Hoje recebi um manifesto para subscrever e enviar ao Conselho de Segurança da ONU pedindo a aprovação da zona de exclusão aérea na Libia, como forma de evitar a superioridade militar do governo de Kadafi sobre os rebeldes. A iniciativa é importante em apoio aos que lutam contra a ditadura pró-imperialista, e pode ser até que a ONU tome essa decisão.
Isso se os Estados Unidos mudarem de postura, pois dizem que para essa proposta ter sucesso, é necessário o ataque a bases em terra, e aí o envolvimento já tomaria outra envergadura. Os EUA também se recusam a armar os rebeldes alegando que não conhecem as lideranças da oposição o suficiente para assumir tal responsabilidade. Obama está escaldado por duas guerras sem futuro, caras, e não quer começar outra. Se fosse só isso, seria razoável.
O que parece é que o ocidente está lavando as mãos para o destino do povo líbio. Estão mostrando um pudor que não tiveram quando atacaram o Iraque e o Afeganistão. Será que Kadafi conseguiu sensibilizar os governos europeus e americano para a defesa do seu governo, por ser contra a Al Qaeda e para evitar o descontrole de imigrantes ilegais para os países desenvolvidos, podendo levar a reboque o aumento do terrorismo?
A cumplicidade cínica do ocidente com Kadafi parece apostar que ele "resolva" logo o problema, em poucos dias, evitando maior comprometimento, daí os adiamentos de reuniões da OTAN, ONU, e as sanções superficiais. Depois, faz-se o jogo de sanções, mas continua-se comprando petróleo, que é o mais importante.
Se a África e o Oriente Médio não tivessem petróleo, os capitalistas nunca pisariam por lá. Não haveria Israel, nem os monarcas bilionários, nem a Al Qaeda, nem terrorismo. Pouco importaria se aquelas terras áridas fossem governadas por déspotas militares e / ou religiosos. Como cada vez mais o petróleo está escasso, as potências precisam fazer malabarismos para manter o fluxo de exploração constante.
As reservas mundiais de petróleo estão quase todas nas mãos de regimes totalitários, ou quase isso, como a Rússia, Arábia Saudita, Venezuela. O Brasil é exceção, por enquanto, pois ainda não entrou no mercado com o pré-sal. As reservas dos EUA e do Mar do Norte estão em decadência. O grande fiel da balança é o regime saudita, que detém a maior produção mundial. Enquanto os EUA tiverem no poder da Arábia Saudita governantes submissos, a cada ameaça de boicote de algum país os sauditas abrem as torneiras e mantém o fluxo, e regulam os preços do petróleo.
A manutenção dos regimes submissos nos países produtores de petróleo é estratégica para o capital. Se a OPEP não fosse controlada a partir dos governos de marionetes, o cartel já teria levado o petróleo para níveis acima dos US$ 150 por barril, já que o produto que vendem está cada vez mais escasso e não é renovável. Se, de um lado, o ocidente quer parecer defensor dos fracos e oprimidos e baluarte da democracia, ao mesmo tempo quer que tudo continue como está, para não sofrer com uma nova crise do petróleo.
Enquanto isso, o povo líbio vai levando tiros, bombas, mísseis e sendo atropelado pelos tanques de Kadafi. Os grupos de oposição, ingenuamente, acreditam no apoio do ocidente para vencerem o conflito. Como têm forte heterogeneidade interna, não conseguiram se mostrar confiáveis como alternativa de poder a Kadafi.
Não aceitam receber enviados dos países do ocidente, dão ultimatos risíveis a Kadafi para deixar o poder em 72 horas, e estão perdendo terreno a cada dia com o corpo-mole dos países ditos democráticos no apoio militar. São sérios candidatos à aniquilação, porque fica difícil acreditar que se Kadafi triunfar, será magnânimo com os que o combateram.
A quem então apelar? Onde estão os opositores dos vizinhos Egito e Tunísia, que começaram o movimento de revoltas árabes? A resposta é que ambas as revoltas derrubaram governos, mas não arranharam o domínio ocidental sobre o poder constituído. Saíram os ditadores, entraram as juntas militares. Se efetivamente o povo estivesse no poder nesses países, não haveria a indiferença que hoje condena as oposições da Líbia ao massacre impiedoso.
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