segunda-feira, 7 de março de 2011

Líbia : a guerra de Brancaleone?



A contra-ofensiva das forças leais a Kadafi mostra, a julgar pelas informações da mídia ocidental, que o caudilho não conta com militares de boa qualidade. Do lado dos revoltosos, a eficiência é maior, mesmo com menos recursos, já que contam com o apoio de populações das cidades que ocupam, e os apoiadores de Kadafi parecem abandonar o terreno sem luta. Parece que os melhores generais de Kadafi são os que desertaram, pois conseguem transformar caminhonetes em veículos leves de combate, e fazer de civis verdadeiros guerrilheiros.


Uma batalha me chamou a atenção em especial: a pelo controle do porto que tem os principais terminais petrolíferos. No Google Earth, medi o tamanho da área em disputa: cerca de 1 x 1 km, com boa vontade, correspondente à área residencial e comercial da cidade de Marsa El Brega. O restante da área contígua é de tanques de armazenamento de óleo e instalações portuárias. O Complexo do Alemão, no Rio, com 200 mil habitantes, tem pelo menos o quádruplo dessa área, onde moravam, em tempos de paz, cerca de 15 mil pessoas. No entanto, ambos os lados afirmam ter o controle da região, que é estratégica para o controle da exportação do petróleo.

Nas imagens de TV, as emissoras ocidentais preferem ficar do lado dos revoltosos, e nunca é mostrado o lado dos governistas, que contam com a maioria dos tanques, artilharia pesada, aviões, munição, armamentos leves, marinha e possivelmente as tropas da capital mais a guarda de elite de Kadafi. Tudo isso contra bandos armados, mal treinados, de logística duvidosa até para se alimentarem, com os restos de munição que tomaram dos quartéis, alguma artilharia anti-aérea e tanques que algumas imagens mostram estar nas mãos de gente que fica brincando de dar cavalo-de-pau.

Do lado do Kadafi, a vacilação é grande. Não aprenderam a fazer ataques cirúrgicos, ou mesmo grosseiros, contra as linhas de abastecimento dos revoltosos. Na Líbia a água disponível na natureza está quase toda na região de Trípoli, enquanto Benghazi e outras cidades nas mãos dos revoltosos dependem de usinas de dessalinização e poços profundos, facilmente bombardeáveis. A energia vem praticamente toda de termelétricas, com linhas de transmissão que podem ser bombardeadas. Praticamente só existe uma estrada ligando todas as grandes cidades, que também pode ser interrompida, forçando os revoltosos a andar pela areia.

Quem tem superioridade aérea não vacila com essas coisas, a não ser o incrível exército Brancaleone de Kadafi. Daí o outro lado reivindicar a criação de uma zona de exclusão aérea. Do outro lado, mais Brancaleone, aquele personagem de um filme italiano, interpretado por Vittorio Gassman, que liderava um exército de esfarrapados na idade média em busca de um feudo. Ou a incompetência assola nos desertos mais que tempestades de areia, ou a mídia não está contando a história direito.

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