para o próximo post, porque já são 11h e há muito o que andar hoje.

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Um comentário:

  1. Chega a provocar inveja a nós, brasileiros, não somente as facilidades e benfeitorias públicas mas, principalmente, o comportamento educado e cortês de povos do dito primeiro mundo. Parar o automóvel quando o pedestre "ameaça" pisar na faixa, jamais jogar lixo no chão (pontas de cigarro, perto do nosso lixo, tornam-se invisíveis), cuidar do bem público como se seu patrimônio pessoal fosse e outros gestos comuns a esses povos estão longe de se tornar costume em nossa querida e maltratada pátria. Mudar o comportamento de um povo, conduzir uma revolução cultural e comportamental é um desafio para as novas gerações e creio que isso já está acontecendo, mas de forma tão lenta que acredito que nem meus netos serão testemunhas de um Brasil realmente civilizado, honesto e solidário. Resta o consolo de saber que as grandes transformações, exatamente por serem demoradas e conquistadas a duras penas, são também mais consistentes.

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