quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Reflexões sobre o ranking dos PIBs

O PIB não é uma medida exata de riqueza. O que é para ser "a soma monetária de todos os bens e serviços produzidos numa região num espaço de tempo" deixa de considerar danos ao meio-ambiente, não indica nada sobre distribuição de renda, o mercado informal, as transações clandestinas, o crescimento de longo prazo, etc. Seu cálculo parte de informações colhidas por órgãos governamentais em toda a economia, o que nem sempre condiz com a verdade, pois há práticas de sonegação que falsificam os valores.

Então, para que serve o PIB, e que credibilidade há no "ranking de PIBs" do mundo, onde o Brasil acaba de passar o Reino Unido, chegando ao sexto lugar, e já  ameaça a França em quinto, podendo passá-la até 2015? O cálculo é complexo, mas dá alguns indicadores sobre a rápida ascensão da economia brasileira. Pode ser calculado pela ótica da despesa, da procura ou dos rendimentos. Considero o cálculo pela despesa mais fácil de entender, porque os componentes da fórmula são mais simples. Nesse caso o PIB é a soma das despesas em bens e serviços finais, desconsiderados os gastos intermediários de cada cadeia produtiva. É basicamente a soma das despesas em consumo de pessoas e governos (inclusive em bens importados) e em investimentos de empresas.

No Brasil temos um cenário onde todas essas componentes estão em expansão. Pelo lado dos europeus em crise, o que se vê é a drástica redução das despesas de pessoas, de governos e de investimentos das empresas. O Brasil então passou os outros porque eles frearam? Não só por isso: acelerou enquanto outros pisaram no freio, daí a maior velocidade relativa na ultrapassagem.

A India e a Rússia vêm logo atrás. A China já passou o Japão e está em segundo lugar. Considerando-se que o crescimento brasileiro, salvo alguma tragédia econômica mundial, parece seguir uma trajetória sustentável, e que a Europa queimará suas riquezas por um longo tempo, a continuidade da ascensão é praticamente garantida.

Na mídia o que se vê é a notícia da aceleração brasileira a contragosto, com um "mas" no final, que é o PIB "per capita", que nada mais é que o PIB dividido pela população. Uma indicação muito falha da riqueza, pois nada diz da distribuição por cada um. Nas médias é assim: se eu como dois sanduíches e você não come nada, em média cada um comeu um sanduíche.

Quem vai dizer mais sobre a qualidade da riqueza de um país é a distribuição de renda, medida por índices como o de Gini, que mede a relação entre a renda dos 20% mais ricos sobre os 20% mais pobres. Segundo o IBGE, "a razão entre a renda familiar per capita dos 20% mais ricos e a dos 20% mais pobres mostra tendência de redução nas desigualdades. Em 2001, os 20% mais ricos recebiam em média 24,3 vezes mais que os 20% mais pobres, e essa relação caiu para 17,8 em 2009". A nova classe média emergente é resultado disso, e algumas razões são o aumento real do salário mínimo bem acima da inflação e os programas de renda mínima, como o Bolsa Família.

O PIB "par capita"  também não diz muito sobre as desigualdades regionais, sobre as desigualdades das rendas de famílias dependendo de escolaridade, grupo étnico, gênero, etc. Se um país não tiver crescimento do PIB superior ao da população, o PIB "per capita" também cairá, mesmo com o país crescendo.

A notícia é boa para nós porque estamos crescendo e dividindo o bolo, diferentemente do tempo do "milagre econômico" da ditadura, onde Delfim Neto era Ministro da Fazenda e dizia que "primeiro o bolo tem que crescer para depois dividir". Essa redução de diferenças ainda é muito pequena, se considerarmos que o Brasil tem uma das maiores concentrações de renda do mundo. Mas já se nota diferenciação de crescimento de regiões mais pobres em relação à média nacional. E um tapa na cara dos adoradores de FHC, considerando que Lula recebeu o governo com o PIB brasileiro tendo caído de oitavo no governo Itamar para décimo quinto no governo FHC e hoje está em sexto com Dilma.

Apesar dos avanços, e da perspectiva de termos um PIB "per capita" em padrões euroeus em 20 anos, o caminho é muito longo e esse crescimento precisa de uma grande melhora na qualidade. Uma matéria da BBC compara a distância do Brasil em relação aos países de melhores condições de vida, e mostra que estamos muito aquém de chegar aos melhores padrões.


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