No Brasil se fala muito do "padrão sueco" de fazer política como uma utopia diante dos péssimos exemplos que vemos. Os números ajudam nisso: o "ìndice de democracia" proposto pela revista inglesa The Economist indica que quadro países nórdicos são os mais "democráticos" do mundo. Pela ordem: Noruega, Islândia, Dinamarca e Suécia, considerados "democracias plenas". O Brasil, classificado como "democracia imperfeita", está e 45o na lista. Essa classificação é uma espécie de segunda divisão da democracia.
Pelos critérios da revista, segundo a Wikipedia, são analisados "o processo eleitoral e pluralismo, as liberdades civis, o funcionamento do governo, participação política e cultura política. De acordo com a Economist Intelligence Unit Democracy Index 2011, a Noruega marcou um total de 9,80 numa escala de zero a dez, que foi o maior resultado, enquanto a Coreia do Norte teve a menor nota, com 1,08.1 Os países são classificados em "democracias plenas", "democracias imperfeitas", "regimes híbridos" (todos considerados democracias) e "regimes autoritários" (considerados ditatoriais). A The Economist avalia os países em cinco critérios (processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis), com notas que vão de 0 a 10."
É evidente que a visão de democracia de uma revista econômica liberal também tenderá a premiar países capitalistas mesmo com distorções na estrutura social de classes. E até mesmo minimizar, ao nosso ver, o anacronismo desses países terem monarquias de fachada, constitucionais, opulentas, mantidas pelo estado. Democracia, ano nosso ver, não é transparência eleitoral: passa pelo bem-estar do povo do país e pela sua participação direta nas decisões, não apenas no voto em representantes ou no número de partidos.
Coincidentemente dos quatro primeiros países da lista da The Economist aó a Islândia não é uma monarquia constitucional, e são países capitalistas de baixa regulação para os negócios (os quatro países citados estão entre os 20 melhores para fazer negócios, segundo a revista norte-americana Forbes). Já a Transparência Internacional ranqueia novamente os países nórdicos entre os primeiros de menor percepção de corrupção. Quando falamos em distribuição de renda e desenvolvimento humano, lá estão os países nórdicos novamente no topo da lista dos melhores.
A questão é : onde foi que eles acertaram e nós erramos? Em 4 dias de extensas andanças por Estocolmo não vimos praticamente nenhuma coerção do Estado sobre as pessoas na forma de lembretes de legislação, placas de "proibido", policiais em ronda, seguranças nos estabelecimentos e mesmo controles em diversas situações que para nós brasileiros seriam inacreditáveis.
Ninguém joga lixo no chão por medo de punição. Idem sobre furar fila. Esqueci uma câmera no balcão de uma loja e vinte minutos depois retornei e ela estava lá, no mesmo lugar, e a funcionária me pediu desculpa por não ter visto e me alertado. Não tem praticamente câmeras de vigilância, nem no museu do tesouro real. Nem revista de bolsas. Detetor de metais? Só vimos no aeroporto. Aí vem uma pista: o político não tende a roubar porque as pessoas são indivíduos honestos. Isso vem da formação.
Aí vem outra pista: desde o século XVI (na Suécia, 1522) os países nórdicos romperam com a igreja católica de Roma e seguiram Lutero na reforma protestante. O Luteranismo cresceu questionando a corrupção, o autoritarismo e a corrupção da Igreja Católica. Nesses países virou religião oficial. Na Suécia até o ano 2000 estava na lei a ligação entre igreja e estado. Seria correto dizer que países de formação luterana tenderiam a mostrar pessoas com melhores valores?
Isso é uma coisa a pesquisar, mas o fato é que na Suécia hoje 85% da população declaram "não crer em um deus" ou "não ter religião". Considerando-se que houve no pós-guerra uma forte imigração de poloneses católicos e de árabes islâmicos, o povo sueco originário parece não ter mais tão forte ligação com a religião, embora mantenha sua cultura. A Noruega vem na lista em terceiro com 80% e a Dinamarca em quarto, com 72%. Em segundo está o Vietnã, e mesmo assim a pesquisa "Ateísmo: Taxas e Padrões Contemporâneos, do sociólogo norte-americano Phil Zucherman considerou o budismo e o taoísmo como tradições e não como religiões. A Finlândia está em sétimo.
A questão continua e será alvo de novas observações.
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