A comitiva de Lula que viajou a Israel, Palestina e Jordânia tem como objetivo maior a busca de negócios, daí ter levado uma delegação de empresários que, de olho na vigência de um acordo comercial entre o Mercosul e Israel a partir de 4 de abril. Na política internacional, Lula tem um trunfo único nas mãos, que é o de ser o único líder de potência ocidental em condições de conversar com Israel e o Irã e tentar abrir canais de negociação. O problema é o momento da visita.
De um lado, fica difícil de engolir que o primeiro-ministro Netanyahu desconhecia que, enquanto recebia em clima amistoso o vice-presidente americano Joe Biden, seu ministro do interior autorizava a construção de 1660 casas em territórios palestinos de Jerusalem. Os americanos são praticamente os únicos aliados incondicionais de Israel no mundo, e se sentiram insultados e mesmo golpeados com essa aparente provocação, como um recado para dizer que Israel não quer a paz. Se foi esse o sentido, e não uma trapalhada de governo inepto, conseguiram o resultado: uniram os inimigos contra Israel, seja na dividida Palestina (Fatah e Hamas), nos países árabes e até na comunidade européia. Como resposta, Ahmadinejad fez duro discurso pregando a aniquilação de Israel.
A estratégia brasileira é de simbolizar a simetria entre os conflitantes da Palestina. Fará em Israel o mesmo que na Palestina, dedicando igual tempo. Homenagerá Ytzak Rabin e Yasser Arafat, que foram as lideranças que mais se esforçaram pela paz na região. Conversará com os governistas e oposição em Israel e com o Fatah e o Hamas na Palestina. Evitará provocações tanto da direita israelense, que quer comprometer através de homenagem ao fundador do sionismo, Theodor Herzl, e do fundamentalismo islâmico, pelo lado palestino. O problema é que em Israel a direita aposta no confronto com o Irã, e na Palestina, o Hamas e seus patrocinadores apostam no confronto com Israel.
Lula tem larga experiência em negociar em clima de guerra, e de juntar polos opostos, como é a Babel do seu governo. Uma coisa é latifundiário contra MST, ou patrão contra trabalhador em greve. Outra é o Oriente Médio. Lá as pessoas têm na história de vida as sequelas de lutas onde perderam parentes, amigos, história, coisas que não se esquece, mas se pode tolerar em níveis civilizados, desde que haja gestos de justiça. A desistência da construção das casas no lado palestino seria um gesto da parte de Israel. O reconhecimento de Israel pelo Irã seria outro passo. Lula vai se queimar de todo jeito, mas vai tentar. Talvez seja a última chance civilizada de tentar avançar num processo de paz na região, antes que o primeiro cometa uma insanidade.
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